sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Em dia em que a Educação sai mais à rua!


 Ontem, recuperei um texto de 2011, hoje, partilho outro texto de 2013.
Prefiro, sem dúvida, posts sem azedume, mas se até a amêndoa amarga é natural!!

Oxalá os problemas atuais ligados sobretudo
 à contagem do tempo de serviço docente se resolvam quanto antes, 
porque é nocivo tanto cansaço em Educação.



Dr MST, are you a clown?

Dr MST, leio, habitualmente, as suas crónicas no Expresso. A minha opinião em nada lhe poderá interessar, mas, mesmo assim, quero dizer-lhe que aprecio as suas crónicas e os seus comentários na televisão. Também li dois dos seus livros: Equador e No teu deserto. Gostei muito.

No que diz respeito aos professores, acho que você (desculpe não dizer DR, mas você utiliza muito esta forma de tratamento e se a usa é porque está correta) deve ter um problema muito mal resolvido. Claro que todos têm coisas mal resolvidas, mas quando digo “todos” refiro-me aos comuns mortais, coisa demasiado pequenina para quem tão grande ego tem.

Na crónica “Os novos tempos”, do Expresso de 15 de junho 2013, você elogia a sua professora primária, a D. Constança, e boas razões tem para tal:

“Éramos uns 80 alunos, da 1ª à 4ª classe, todos juntos na mesma e única sala de aula da escola”;

“A escola não tinha um vigilante, um porteiro, uma secretária administrativa. Ninguém mais do que a D. Constança…”

E não era preguiçosa nem mariquinhas:

“Se porventura adoecesse, ou se na aldeia houvesse, que não havia, um médico disposto a passar-lhe uma baixa psicológica ou outra qualquer quando não lhe apetecesse ir trabalhar, as 80 crianças da aldeia em idade escolar ficavam sem escola”.

Dr MST, não duvido das suas palavras, mas estariam realmente as 80 crianças na mesma sala? Ou então eram todas tão magrinhas, devido à miséria da época, que ocupavam pouco espaço. Não me diga que você tinha um lugar melhor, como acontecia nesse tempo! Se assim foi, então não vale!

Não duvido de nenhuma palavra sua, nem mesmo quando confundiu filatelia com filantropia, num dos comentários da SIC. Nem sei até se dessa vez os editores foram logo a correr mudar os dicionários, porque da sua boca e da sua mão só saem verdades.

Peço-lhe desculpa de voltar atrás, mas, se calhar, a história dos 80 alunos na mesma sala não foi bem assim. Quem sou eu para não acreditar, mas você, na mesma coluna do jornal também diz:  “não me lembro se tinha ou não casas de banho, mas sei que não tinha qualquer espécie de aquecimento contra o frio granítico, de Novembro a Março…”

Se não se lembra de umas coisas também pode esquecer ou confundir outras, não acha? Quanto ao frio, realmente não havia necessidade de aquecimento. Então, com 80 crianças todas juntas numa sala há lá frio que resista? A menos que os meninos faltassem à escola ou fossem trabalhar para os campos, como também era frequente.

Não sei se o Ministério vai até aproveitar a sua ideia e pôr 80 alunos por sala. A poupança será colossal. E se os professores disserem que não aguentam e as salas também não, você dirá do seu pedestal ou a conduzir o seu jeep rumo a exótico destino: “Ai aguentam, aguentam”! E você tem a prova: a D. Constança aguentou.

Mas confesso que sinto uma certa ternura pela D. Constança. E sabe porquê? Porque ainda há muitas donas constanças, no masculino e no feminino, que você não conhece, porque vai quando quer para o Deserto e nem se apercebe que há muitos oásis dos quais ninguém fala nem escreve.

Gostava de o ver com trinta e tal alunos (não digo 80 porque não sou vingativa como parece estar na moda) numa sala de aula. E olhe que eu sempre me dediquei aos meus alunos!

Sobre a greve aos exames, você recomenda aos professores: “… tenham pudor”. E como explica sempre tudo muito bem, cumpre a regra de juntar exemplos aos argumentos: “um cirurgião não resolve entrar em greve quando recebe um doente já anestesiado”…

Mais uma vez, você confundiu ou então estava com pressa e nervoso por não poder fumar um cigarro e comparou alhos com bugalhos para despachar. Tenha pudor, digo eu. Não tome a árvore pela floresta, nem um pedaço de areia por todo o deserto.

