Ontem, recuperei um texto de 2011, hoje, partilho outro texto de 2013.
Prefiro, sem dúvida, posts sem azedume, mas se até a amêndoa amarga é natural!!
Oxalá os problemas atuais ligados sobretudo
à contagem do tempo de serviço docente se resolvam quanto antes,
porque é nocivo tanto cansaço em Educação.
Dr MST, are you a clown?
Dr MST, leio, habitualmente, as suas
crónicas no Expresso. A minha opinião em nada lhe poderá interessar, mas, mesmo
assim, quero dizer-lhe que aprecio as suas crónicas e os seus comentários na
televisão. Também li dois dos seus livros: Equador e No teu deserto.
Gostei muito.
No que diz respeito aos professores,
acho que você (desculpe não dizer DR, mas você utiliza muito esta forma de
tratamento e se a usa é porque está correta) deve ter um problema muito mal
resolvido. Claro que todos têm coisas mal resolvidas, mas quando digo “todos”
refiro-me aos comuns mortais, coisa demasiado pequenina para quem tão grande
ego tem.
Na crónica “Os novos tempos”, do
Expresso de 15 de junho 2013, você elogia a sua professora primária, a D.
Constança, e boas razões tem para tal:
“Éramos uns 80 alunos, da 1ª à 4ª
classe, todos juntos na mesma e única sala de aula da escola”;
“A escola não tinha um vigilante, um
porteiro, uma secretária administrativa. Ninguém mais do que a D. Constança…”
E não era preguiçosa nem mariquinhas:
“Se porventura adoecesse, ou se na
aldeia houvesse, que não havia, um médico disposto a passar-lhe uma baixa
psicológica ou outra qualquer quando não lhe apetecesse ir trabalhar, as 80
crianças da aldeia em idade escolar ficavam sem escola”.
Dr MST, não duvido das suas palavras,
mas estariam realmente as 80 crianças na mesma sala? Ou então eram todas tão
magrinhas, devido à miséria da época, que ocupavam pouco espaço. Não me diga
que você tinha um lugar melhor, como acontecia nesse tempo! Se assim foi, então
não vale!
Não duvido de nenhuma palavra sua, nem
mesmo quando confundiu filatelia com filantropia, num dos comentários da SIC.
Nem sei até se dessa vez os editores foram logo a correr mudar os dicionários,
porque da sua boca e da sua mão só saem verdades.
Peço-lhe desculpa de voltar atrás, mas,
se calhar, a história dos 80 alunos na mesma sala não foi bem assim. Quem sou
eu para não acreditar, mas você, na mesma coluna do jornal também diz:
“não me lembro se tinha ou não casas de banho, mas sei que não tinha
qualquer espécie de aquecimento contra o frio granítico, de Novembro a Março…”
Se não se lembra de umas coisas também
pode esquecer ou confundir outras, não acha? Quanto ao frio, realmente não
havia necessidade de aquecimento. Então, com 80 crianças todas juntas numa sala
há lá frio que resista? A menos que os meninos faltassem à escola ou fossem
trabalhar para os campos, como também era frequente.
Não sei se o Ministério vai até
aproveitar a sua ideia e pôr 80 alunos por sala. A poupança será colossal. E se
os professores disserem que não aguentam e as salas também não, você dirá do
seu pedestal ou a conduzir o seu jeep rumo a exótico destino: “Ai aguentam,
aguentam”! E você tem a prova: a D. Constança aguentou.
Mas confesso que sinto uma certa ternura
pela D. Constança. E sabe porquê? Porque ainda há muitas donas constanças, no
masculino e no feminino, que você não conhece, porque vai quando quer para o
Deserto e nem se apercebe que há muitos oásis dos quais ninguém fala nem
escreve.
Gostava de o ver com trinta e tal alunos
(não digo 80 porque não sou vingativa como parece estar na moda) numa sala de
aula. E olhe que eu sempre me dediquei aos meus alunos!
Sobre a greve aos exames, você recomenda
aos professores: “… tenham pudor”. E como explica sempre tudo muito bem, cumpre
a regra de juntar exemplos aos argumentos: “um cirurgião não resolve entrar em
greve quando recebe um doente já anestesiado”…
Mais uma vez, você confundiu ou então
estava com pressa e nervoso por não poder fumar um cigarro e comparou alhos com
bugalhos para despachar. Tenha pudor, digo eu. Não tome a árvore pela floresta,
nem um pedaço de areia por todo o deserto.
Quando assim é, você parece um clown, a sad
clown.
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