sábado, 14 de novembro de 2020

Casa - palavra dita, cantada, repetida...

 

A palavra 'casa', em dias de pandemia e de alguns confinamentos, é ouvida, dita, repetida...

para que o vírus não continue a propagar-se como tem acontecido nos últimos tempos.

Dizem os técnicos de saúde que temos mesmo de passar todo o tempo possível em casa.

Os apelos e as dúvidas fazem eco por toda a parte:

Fique em casa!

Não saia de casa!

Se transgredir as regras de confinamento, será conduzido a casa.

Quando se poderá sair de casa à vontade?

Estou farto de estar em casa!

Não me importo de ficar em casa, porque tenho sempre que fazer!

Com os miúdos em casa, não tenho sossego!

...

 

Procurei alguns poemas em que a palavra 'casa' surgisse escrita ou cantada. Partilho alguns exemplos de que gostei. 

Estou em casa e são raros os carros que passam na rua, bem mais silenciosa nesta tarde. Alguns irão, por certo, em direção a casa. 

Não sei é se vão a cantarolar: 'Ai que saudades eu tinha da minha alegre casinha...'


'Uma ocasião...'


Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo.

Adélia Prado

 

"Amor como em Casa"

Regresso devagar ao teu sorriso como quem volta a casa. 

Faço de conta que não é nada comigo. 

Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.

Manuel António Pina, in "Ainda não é o Fim nem o Princípio do Mundo. Calma é Apenas um Pouco Tarde"

 

'Louvor do lixo'

 

Para a Amra Alirejsovic

                                    (quem não viu Sevilha não viu maravilha)
É preciso desentropiar
a casa
todos os dias
para adiar o Kaos
a poetisa é a mulher-a-dias
arruma o poema
como arruma a casa
que o terramoto ameaça
a entropia de cada dia
nos dai hoje
o pó e o amor
como o poema
são feitos
no dia a dia
o pão come-se
ou deita-se fora
embrulhado
(uma pomba
pode visitar o lixo)
o poema desentropia
o pó deposita-se no poema
o poema cantava o amor
graças ao amor
e ao poema
o puzzle que eu era
resolveu-se
mas é preciso agradecer o pó
o pó que torna o livro
ilegível como o tigre
o amor não se gasta
os livros sim
a mesa cai
à passagem do cão
e o puzzle fica por fazer
no chão

Adília Lopes

ELIS REGINA - " CASA NO CAMPO "

"Casa arrumada"


 

'Esta ausência não foi por nós pedida...'

 

Esta ausência não foi por nós pedida,

este silêncio não é da nossa lavra,

já nem Pessoa conversa com Pessoa,

com o feitiço sempre imenso da palavra

Este tempo só é o nosso tempo

porque é nossa a dor que nos sufoca

e faz de cada dia a ferida entreaberta

do assombro que esquivando-se nos toca

Esta ausência é dos netos, dos filhos, dos avós,

é a casa alquebrada pelo medo,

é a febre a arder na nossa voz

por saber que o mal a magoa em segredo

Este silêncio é um sussurro tão antigo

que mata como a peste já matava;

vem de longe sem nada ter de amigo

com a mesma angústia que nos castigava

Esta ausência é uma pátria revoltada

que se fecha em casa sempre à espera

que a febre não a vença nem lhe roube

a luz mansa que lhe traz a Primavera

Esta casa somos nós de sentinela,

à espera que a rua de novo nos console

e que festeje debruçada à janela

a alegria que só nasce com o sol

Esta ausência mais tarde há-de ter fim,

por nada lhe faltar nem inocência;

que se escute o desejo de saúde

anunciando que vai pôr fim à inclemência

Que se abram as portas e as janelas,

que o medo, derrotado, parta sem destino

por ser esse o sonho colorido

que ilumina o riso de um menino."