      Quando assim é, você parece um clown, a sad clown.


quinta-feira, 4 de outubro de 2018

O Dunas


Hoje, dia em que se fala muito dos animais, e ainda bem,
partilho de novo um texto que publiquei aqui, em 2011.
É sobre o Dunas, um cão que viveu connosco mais de uma dezena de anos
e que deixou muitas saudades.

Há dias escrevi um pequeno texto sobre o Dunas, o nosso velho cão labrador. Dei-lhe o título: “Tal como eu”. Se o escrevesse hoje, infelizmente teria de pôr os verbos no passado. O Dunas partiu numa noite sem luar no início deste mês de Agosto.
Ficou(-me) a sua alegria segura e serena quando abanava a cauda bebendo água, vendo a comida, recebendo festas, tendo companhia, entrando no carro para ir passear...
O seu nome foi escolhido porque o pelo fazia lembrar dunas claras e macias. No verão, em Mindelo, gostava de correr na praia e subir as dunas. Sempre a abanar a cauda, sabia entregar-se - com certeza como qualquer cão - a momentos de felicidade simples e livre.
Quando era mais novo e estragava qualquer coisa, mostrava um olhar de arrependimento, baixando a cabeça e parecendo pedir desculpa. Era inteligente se é inteligência compreender os seres humanos e saber adaptar-se a eles.
Dava mais do que pedia. Sempre disponível e à espera que os donos chegassem. Entrando em casa, deitava-se na carpete da entrada, suspirava tranquilo e adormecia.
Perante a sua placidez, dizíamos muitas vezes: “meu bom cão”. Parecia não querer incomodar, apesar de gostar de conviver. Não sei se foi coincidência ou não, mas foi breve o tempo que antecedeu a partida.
Ao texto anterior sobre o Dunas dei o título “Tal como eu”. Corrijo agora: “ Melhor do que eu”.

terça-feira, 2 de outubro de 2018

Em Dia de (cada vez mais necessária) Não Violência



"Não quero que minha casa seja cercada por muros de todos os lados e que as minhas janelas esteja tapadas. Quero que as culturas de todos os povos andem pela minha casa com o máximo de liberdade possível."

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Charles Aznavour - Adieu?


Charles Aznavour - La Mama

Charles Aznavour - Que c´est triste Venise

João Gil e Ana Mesquita - A música também é imagem

No Dia Mundial da Música


A música das estrelas


As estrelas também cantam
Cantam uma canção de embalar
sobre uma estrela que caiu
no fundo do mar


Melhor lugar não há
para ouvir essa canção
do que deitado na relva
numa noite de Verão

Jorge Sousa Braga 


 Enviado pelo Clube das Histórias

 clubecontadores@gmail.com

Nós e a Música! Boa notícia!

4 Qui Out · 21:00 Entrada Livre
Via Direcional (junto ao Lidl)


Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música
Pedro Neves
direcção musical
Obras de Chabrier, Mejía, Moncayo García, Ravel, Falla, Carneyro, Ginastera e Márquez


"Os ritmos latinos dominam este programa sinfónico que a Casa da Música apresenta num concerto de entrada livre em Gondomar. São grandes êxitos das salas de concerto que contagiam qualquer um, mas são também obras-primas da música orquestral criadas por compositores que se deixaram seduzir pela riqueza das músicas populares. Do cante jondo espanhol ao malhão português, passando pelo danzón de origem cubana saído da pena de um compositor mexicano, esta é uma viagem que atravessa também outras paragens da América do Sul e tem um dos seus mais fortes atrativos no arrebatador Bolero de Maurice Ravel".

sábado, 29 de setembro de 2018

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Enquanto o mês não termina

Van Gogh

 

Pequena Elegia de Setembro

Não sei como vieste,
mas deve haver um caminho
para regressar da morte.

Estás sentada no jardim,
as mãos no regaço cheias de doçura,
os olhos pousados nas últimas rosas
dos grandes e calmos dias de setembro.

Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
que tudo canta ainda?

Queria falar contigo,
Dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.

Com que palavras
ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?

Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia
que nem dás por mim.

