quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

A esperança corre mas não morre

 
Ele tinha a esperança de ainda ser feliz, embora guardasse só para si esta convicção ou desejo.
O que não escondia dos mais próximos, com uma gargalhada a pedir aprovação, é que ainda ia ganhar a maratona. Quem o conhecia bem sabia o que ele queria dizer: continuaria a fazer caminhadas, a andar de bicicleta, a comer regradamente, para manter a saúde.
Quanto ao amor, quando pensava nele, surgiam recordações da felicidade passada e imagens da infelicidade presente.
Ainda que remota e triste, mantinha a ilusão de que o amor dela voltasse a manifestar-se e pudessem viver juntos. Ou pelo menos sorrir um para o outro e trocar palavras bonitas.
Sentia que a sua vida já ia longa, mas tinha passado demasiado depressa, sem deixar tempo para ser vivida e repensada.
Não podia perder a esperança de voltar a ser feliz. E de viver o que não tinha vivido. De completar tantas lacunas. Não teria direito como ser humano?
A felicidade desejada, quem sabe, poderia acontecer em 2022.
Ah, e também ganhar a maratona. 
No ano em que completava 80 anos.

6 comentários:

  1. Nunca é tarde para o amor acontecer e ser-se feliz
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    Saudações cordiais
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    Pensamentos e Devaneios Poéticos
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    1. Mas às vezes não volta, como será o caso, mas, pronto, enquanto a esperança dura, o coração vai batendo.
      Um abraço

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  2. Que bom aos 80 anos lembrar-se ainda que houve um tempo, um olhar, um sorrir, um começo.
    Embora tudo tenha perdido o seu brilho, que bom poder dizer: Na minha vida só houve um abraço como o seu!!

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    1. Julgo que, neste caso, talvez tenha acontecido. Oxalá que sim porque, assim, a memória também traz um sorriso, ainda que traga outras coisas menos boas.

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  3. Hummmm...se a maratona for entre pessoas da mesma idade, por que não?!
    Quanto ao tipo de amor que o texto refere, cujo julgo possível em qualquer idade, precisa, para ser concreto, de duas pessoas que o sofram e estejam dispostas a ele. Por muito que a vida ensine, não me parece tarefa mais fácil que ganhar a maratona. Na maratona convém estar contra o outro, suplantá-lo; o amor é outra coisa, não releva do querer e exige um uníssono que, aos 80, já não move montanhas:). Mas o sonho é factor que teima em não nos abandonar. Sem ele, diversa seria a vida.

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  4. Aqui, como se trata de sonho, talvez pudessem entrar na maratona pessoas de outras idades. Talvez.
    Sim, também acho que o amor, tal como ganhar a maratona, é muito difícil, sobretudo aos 80 anos e se a outra pessoa não participa da mesma corrida.
    Oxalá a esperança continue a correr, se o ajudar a viver.
    Bom sábado, Bea.

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