sábado, 13 de outubro de 2018

Lar (pouco) doce lar!

Ouvi, há poucos dias, este diálogo/monólogo.  
Foi num pequeno café. 

- A sopa soube-me bem. Estava bem feitinha. Foi feita com amor, de certeza. A cozinheira do lar devia fazer formação. É deslavada a sopa dela. Desconfio que acrescenta água para a fazer render. 

Ontem, quando soube que ia ser bacalhau com natas, fiquei toda contente, mas quando o vi, perdi o apetite. As natas pareciam cruas de tão esbranquiçadas. Resolvi dizer que não me apetecia para não parecer esquisita e ser criticada.

Sabe como é!!! E muitas vezes fico farta de ouvir queixumes dos meus companheiros. Tudo é triste, tudo está mal, tudo dói...

Sim, pelo que vejo, estou muito bem. 

Não pareço que tenho 94 anos? Olhe que já os fiz. E ainda faço renda. Agora ando a consertar uma toalha do lar. Parecia roída dos ratos.

Mas tenho uma companheira que tem razão em queixar-se. Levaram-na para lá ao engano. Disseram-lhe que era só um fim de semana e nunca mais lá foram. Não se faz. Merecia que lhe fizessem o mesmo.

É assim. E não gosto de problemas. Passo muito tempo sozinha no meu quarto. Gosto de ouvir música e ver concursos com perguntas de cultura geral. A ver se ainda me lembro.

Sou muito feliz por ser autónoma. Poupei sempre ao longo da minha vida pra não ser pesada aos filhos.

O lar tem um jardim. Não é muito grande, mas tem flores e duas árvores bonitas.

Vou lá todos os dias. Às vezes, apanho uma flor e ponho-a na jarrinha do meu quarto.

Na minha casa, sempre tive flores nos canteiros.

Cheguei a dizer ao meu filho que gostava de levar um para o lar. Podia tratar dele e estava entretida. Não respondeu e fiquei sem saber se me ouviu.

Vou telefonar ao meu neto mais novo se me quer ir visitar.  Há tanto tempo que não os vejo.

Fez-me tão bem ter saído hoje por um bocadinho. 


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