No início da minha adolescência, mudámos para uma casa maior que os meus pais tinham mandado construir, fruto de muito trabalho. Eu estava feliz. Várias coisas me encantavam na casa nova e uma delas eram as cortinas - fininhas, macias que iam quase até ao chão, ao contrário das da casa antiga que tinham apenas o tamanho dos vidros.
Um dia, com um brilhozinho ingénuo nos olhos, disse a uma pessoa de família que veio a nossa casa: estou tão contente, agora posso abrir os reposteiros logo de manhã! Ela olhou para mim e disse-me com ar sério e pesado: já pensaste que o teu pai pode ficar doente?
Foi como se visse a cortina a cair-me ao chão e a janela tivesse ficado escura de repente.
Isto já se passou há imensos anos, mas a imagem, com todas as suas dimensões, nunca deixou de morar na minha memória. Para mais, o que se passa no mundo, perto e longe de nós, muitas vezes é desanimador.
Por tudo isto, tenho alguma dificuldade em dizer que estou feliz, embora, felizmente, haja momentos em que o sinto. E, muitas vezes, por coisas simples que nem fazem história.
Se calhar, já é tempo de abrir essa cortina. Se a fechar, entra menos luz.
Bom dia
ResponderEliminarUm tema com uma sensibilidade muito grande e acho que deve estar feliz .
JR
Obrigada. Boas palavras tornam, também, felizes os momentos.
ResponderEliminarMuito bom abrir a cortina...deixar entrar o sol e o ar em jeito de renovação 🙏😘
ResponderEliminarO que também torna o momento feliz. Beijinhos, Gracinha, e bom domingo.
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