terça-feira, 16 de abril de 2013

Era uma vez... uma Vida (em) comum!





Era uma vez um menino, filho de um casal que viria a ter nove filhos. O pai era ourives e a mãe dedicava-se à lida da casa e à família numerosa. Joaquim foi o primeiro filho e sobre ele recaíam muitas responsabilidades.

Muito perto, quando Joaquim tinha apenas um mês de idade, nasceu Rosa, uma menina que era a sexta criança de um casal que viria a ter treze filhos. O pai era lavrador e a mãe ocupava-se dos trabalhos domésticos, do campo e da família numerosa.

Assim, Joaquim e Rosa cresciam, respirando os mesmos ares, mas só mais tarde os seus olhares se cruzariam.

Os dois foram excelentes alunos, mas aos dez anos não puderam continuar os estudos, porque o tempo e a vida não iam de feição. Como aprendiam muito bem, Rosa nunca esqueceu os versos e as cantigas ensinados pela D. Berta, a dedicada professora que, na escola primária, ensinava, todos os anos, as turmas de meninas. Para além de ler, escrever e contar, a professora ensinava a coser, a bordar… E, já passados muitos e muitos anos, Rosa repete longas histórias em verso que em menina aprendeu. Essa foi também uma base para Rosa gostar de escrever e partilhar versos como tem feito ao longo da vida.

Enquanto Rosa ajudava nos trabalhos do campo e da casa, Joaquim ajudava a fabricar brincos, pulseiras, colares e outras peças, tanto em ouro como em prata. Nesse tempo de juventude, Rosa também fiava o linho. É sempre com um brilhozinho nos olhos que Rosa fala do prémio ganho num concurso no Palácio de Cristal.

E também de todos os passos que sabia dar para que o linho fosse semeado, tratado, colhido e tecido. Os dias também eram preenchidos por frequentes idas à Igreja e por longas temporadas em Castelões, a cuidar do irmão João que era sacerdote.

 O tempo passava, Joaquim tornava-se um belo homem, trabalhava muito e gostava de ler nos momentos livres. A literatura cativava-o e todos os anos ia à feira do livro, no Porto, onde comprava obras dos seus autores preferidos, como Camilo Castelo Branco, escritor que despertaria nele uma grande paixão ao longo da vida. As histórias deste autor fascinavam-no e gostava de colecionar os seus livros. Muitos deles eram oferecidos a Rosa, a mulher da sua vida. Na dedicatória, escrevia o nome completo de Rosa, com letra expressiva e desenhada.

Joaquim tinha olhos azuis e cabelo claro; o cabelo de Rosa era negro e os olhos amendoados.

Como eram jovens e belos não faltavam olhares pretendentes.

Ainda não foi dito, mas Rosa, quando estava na residência do seu irmão padre, às vezes chorava, porque tinha saudades da casa onde nascera e vivera, assim como do resto da família.

Joaquim era amigo de António, um dos irmãos mais velhos de Rosa. Um dia, estando Rosa em Castelões, António foi visitar Rosa e o irmão padre. Convidou Joaquim para lhe fazer companhia e lá foram os dois até à casa do Sr Prior, como os paroquianos lhe chamavam.

Durante a visita, Joaquim reparou melhor em Rosa e também ela não olhou Joaquim com indiferença. Ele via nela uma bela história de amor; ela via nele um motivo de amorosa oração.

Começava o tempo de enamoramento. Rosa, regressada à casa materna, começou a namorar com Joaquim. Ao domingo, davam curtos passeios através dos caminhos entre os campos da família. O que diziam apenas se imagina e o que faziam também não se sabe ao certo, mas o que se sabe é que havia sempre alguém por perto.

Aos 21 anos, no dia 8 de abril de 1948, casaram na Igreja Matriz. Rosa de saia e casaco claros, segurava um ramo de jarros que, juntamente com a verdura, caíam em cascata. Joaquim ia de fato escuro. Logo a seguir ao casamento, foram viver para uma casinha pequena. Depois, mudaram-se para outra um pouco maior, onde nasceram duas lindas meninas. A primeira menina tinha os nomes da mãe e das avós; a segunda chamava-se Maria e o outro nome, se calhar, vinha por inspiração de alguma canção ou cantora da época.

 As meninas iam crescendo por entre as flores que a mãe cultivava, amor supremo mantido ao longo da vida. Brincavam e usavam uma batinha que a mãe tinha feito numa máquina de costura Singer - tão eterna como as recordações.

Entretanto, um outro menino nasceu, mas quase logo foi levado pelos anjos. Rosa, olhando o céu à noite, dizia que “o menino” era agora uma das estrelas. As meninas procuravam a luzinha mais cintilante com os seus olhos inocentes e acreditavam nas palavras da mãe.

Vencidas algumas dificuldades, a família mudou-se para uma casa maior, onde havia uma laranjeira. A horta era a paredes meias com a casa onde Rosa tinha vivido até casar. A água era retirada do poço de família. Atrás da casa, ficava a oficina onde muitas peças de filigrana se fabricavam.

 Um par de anos mais tarde, nasceu outro filho. Como era o mais novo era o menino de seus pais e de suas irmãs.

Rosa e Joaquim tiveram, assim, quatro filhos, muitas canseiras, muitas preocupações, mas também muitas alegrias, embora, por uma questão de pudor, não falassem tanto delas.

Os filhos eram honestos, trabalhadores e revelavam bons sentimentos. A mais velha sempre foi muito habilidosa de mãos e herdou do pai o gosto pela leitura; a do meio também herdou o gosto pela leitura e de alinhar algumas palavras; o mais novo era empreendedor, reconhecendo que o sucesso de uma empresa reside também no reconhecimento do trabalho de todos.

 E os filhos tiveram outros filhos. Sete são os netos de Rosa e de Joaquim. E não é por acaso que sete é número mágico.

E a neta mais velha também já premiou a família com duas belas meninas que amam, ouvem e respeitam toda a família.

E outro bisneto vem a caminho.

65 anos de vida em comum. Rosa e Joaquim são os protagonistas de uma história de amor que, apesar de ser real, poderia começar por Era uma vez…  
Uma história talvez comum. Menos comuns são os casamentos com 65 anos! Uma Vida!



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