Eugénio de Andrade, in 'Antologia Poética'

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Doce transformação


Helena Almeida - A Obra/O Corpo que fica



Produziu a sua obra ao longo de 50 anos.
Vi, há uns dois ou três anos uma exposição da sua pintura em Serralves. Chamava-se "A minha obra é o meu corpo/ o meu corpo é a minha obra". Belo título para uma Vida dedicada à Arte.
Morreu ontem aos 84 anos, mas a sua obra, através do corpo, não. Felizmente.

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Natal? Já?



Coletânea LUGARES E PALAVRAS DE NATAL 

Regulamento :

1. O prazo de inscrição para participação na coletânea LUGARES E PALAVRAS DE NATAL e envio de textos decorre até 29 de outubro de 2018.



2.Os textos devem ser enviados em suporte  informático  (tipo Word) e remetidos para editora@lugardapalavra.pt



3. Serão admitidos textos do género lírico (poemas) e narrativo (contos).



4. Cada autor poderá participar com um ou vários textos, que pode(m) ocupar até um máximo de quatro páginas, sendo que cada página corresponde a um conjunto  de 1700 caracteres (incluindo espaços) ou 1400 caracteres (sem espaços), para os contos, ou 30 linhas de verso (incluindo espaços de transição de estrofe e eventuais versos demasiadamente longos).



5. A ordem de publicação obedecerá a um critério a definir, posteriormente, pela organização.



6. Os autores podem utilizar pseudónimo, embora sejam obrigados a identificar-se e o seu nome ser incluído na breve biografia a constar do livro.



7. Os autores devem enviar uma curta nota biográfica, que será publicada, com um máximo de 600 caracteres, incluindo espaços.



8. O tema de todos os textos é o Natal e/ou os valores à data associados.



9. No caso de a organização entender que o número de participantes não é suficiente para a edição do livro, os textos serão publicados on.line no site da editora Lugar da Palavra, em  www.lugardapalavra.pt
e enviado um exemplar em formato pdf a todos os participantes. A organização é soberana na seleção dos textos a incluir na obra.


10. A obra estará disponível em vários pontos de venda, com um preço de venda ao público (PVP) a definir em função do número de páginas.



11. Todos os textos serão alvo de revisão, com vista a apresentar um trabalho da maior qualidade possível, comprometendo-se, obviamente, a organização a nunca desvirtuar o original do autor.



12. Os participantes disponibilizam os seus textos exclusivamente para a presente publicação, sendo-lhes obviamente reconhecido o seu direito de autor (pelo qual assumem essa responsabilidade), mas não serão pagos quaisquer direitos patrimoniais. Ou seja: o participante envia textos da sua autoria (se já publicados, com a respetiva autorização competente) e cede-os exclusivamente para o fim em questão, não resultando da sua publicação a obrigação da editora de pagamentos de direitos patrimoniais ao autor.