 

José Jorge Letria (20 de Março de 2020)

Capicua - "Casa no Campo" (com Mistah Isaac) - Lyric Video

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Amália Rodrigues - Gaivota (1970)

El Condor Pasa - Paul Simon & Garfunkel

Quando o Céu procura o Mar

 

Obrigada, Vítor, pelas belíssimas fotos que partilhaste. Já as vi também na http://carruagem23.blogspot.com/ no teu post de ontem. Gostei também muito do poema que juntaste, de Fernando Pessoa. Boa sugestão para olhar e ler, perto ou longe do mar, em dias de confinamento.


 






Rui Veloso - Não Há Estrelas No Céu

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

O estado de emergência do meu concelho e a velha máquina de costura!

 

Confesso que me perco no conjunto de medidas e de números que são apresentados nas conferências de imprensa dos governantes, sobre os diferentes estados de confinamento. Preciso depois de ver o resumo mais sistematizado.

Porém, parto do princípio de que as saídas têm de ser as essenciais e que o que tenho em casa pode ser rentabilizado.

E passei a utilizar bastante mais o comércio local. 

Até descobri que o merceeiro mais perto da minha casa tem um jeito brutal para a decoração da montra. Hoje fui lá e deparei com uma velha máquina de costura, deixada por uma velha vizinha cuja vida tinha sido salva por ele que, não a vendo em toda a manhã, lhe tinha entrado em casa pela janela, encontrando-a inanimada.

Soube que a máquina Singer vai ser exposta aos clientes de forma criativa. Fiquei com curiosidade de ver o resultado. Deixarei para a próxima semana, porque não é urgente.  E seguirei o mesmo critério para as outras saídas que podem ser adiadas. 

Vou-me dar a mim própria este conselho, até porque, soube há pouco, o meu concelho não saiu do confinamento.

 


Felizmente, há pessoas assim!

 

A família da minha mãe trabalhava na agricultura. Sempre me habituei às hortaliças frescas, aos ciclos das estações e ao que elas produziam.

Não sei se foi por isso, mas gosto muito de ver campos e espaços verdes. Se possível com flores, mesmo as que nascem naturalmente.E tenho o meu quintal, nem sempre tão bem cuidado, como eu gostaria, mas onde colho couves, alfaces e o que houver (se os caracóis e as lemas não chegarem antes de mim!).

Sempre vi a minha mãe preocupada com as plantas. Quando diz que estão com sede é como se falasse de uma criatura humana!

Ora, para além destes gostos e hábitos que vamos adquirindo, apercebemo-nos de que há pessoas que trabalham muito para que o país seja todo ele mais saudável e bonito. Um dos pioneiros da necessidade de transformação da paisagem foi Gonçalo Ribeiro Teles, que faleceu ontem aos 98 anos, tendo sido decretado luto nacional para o dia de hoje.

Ao longo da sua vida de arquiteto paisagista, falava da importância das hortas, quando quase ninguém se lembrava delas ou as valorizava. Nunca desistiu dos seus ideais, deixando ficar muita obra realizada e mudança de mentalidades. Talvez por isso se diga que foi um homem à frente do seu tempo. 

Se não fosse o seu trabalho, calmo mas constante, em prol de um ambiente melhor para todos, incluindo todos os seres vivos, não haveria atualmente tantas hortas comunitárias, tantas hortinhas caseiras, tanta erva aromática nas varandas, tanta gente a correr e a caminhar em parques e jardins públicos cuidados e apetrechados... E muito mais para que a qualidade de vida de todas as pessoas melhore, de facto.

Felizmente há pessoas assim!


terça-feira, 10 de novembro de 2020

A VIDA MENTIROSA DOS ADULTOS - ELENA FERRANTE



São 292 páginas, divididas em 7 capítulos, que, se houver tempo, se leem, por livre vontade, em poucos dias. Sobretudo quem aprecia o desenrolar da história, em detrimento do prazer do texto ou das reflexões nele contidas.

A capa, logo que a vi,  criou-me um certo desconforto e até relutância. Porém, compreendi-a à medida que avançava na leitura.

A história decorre na cidade de Nápoles. Duas famílias da classe média têm fortes laços de amizade e de trabalho. As três crianças dessas famílias crescem muito próximas.

