Desde pequena que tenho medo de trovoadas.
Há bastantes dias que o nosso país vai estando sob
nuvens pesadas e ameaças de relâmpagos e trovões, sobretudo no Norte. O que
vale é que há pedaços do dia e do céu onde brilha o azul e o sol.
Ontem ao fim da tarde, o céu carregou-se de nuvens
negras que desabaram em forma de chuva, granizo e trovoada. A natureza,
ameaçadora, parecia clamar a sua existência.
De vez em quando, eu entreabria a porta para ver se
os céus se acalmavam. Mas não. O negrume ia rodando, tomando conta dos
diferentes pontos cardeais. De vez em quando, aparecia um breve arco-íris.
E lembrei-me do livro que tinha lido durante a
tarde: Breviário das almas de Joaquim
Mestre – um belíssimo retrato da vida num monte do Alentejo, em meados do século
XX.
O livro vai-se tecendo sob forma de contos que, no
final, revelam uma unidade.
E, curioso, a narrativa inclui uma oração a Santa
Bárbara “para a tempestade se afastar”. Mal sabia eu que a tempestade se
aproximava.
Oxalá hoje os céus estejam mais calmos. De outro
modo, lembrar-me-ei, com certeza, das palavras que são transcritas na obra (da
editora Oficina do Livro):
“santa bárbara se descalçou, seu caminho foi
seguindo, jesus cristo a encontrou, e lhe perguntou, aonde vais, bárbara? Vou espalhar
esta trovoada… espalha-a lá, para bem longe, onde não haja eira nem beira, nem
ramo de figueira, nem galo nem galinha, nem gadelinha de lã, nem alminha de
cristã”).
E agora digo eu:
Vá lá, Santa Bárbara,
Nada de esquecimento.
Já chega de trovoada;
Devolve o azul ao firmamento!
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