13. A participação implica a aceitação de todos os termos do presente regulamento.



14. Os casos omissos serão resolvidos pela organização.


segunda-feira, 24 de setembro de 2018

"Mimos de Novembro" - Convite à participação


Mimos de Novembro
Antologia Poética 2018

A Mimos e Livros continua a celebrar a Poesia e quer comemorá-la consigo!
Vamos publicar nova Antologia Poética: MIMOS DE NOVEMBRO.
A data limite para entrega dos textos é 15 de outubro de 2018.
Participe!
Regulamento
  1. O prazo de inscrição para participação na antologia MIMOS DE NOVEMBRO e envio de textos decorre até 15 de outubro de 2018.
  2. Os textos devem ser enviados em suporte informático (tipo word) e remetidos para geral@mimoselivros.pt
  3. Serão admitidos textos do género lírico (poemas e prosa poética).
  4. Cada autor poderá participar apenas com um texto, que pode ocupar até 30 linhas de verso (incluindo espaços de transição de estrofe e eventuais versos demasiadamente longos) ou, na prosa poética, um máximo de 1400 caracteres (espaços incluídos).
  5. A ordem de publicação obedecerá a um critério a definir, posteriormente, pela organização.
  6. Os autores podem utilizar pseudónimo, embora sejam obrigados a identificar-se e o seu nome ser incluído na breve biografia a constar do livro.
  7. Os autores devem enviar uma curta nota biográfica, que será publicada, com um máximo de 500 caracteres, incluindo espaços.
  8. O tema dos textos é livre.
  9. No caso de a organização entender que o número de participantes não é suficiente para a edição do livro, os textos serão publicados on.line no site da editora Lugar da Palavra, emwww.lugardapalavra.pte enviado um exemplar em formato pdf a todos os participantes. A organização é soberana na seleção dos textos a incluir na obra.
  10. A organização e seleção dos textos para publicação pertencem à Mimos e Livros Edições, uma chancela da Lugar da Palavra Editora. Da decisão de seleção ou não do júri não haverá recurso.
  11. Todos os textos serão alvo de revisão, com vista a apresentar um trabalho da maior qualidade possível, comprometendo-se, obviamente, a organização a nunca desvirtuar o original do autor.
  12. Os participantes disponibilizam os seus textos exclusivamente para a presente publicação, sendo- lhes, obviamente reconhecido o seu direito de autor (pelo qual assumem essa responsabilidade), mas não serão pagos quaisquer direitos patrimoniais. Ou seja: o participante envia textos da sua autoria (se já publicados, com a respetiva autorização competente) e cede-os exclusivamente para o fim em questão, não resultando da sua publicação a obrigação da editora de pagamentos de direitos patrimoniais ao autor.
  13. A participação implica a aceitação de todos os termos do presente regulamento.
  14. Os casos omissos serão resolvidos pela organização.
  15. O CONSELHO EDITORIAL da Antologia Poética MIMOS DE NOVEMBRO é constituído por
    Maria Albertina Santos, Celeste Almeida e Maria Eugenia Ponte, e terá como função:
    1. Pronunciar-se sobre a inclusão ou não de alguns textos que serão enviados pela organização com vista a garantir a qualidade da antologia;
    2. Redigir uma crítica da obra a publicar.
Edições Mimos e Livros/Lugar da Palavra Editora

sábado, 22 de setembro de 2018

Aretha Franklin - I Say A Little Prayer

Aretha Franklin - (You Make Me Feel Like) A Natural Woman [1967]

Hoje recordei-me da morte de Aretha Franklin. 
Não poderia deixar de partilhar algumas das suas canções mais célebres.

"Há escolas..."

l

"Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.
Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o voo.

Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado".

Ruben Alves 


Postal enviado pelo Clube das Histórias.
Vale a pena consultar os seus blogues em língua portuguesa, francesa, espanhola e alemã

http://contadoresdestorias.wordpress.com/

"Um Pouco Mais de Nós"

Sofia Areal

Podes dar uma centelha de lua,
um colar de pétalas breves
ou um farrapo de nuvem;
podes dar mais uma asa
a quem tem sede de voar
ou apenas o tesouro sem preço
do teu tempo em qualquer lugar;
podes dar o que és e o que sentes
sem que te perguntem
nome, sexo ou endereço;
podes dar em suma, com emoção,
tudo aquilo que, em silêncio,
te segreda o coração;
podes dar a rima sem rima
de uma música só tua
a quem sofre a miséria dos dias
na noite sem tecto de uma rua;
podes juntar o diamante da dádiva
ao húmus de uma crença forte e antiga,
sob a forma de poema ou de cantiga;
podes ser o livro, o sonho, o ponteiro
do relógio da vida sem atraso,
e sendo tudo isso serás ainda mais,
anónimo, pleno e livre,
nau sempre aparelhada para deixar o cais,
porque o que conta, vendo bem,
é dar sempre um pouco mais,
sem factura, sem fama, sem horário,
que a máxima recompensa de quem dá
é o júbilo de um gesto voluntário.

E, afinal, tudo isso quanto vale ?
Vale o nada que é tudo
sempre que damos de nós
o que, sendo acto amor, ganha voz
e se torna eterno por ser único e total.

José Jorge Letria

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Aline Frazão - Tanto


Ouvi hoje pela primeira vez Aline Frazão e gostei. 
Tem 30 anos e reside atualmente em Angola, onde nasceu, depois de ter estado em vários países, como Portugal, onde tirou o curso de Ciências da Comunicação. O seu mais recente trabalho é Dentro da Chuva.

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Sim, é flor de um cato


Foi a primeira vez que vi esta flor. 
O cato produziu-a, pendurando-a e segurando-a no vaso.
Não, não foi em Londres que a vi.
É bom regressar e encontrar novas flores.