A mais velha, adolescente, para além de ir descobrindo a vida, a sexualidade, o amor, o desamor, depara-se também com problemas familiares, impensáveis na sua infância.

Giovanna, a adolescente, e Vittoria, uma tia, têm um papel preponderante na história - pelas semelhanças entre ambas; por situações, umas caricatas que fazem rir, outras comoventes até às lágrimas, em que há aproximações e recuos, abraços e incompreensões, procura e afastamento, palavras doces ou rudes...

Se a história tivesse som, tanto ouviríamos fortes ruídos como sentiríamos pesados silêncios, mas sempre com vivacidade narrativa, embora o mundo apresentado, na minha opinião, seja bastante restrito.

Elena Ferrante, a escritora italiana, cuja identidade é um enigma, mais uma vez, escreve de maneira torrencial. 

Se tivesse de apanhar estrelas para avaliar esta obra, bastar-me-iam três.

 

 Partilho também uma das páginas do livro:





segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Sob ou Sobre: Eis a questão




Vi, há dias, esta imagem, com um erro na legenda - onde se lê 'sobre', deve ler-se 'sob' - num  programa de antena aberta da SIC Notícias.

 

Consultei as Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, donde retirei os dois excertos que cito:

 

"Sob vem da preposição latina «sub» e significa por baixo, em posição inferior, subordinado, (...), além de ser usado para dizer que se está sob a alçada de, como nas expressões sob juramento e sob compromisso".

 

Vejamos, então, alguns casos:

- Com o aumento de casos covid-19, há hospitais a trabalhar sob pressão.

- Há cidades sob nuvens de poluição.

- O mundo continua sob a ameaça da atual pandemia.

- Havia muito pó sob as folhas velhas.

- Em noites de verão, sabe bem ficar até mais tarde sob o céu estrelado.

 

"Sobre tem como origem a preposição latina super e significa por cima, em cima, na parte superior, numa posição superior, (...), entre outras dezenas de significados", como a respeito de...

 

Eis alguns exemplos:

- Deitou-se sobre a cama e adormeceu logo de seguida.

- Encontraram-se, mas não quiseram falar sobre o passado.

- Em casa da minha mãe, há sempre chá e biscoitos sobre a mesa.

- Para evitarem a lama, passaram sobre a relva.

- Põe sempre o pisa-papéis sobre as folhas soltas.

 

Pronto, já falei um bocadinho sobre estas duas preposições que se assemelham, mas que são opostas.

Não estou a escrever sob qualquer compromisso, é apenas o meu gosto pelas palavras.


domingo, 8 de novembro de 2020

Biden - Palavras com sentido

 

União, respeito, decência, verdade, ciência...

Foram estas algumas das palavras de Joe Biden que pudemos ouvir na Festa de ontem à noite, depois de ter sido o Presidente eleito dos Estados Unidos da América. Um homem que já viveu duros dramas familiares e que terá de enfrentar muitos obstáculos, na presidência de um país desunido, cargo a que se candidatou e que venceu por maioria.

A seu lado, a primeira mulher vice-presidente naquele país imenso. De forte, mas serena energia, como será necessário no presente e no futuro.

O ambiente de natural alegria e euforia não tinha os artificialismos, leviandades, insultos, luxuosas vaidades, ameaças, falsidades e muito mais a que o ainda Presidente habituou o país e o mundo.

Muito mais seguro e eficaz do que muitos previam, Biden comoveu muita gente com o seu discurso pacificador, mesmo sabendo-se que a tarefa que tem pela frente é muito difícil pelas divisões que foram acentuadas no mandato de Trump.

Como seria natural, ouviram-se canções. Partilho aqui duas delas. A música, aliada às palavras, também faz muito sentido.

 

Tina Turner-Simply the best (lyric video)

Coldplay - A Sky Full Of Stars (Lyrics)

sábado, 7 de novembro de 2020

Conversa entre o afetivo, efetivo e também com afeto!

 

- Estou muito contente.

- O seu filho renovou o contrato?

