terça-feira, 23 de abril de 2024

A propósito do pássaro que já não vive na minha cozinha


Hoje cheguei à cozinha 

E não  ouvi o pássaro cantar

Nem esvoaçar na gaiola

Nem baloiçar de alegria


Jazia inerte no chão frio da gaiola

De olhos abertos mas não para a vida que eu queria


Há semanas que somam tristezas

A vida das palavras foge várias vezes

Gravando solidões

No emaranhado triste da interpretação

Do que é dito e do que é calado


E há amanheceres assim

Chega-se à cozinha 

Desejando o cheiro a café acabado de fazer

E vê-se um pássaro morto na gaiola


Como ir ao encontro de um abraço

E ouvir um grito surdo de desilusão 


Abri a janela.

Para um possível e último voo do pássaro

Levado nos braços carinhosos de um anjo 


Fiquei a olhar pela janela

E esqueci - me do café quente.



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