Corvos ao fim da tarde em Hampstead Heath


sábado, 15 de setembro de 2018

Sugar

Vou falar de novo de West Hampstead, em Camden, no noroeste de Londres. 
Ao sábado, há uma feira de produtos locais. Ele é mel,  fruta da época, hortaliças, legumes, etc.
Nesse dia, veem-se muitas pessoas que se abastecem com produtos, muitos deles biológicos, para a semana.
É bonito de se ver, como em muitos sítios, aliás, as pessoas a dispensarem os sacos de plástico porque trazem o seu próprio saco onde cabem as compras.
Bem perto desse mercado semanal, há, na rua, um vendedor de livros usados. Até há pouco tempo, estava sempre acompanhado de um cão que só tinha três patas mas que, junto do seu dono, parecia feliz.
Como o cão era um ser vivo, faleceu e há pouco tempo. O dono, o vendedor de livros usados,  com saudades do seu velho companheiro, colocou uma lápide redonda na parede onde instala  sempre a sua pequena banca. Nela gravou uma doce homenagem ao amigo de muitos anos que lhe tinha adoçado muitos dias.
Ao sábado, como é dia de mercado, há mais pessoas que reparam no epitáfio e ficam enternecidas.
A encimar o pequeno disco redondo, lê-se Sugar. Sugar era o nome do cão.

O padeiro dos caracóis

Existe em West Hampstead uma padaria que vende, para além de outras espécies, pão chalah: um pão redondo ou entrançado, que se assemelha à nossa fogaça mas menos doce. É um pão bastante consumido pelos judeus mas não só. Tanto este como a mais simples baguette vendem-se em abundância nessa padaria.
É muito frequente ver o padeiro a falar com os clientes, dentro ou fora do balcão. É alto, magro e tem uma farta cabeleira grisalha e aos caracóis. Parece conhecer os clientes e ter prazer em saber que apreciam o pão que faz todos os dias. 
Gosto muito do pão chalah e do pão francês que sempre peço fatiado.
Levantar cedo e comer fatias daquelas espécies de pão com compota caseira ao pequeno almoço ajuda a celebrar o dia.
Há uns tempos, ouvi contar que, enquanto o padeiro foi de férias, todo o pão perdeu qualidade e os clientes queixavam-se de que estava queimado, de que estava cru, etc, e perguntavam quando regressava.
Quando voltou, teve de responder a tantas perguntas e o tempo que gastava era tanto que nem o deixavam recuperar a boa qualidade do seu pão. 
Um dia, vi-o a coçar o cabelo encaracolado. Talvez ainda estivesse a pensar no assunto.

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

A menina e o distribuidor de jornais

Todos os dias, ao fim da tarde, a menina regressava do infantário a casa, no seu carrinho. A hora era de muito movimento e os seviços chamavam ao local muitas pessoas: a estação do metro, os cafés, a padaria, a estação do comboio...
Ora, quando a menina se aproximava da entrada do metro, procurava logo, com os olhinhos claros e curiosos, o homem que distribuía jornais. Levantava o bracito no gesto de aceitar o jornal. O homem, sorria e entregava-lhe, com um largo sorriso, o jornal que era recebido com alegria. Como se fosse um presente.
Se a menina não o tivesse feito, eu não teria reparado no sorriso bonito do distribuidor de jornais que, atenta e alegremente, cumpria a sua função. 
A cena era bonita, mas a menina nunca a veria como notícia. Mesmo que soubesse ler.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

A senhora do fato amarelo

Gosto de caminhar nas ruas de West Hampstead, perto do centro de Londres. É uma zona bonita e sossegada. Veem-se muitas pessoas jovens a empurrar carrinhos de bebés, e, muitas vezes, com outras crianças pela mão; alguns velhos a passear com o cão, dizendo, com um sorriso amigável, que o companheiro de quatro patas também o é; nas esplanadas, desfruta-se da conversa ao ar livre em zona residencial e cosmopolita.
Ora, também como em qualquer lugar, existem seres humanos que se destacam, por exemplo, pela indumentária quando passam nas ruas, onde proliferam, como em qualquer cidade europeia, as calças de ganga e as sapatilhas. 
Um dia, junto de um supermercado local e com mais lojas nas proximidades, vi passar uma senhora de uns oitenta anos e com um fato amarelo-canário. Imaginei o seu guarda-fatos com roupas antigas que nunca deixara de usar e que vestia quando saía de casa, nem que fosse só para dar uma voltinha a pé.
A saia era larga, comprida e com pregas; o casaco tinha ombreiras muito mais largas do que os seus ombros magros, lembrando a moda que há muitos anos deixou de ser moda.
Sentei-me num banco e fiquei a olhar a senhora do fato amarelo. Até ser apenas um pontinho ao longe. Andava devagar, talvez como o tempo que vivia e cujas cores não queria perder. E que guardava no solitário guarda-fatos das memórias.