- Ainda melhor: ficou afetivo. 

- Que bom ter ficado efetivo. É uma garantia.

- Ficar afetivo era o que ele mais queria e eu também.

- Então estão de parabéns por ele ter ficado efetivo.

- Nem quero acreditar.

- O seu afeto também ajudou.

- Ele é muito responsável e trabalhador.

- E afetivo também.

- Sim, agora é afetivo!

- Pois!

"Com Açúcar, Com Afeto" - Nara Leão

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Hoje, lembrei-me deste poema!


Modigliani, 1918

Bucólica

A vida é feita de nadas;
De grandes serras paradas
À espera de movimento;
De searas onduladas
Pelo vento;
De casas de moradia
Caiadas e com sinais
De ninhos que outrora havia
Nos beirais;
De poeira;
De ver esta maravilha:
Meu Pai a erguer uma videira
Como uma Mãe que faz a trança à filha.

Miguel Torga, Diário, 1941


quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Conversa com o Pai Natal dentro

 

- Pai, já sei os que presentes que quero para o Natal.

- Sim, filho, e o que é?

- Já pus cruzinhas na folha que recebemos da loja.

- Deixa ver. Mas são bastantes, filho. Fica caro.

- Pois é, mas eu tenho um truque.

- Um truque? E qual é?

- Eu escolho os mais baratos.

- E os outros? Ficam sem efeito?

- Não, os outros, peço-os ao Pai Natal!


quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Entrando, de novo, no barco O Dois Amigos, de Kirmen Uribe.

 

O livro de Kirmen Uribe não fala só de pintura, mas este tema é retomado no excerto que agora escolhi e partilho e no qual é referido um quadro famoso de Picasso.

As 182 páginas do romance trazem até ao leitor pedaços da vida de três gerações com viagens, encontros, desencontros, chegadas, partidas, criação artística ...

Todos os 23 capítulos têm um título.

Neste, há referência a Stornoay - cidade de uma ilha da Escócia.


 


Picasso - Les demoiselles de Avignon

George Braque - Man with a guitar

Picasso - Ma jolie


terça-feira, 3 de novembro de 2020

Biden ou Trump? O mundo com os olhos postos nos EUA

 Tal como qualquer cidadão, sinto apreensão

 pelo que hoje vai ser decidido (ou não!) nos EUA.

Confesso que nos últimos dias já me custa ver as imagens e escutar os sons

 daquele ser humano egocêntrico e corpulento, de cabelo

em barco, que goza com todos, menos com os seus que o defendem.

Não é só a democracia de um país que está em causa, mas o mundo, 

onde vão nascendo pequenos clones.


Para palavras mais sustentadas do que as minhas, 

partilho excertos do Expresso Curto de hoje, do jornalista João Silvestre, com o título

"Dia D nos EUA. Será de Donald ou de derrota?"

 

 "É 59ª eleição presidencial nos EUA. Mas não é uma eleição qualquer. Não apenas o país enfrenta uma violenta segunda vaga da pandemia como, apesar da recuperação do PIB no terceiro trimestre, vive sérios problemas na economia. Está em causa a reeleição de Donald Trump que, a confirmar-se, avisam alguns, pode ser um perigo para a democracia americana. Leia-se, por exemplo, o editorial do New York Times publicado a meio de outubro que classificava Trump como “a maior ameaça à democracia americana desde a Segunda Guerra Mundial”. Ou o texto do famoso colunista Thomas Friedman, no mesmo diário duas semanas antes, que recorria igualmente à história para colocar o nível da ameaça à democracia acima da Guerra Civil, de Pearl Harbour ou da crise dos mísseis de Cuba. Ou ainda as palavras de Clara Ferreira Alves no Expresso que avisava que se a eleição correr mal a Trump, não hesitará em atiçar as milícias da igreja de fiéis, e em desafiar a ‘lei e ordem’”.

