terça-feira, 9 de abril de 2013

Monólogo da rececionista e o pão da princesa

1º momento
8 h da manhã. Percorro um longo corredor que leva a salas de consulta, numa instituição hospitalar.
A porta está ainda fechada. Há umas quatro pessoas à espera. Olham-se com um sorriso de simpatia e não pressa. Chega a funcionária. Em silêncio continuado. Abre a porta larga de par em par. Faz um gesto para as pessoas entrarem. Sobe as cortinas das janelas. Liga a televisão. Tira-lhe o som. Senta-se à secretaria. Suspira. Continua sem olhar para ninguém. Desfaz um montinho de folhas, separando-as.  Retira o letreiro "encerrado" e, voltado para baixo, põe-no em cima do armário. Pega numas capas e põe-nas nas prateleiras. Liga o computador. O silêncio continua, ou melhor, é (inter)rompido:                 
 - Ai não queres abrir? 'Tas cá com uma vontade. É!! Foi do trabalho de fim de semana. Qualquer dia, temos mesmo de vir trabalhar ao sábado. Isto está a ficar bonito. E a ganhar o mesmo, é claro. Mas os funcionários públicos são as ovelhas ranhosas. Não queres mesmo abrir? 'Ta-se mesmo a ver. Então, está bem. Eu espero. Ganho o mesmo. Ou melhor, cada vez ganho menos. Bom dia. Quem chegou primeiro? Foi o senhor? Nome... Eusébio? Sr Eusébio, pode aguardar.
 

2º momento
10 h. da manhã. Entro numa padaria. De lado de dentro do balcão, dizem-me:
- E nós, princesa?
- Quatro pães de cereais, por favor.
- E é só, princesa?
- Sim, obrigada.
- Quer fatura com número de contribuinte, princesa? Não tem mais pequeno, princesa?


3º momento (o de agora)
Eu, também funcionária pública, pego no computador e recordo o começo da manhã de 2ª f. E digam(-me) lá se não foi uma maneira de começar bem a semana. 
Nem sempre se começa de forma tão real!!


4 comentários:

  1. Diz lá que não te apeteceu perguntar:
    - Ó príncipe, corriges sozinho os trabalhitos que tenho aqui?
    Sem resposta e sem as correções feitas, lá vem a moral da história: já não há príncipes como antigamente.

    Beijinho.

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    1. Ai que isto de trabalhos para corrigir afeta tanto os príncipes e as princesas! Não haver uma varinha mágica (sem ser a da sopa, é claro)!

      beijinho
      M.

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  2. Gostei muito do tratamento na Padaria :)

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    1. Vi que era tratamento habitual! Que me chamem menina (quando já podia ser mãe ou avó de quem chama!), tudo bem, mas princesa é que nunca tinha acontecido!

      Beijinho

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