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Algumas notas sobre Últimas Notícias do Sul

É um livro de viagens, escrito por Luís Sepúlveda, publicado em 2012, com fotografias de Daniel Mordzinski. Referindo-se ao fotógrafo, recorrentemente o escritor diz  ser seu sócio.
Viajam pela Patagónia, vão revelando lugares e contando muitas histórias de seres humanos e materiais que encontram nessa vasta região: os comboios; um pequeno e velho avião; um homem que procurava a madeira perfeita para construir violinos; a mulher de 95 anos que vivia feliz acompanhada de boas memórias, de flores e de animais; de um homem pequenino e misterioso conhecido por duende...
E falam da gastronomia local, da poeira dos caminhos, das tabernas onde os homens contavam histórias sobre habitantes antigos, da partilha da cabaça com o chá-mate, do silêncio da estepe, do vento constante, do desejo de fotografar com a câmara e com palavras uma região entre a Argentina e o Chile que foi sonhada por muitos...

É como se o leitor estivesse à mesma mesa de um café onde se bebe, se petisca, se conversa, se deseja tocar a beleza de tantos mundos diferentes que por lá sempre convergiram.
Nunca fui nem provavelmente irei à Patagónia, mas foi como se lá tivesse estado e permanecido para conhecer gente e lugares que se  fundem naquele espaço tão procurado, apesar do clima agreste.
Muito melhor do que se por lá tivesse passado a correr, como acontece em muitas viagens turísticas.

Já tinha o livro há bastante tempo e nunca o havia lido. Em boa hora o comecei a ler porque gostei muito da viagem. Da contada e da que, através do livro, também vivi.

terça-feira, 11 de setembro de 2018

Os canteiros de Londres


Nas muitas vezes que já visitei Londres e sobretudo alguns dos seus arredores, nunca vi ninguém a regar vasos, canteiros ou jardins e eles são abundantes e floridos.
Apesar de haver bonitos e até quentes dias de sol, a chuva não demora muitos dias a aparecer. Assim sendo, poupa-se a vários níveis: água e tempo, Ao contrário de Portugal, se quisermos conservar verdes as plantas. E as pessoas, como eu, que vivem no Norte, nem se podem queixar muito porque as temperaturas, habitualmente, atingem valores mais baixos do que no resto do país.
Mas, voltando a Londres, gosto muito de ver os vasos retangulares, tipo canteiros, a embelezar portas e janelas, com plantas e flores variadas.
Também nos canteiros de rua vivem flores de cores vivas como os girassóis.
Um dia, li ou ouvi se cada um tornasse o seu espaço próximo mais bonito, o mundo ganhava em beleza, sem dúvida.
E há tanta gente que o faz, mesmo sem a ajuda da chuva!

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

A Terra é bela!


Obrigada, F., pelas belas fotografias que me enviaste da Noruega.
É pena haver pessoas  que também cospem para o chão; é pena que os comboios também se atrasem...
Os mitos vão caindo. Mesmo os nórdicos.

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Até quando continuarão a arder dinheiros públicos?

  Museu de História Natural e Antropologia, inaugurado em 1818 
O que resta(rá) do Museu Nacional do Rio de Janeiro

terça-feira, 4 de setembro de 2018

ELE e ELA no Centro Comercial

Ontem fui a um centro comercial e, como era hora do almoço, dirigi-me às habituais Vitaminas. 
Com o tabuleirinho verde nas mãos, vi uma mesa livre e sentei-me. 
Ao meu lado, estava um casal de meia idade, um em frente ao outro.  
Ela de carnes fartas, ele bem mais seco. Ela muito faladora e ele mais ouvinte. 
Ela contava muitas peripécias e ele oferecia-lhe sorrisos. 
Por duas vezes, pediu, carinhosamente, para que ela repetisse o que estava a dizer.
Eram namorados pela certa.
Enquanto almoçava, eu ia imaginando os prováveis pensamentos.
Ou improváveis?