Na verdade, há sinais de que as coisas podem complicar-se. Há quem garanta que Donald Trump tem um plano para ganhar mesmo não ganhando, antecipando a declaração de vitória antes de estarem contados todos os votos, ou que poderá tentar declarar uma fraude se os números não lhe forem favoráveis. Nada tranquilizador é o facto de as vendas de armas nos EUA terem disparado no mês de outubro (...).

A poucos dias da eleição, para gáudio de Trump, saíram os dados do PIB dos EUA no terceiro trimestre que deu um salto de 33,1% – na taxa actualizada, ou seja, quatro trimestres a crescer ao ritmo de 7,4% que foi o efectivamente registado naqueles três meses. Mas isso não esconde a dura realidade para o inquilino da Casa Branca: a pandemia e crise económica vieram baralhar drasticamente as contas de Trump que contava ter um ano 2020 de grande pujança (...).

A pandemia é um dos principais pontos de confronto entre ambos. Trump tem sido acusado pela forma como lida com a pandemia e, em particular, por não ter suficiente cuidado. Agora, um estudo da universidade de Stanford estima que os seus comícios tenham provocado 30 mil infetados e 700 mortos – uma notícia do Expresso com direito a reação da Casa Branca

(...)".

 

Elida Almeida - Bidibido

 
Elida Almeida nasceu em 1993, 
na cidade de Pedra Badejo, na ilha de Santiago, em Cabo Verde.
Esta canção, incluída no último disco da cantora,
foi sugerida há dias pelo jornalista Jorge Araújo, no Expresso Curto.
Para além da música, achei o vídeo maravilhoso.
Saliento os rostos das crianças e as mãos das mulheres nas tarefas quotidianas.
  
 

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Conversa com menos enfeites

 

 - Podes acreditar. Se quiseres, faz as contas.

- Sim, acredito, claro.

- Enfeitei a campa durante sessenta anos!

- Incrível. Uma vida.

- Sim, uma vida e quase sempre com flores cultivadas por mim e pelas minhas irmãs.

- Ainda melhor, então.

- Nunca gostei de comprar flores, preferia sempre as de casa.

- Que trabalhão! Boa homenagem a quem partiu.

- Foram os pais, foram os tios, foram irmãos...

- A família é grande.

- Agora, já não posso ir enfeitar nem tratar das flores.

- A vida atual é diferente, mas o seu exemplo será seguido.

- Não faltam catos por aí. Mas deixem ficar os que têm picos.

 

domingo, 1 de novembro de 2020

Os livros também são luzes


 

Gosto muito de livros que, para além de uma boa história, nos permitem conhecer e viajar pelo mundo.

O Dois Amigos, de Kirmen Uribe (escritor basco, de 50 anos), cumpre bem esses critérios.

Hoje, Dia de Todos os Santos, partilho um excerto do romance sobre um quadro.

Também achei muito interessante a ligação do que o narrador vai vivendo  com lembranças, vivências, questionamentos...

 

 


 

 

sábado, 31 de outubro de 2020

Halloween - com abóboras e luzes dentro!

 



quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Joan Baez & Paul Simon - The Boxer

'The Boxer'


I am just a poor boy
Though my story's seldom told
I have squandered my resistance
For a pocket full of mumbles
Such are promises
All lies and jests
Still a man hears what he wants to hear
And disregards the rest
When I left my home and my family
I was no more than a boy
In the company of strangers
In the quiet of the railway station
Running scared
Laying low, seeking out the poorer quarters
Where the ragged people go
Looking for the places
Only they would know
Lie la lie, lie la la la lie la lie, lie la lie
Lie la la la lie la lie, la la la la lie
Asking only workman's wages
I come looking for a job
But I get no offers
Just a come-on from the whores
On Seventh Avenue
I do declare
There were times when I was so lonesome
I took some comfort there
La la la la la la la… 
 
 

'Já tinha idade para ter juízo!'

 

Ela tem um quintal. Não é grande, mas suficiente para ter umas hortaliças, umas árvores, uns espaços com relva...

Cada vez gosta mais do quintal. Até arranjou um bocadinho a que chama o jardim da Clarinha para a neta que vive em Londres e que, por causa da pandemia, este ano não o verá. E para outros netos que poderão vir.

