Conto argelino
Esta
é a aventura do famoso Jouha. Na Argélia chamam-lhe Jha, ou então, Ben
Sakrane. Mais a leste, conhecem-no como Nasredin Hodja. Na realidade,
trata-se de Tyl Eulenspiegel ou de Jean le Sot: o louco que vende a sua
sabedoria, aquele que zurra como um burro para ser ouvido, e que às
vezes é dono de uma esperteza imbatível.
Um dia, Jha encontrou alguns amigos prontos para combater. Tinham escudos, lanças, arcos e aljavas cheias de setas.
— Onde vão nesses preparos? — perguntou-lhes.
— Não sabes que somos soldados profissionais? Vamos tomar parte numa batalha, que promete ser dura!
— Ótimo,
eis uma oportunidade para ver o que acontece nessas coisas de que ouvi
falar mas que nunca vi com os meus próprios olhos. Deixem-me ir
convosco, só desta vez!
— Está bem! És bem-vindo!
E lá foi ele com o pelotão que se ia juntar ao exército no campo de batalha.
A
primeira seta acertou-lhe em cheio na testa! Depressa! Um cirurgião! O
médico chegou, examinou o ferido, meneou a cabeça e declarou:
— A ferida é profunda. Vai ser fácil remover a seta. Mas, se tiver a mais ínfima parte de cérebro agarrada, está perdido!
O ferido pegou na mão do médico e beijou-a, exprimindo a sua “profunda gratidão para com o Mestre”, e declarou:
— Doutor, pode remover a seta sem medo; não vai encontrar a mais ínfima parte de cérebro nela.
— Esteja calado! — disse o médico. — Deixe os especialistas tratarem de si! Como sabe que a seta não atingiu o seu cérebro?
— Sei-o bem demais — disse Jha. — Se eu tivesse a mais pequena partícula de cérebro, nunca teria vindo com os meus amigos.
Margaret Read MacDonald
Peace Tales
Arkansas, August House Publishers, Inc., 2005
(Tradução e adaptação)
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