ELA
Ele ouve-me com atenção. E nem olha para o lado enquanto falo. O sorriso é bonito e meigo. Só é pena faltarem-lhe alguns dentes. Como é diferente do meu ex-marido. Ele nem teria tempo nem paciência para me ouvir. Estaria sempre a olhar para o lado, ou para a televisão ou a comentar o que via sem me prestar atenção.
Posso falar do meu filho, de coisas engraçadas, de coisas que me preocupam. Ele está atento e ri-se para mim, ainda que pouco fale. Sempre a fixar-me como se só eu lhe interessasse. Já nem me lembrava destas atenções. Talvez as tivesse tido em tempos antigos de namoro, mas já foi há tanto tempo que quase as esqueci.
Agora posso tê-las de novo. Não me importava que ele fosse um bocadinho mais cheiinho. Quando me levantar e me puser ao seu lado, parece que comi tudo sem deixar nada para ele. Também escusava de ter comido tanta batata frita, mas sinto-me infeliz quando ando desconsolada.
Para onde gostaria ele de ir comigo a seguir? Vou perguntar-lhe se quer ir tomar chá a minha casa. Fiz-lhe o bolo habitual. Ele disse-me uma vez que gostava e quero que seja feliz.
Enquanto estivermos os dois, não fecharei a persiana, como às vezes faço. Quero abrir-me à luz deste outono. Só quero é que ele não adormeça como aconteceu uma vez.


ELE
Ela é bonita e tem sempre tantas coisas para contar. Sempre gostei de pessoas alegres e com assunto. Faz-me esquecer tristezas e abandonos que já vivi. Sei que não sou jovem mas nunca se é velho para amar e, apesar da minha magreza, sou saudável e as análises estão bem.
É pena ela ter carnes tão abundantes. E balofas. É gulosa e diz que gosta de caminhar mas no Centro Comercial.
Os braços até mexem quando se ri. Gosto de a ouvir falar. Pela expressão dela, deve ser engraçado o que está a contar, mas pouco compreendo por causa da minha surdez e aqui há muito ruído. Como ela fala muito, nem repara. É melhor assim. Estou à espera da consulta no otorrino há imenso tempo.
Não quero estar sempre a interromper o que diz, senão pode ficar chateada. Faz-me bem ter à minha frente uma mulher divertida e com vontade de falar comigo.
Deve convidar-me para ir a casa dela tomar chá com bolo. Uma vez, disse-lhe que gostei de um e agora faz sempre o mesmo. Quando quis agradar-lhe, nunca pensei que teria de o comer tantas vezes.
Se for como o de ontem, o fim de tarde vai estar bonito.
Em casa dela, com a persiana fechada, quero sentir bem próximo o macio das dunas soltas neste outono.
Só espero é que não se lembre de repente que tem de pôr uma máquina de roupa a lavar. Ainda adormeço com este calor.

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

"Fazes-me falta"


Sim, não sou original ao dizer que me fazes falta, mas não sei como dizê-lo de outra maneira. Sim, a tua presença é fundamental para mim. A qualquer hora do dia.
Nunca me canso de ti porque és discreto e tantas vezes silencioso. Sem deixar de estar atento aos pormenores. 
Às vezes, ficas doente e para mim é doloroso não saber tratar-te para que recuperes as tuas forças.
Gosto de te tocar todos os dias e, fazendo-o, ajudas a organizar as minhas ideias. 
És informado e respondes quase sempre às minhas questões.
Posso conversar contigo a qualquer hora e, se te disser que é segredo, sei que não divulgas, mas guardas tudo para ti à espera de melhores dias. E não alteras nada do que te contei. 
Já não me vejo a viver sem ti.
Registas as minhas palavras e ajudas-me a acrescentar outras para que tudo fique melhor. E eu também.
Passei estas férias sem ti e nem imaginas como senti a tua falta. Houve situações que eu ia observando, mas faltavas tu para eu poder partilhá-las com vagar e, enquanto tas contasse, não haveria outras distrações. Esses momentos podiam dar até algumas histórias, mas, como estavas ausente, não chegaram a acontecer.
Tu ajudas-me a reconstruir o mundo. E a embelezá-lo. E a reparar nele com mais atenção.
Nunca me és pesado. E tornas a vida mais leve.
Fazes-me muita falta.  Repito: seria muito difícil viver sem ti. 
És um dos meus espelhos verdadeiros.
Hoje voltei a ti, meu querido computador.