Pois bem, resolveu fazer uns arranjos para que tudo ficasse mais bonito e funcional. Abriu os cordões à bolsa (não sabia era que lhe meteriam a mão no bolso) e chamou um jardineiro que já conhecia de uns pequenos trabalhos. Combinaram o preço.

- Sim, aqui fica bem pedra pequena com tela por baixo para evitar as ervas daninhas. Aqui planto relva...

Chegou o dia em que a carrinha trouxe os materiais. Onde haveria pedra foi lançada casca de pinheiro (por acaso, até gostava mais, mas é muito mais barata) sem a tela, como havia sido combinado e que se usa sempre nestes casos.

Não via a tal relva para plantar. Pensou que estaria mais escondida. Passado pouco tempo, vai ao quintal e vê que a relva, afinal, estava a ser semeada, o que é bem mais barato.

O rosto fechou-se-lhe mas a boca abriu-se e disse o que achava que tinha de dizer ao jardineiro desonesto, que muito adaptou, menos o preço.

Ele virá reparar algumas coisas, e eu - porque disse ela, mas foi comigo que se passou - terei de reparar melhor que, de facto, há muitas pessoas em quem não se pode confiar. De facto, já tinha idade para ter juízo.

Resta-me uma esperança: que Trump perca as eleições!


quarta-feira, 28 de outubro de 2020

MEO fado!

 

Há poucos meses, decidi mudar para um pacote mais económico de telemóvel, porque achava que estava a pagar demasiado para os consumos que fazia.

Porém, quando se liga para a MEO (se calhar para as outras operadoras é a mesma coisa) para tratar de um assunto com um operador, dão-nos música tempos infinitos e assim perdemos, de cada vez, mais de uma hora da nossa vida. Com esta tática, muitas pessoas desistirão, o que acaba por dar jeito à operadora.

No final do diálogo, quem nos atende pede uma avaliação, de 1 a 10, relativamente à sua prestação. Depois de várias chamadas - umas mais amistosas do que outras - em que tive de contar sempre a mesma história, uma funcionária, muito calma e muito simpática, disse-me que sim a tudo e que já estava a efetuar as mudanças.

No final, perante o pedido de avaliação, eu dei o máximo, isto é, 10, porque ia pagar menos, não precisava de perder mais tempo a ligar e a senhora transmitia confiança e competência. Eu estava radiante.

Pois bem, no mês seguinte, a conta que me chegou era quase igual. Tinham mudado o pacote, sim, mas mantiveram as subscrições que eu, inexplicavelmente, pagava e que aumentavam imenso a conta.

Mais umas horas perdidas da minha vida até conseguir anular as tais subscrições. 

Na última ligação que fiz, a primeira coisa que eu disse é que não me pedisse a avaliação final, a menos que pudesse também avaliar a MEO. 

E tenho pena, porque foi a única funcionária que resolveu bem o que eu legitimamente pretendia.


terça-feira, 27 de outubro de 2020

Quando uma hora é mais do que uma hora

 

Precisava de estar pronta às oito horas. Podia levantar-me às sete e meia. 

Quando vi as sete, que bom, posso ainda ficar mais meia hora.

Sete e meia. Só mais um bocadinho. Quase adormeço.

Oito menos um quarto. Ui! Tão tarde.

Levanto-me a correr, vou à cozinha e ponho o café a fazer.

Abro a janela da sala, como é costume. 

Estranho, a janela da casa em frente já costuma estar aberta.

Está fechada e é dia há bastante tempo. 

Eles lá sabem e não há horas certas para abrir janelas.

Vou buscar o telemóvel para ver se tenho mensagens.

Não terei tempo para responder.

Quero estar pronta às oito horas.

Olho o ecrã com o relógio que nunca se engana!

Seis e cinquenta?

Ainda? Olho mais uma vez.

Sai-me um oh! de alívio e de quase felicidade.

Confirmo: seis e cinquenta.

Não, não vou acertar o relógio do quarto!