segunda-feira, 4 de maio de 2015
"Bebé real" - muitos assentos mas só um acento!
"As eleições inglesas entram na reta da meta, com os eleitores a votarem já na quinta-feira. Nos últimos dias, a campanha teve que dividir as atenções com o novo bébé real, mas agora a luta continua".
Este é um pequeno excerto de hoje do Expresso curto on line. Sempre direto e atual.
Pois é, a princesinha recém-nascida vai ter direito a assento em muitos momentos da vida real (leia-se do reino, porque a realidade, muitas vezes, é bem diferente).
Porém, a palavra bebé só tem um acento gráfico (neste caso, agudo).
Em Português, as palavras só têm um acento gráfico. Em vocábulos como sótão, por exemplo, o til serve apenas para marcar a nasalidade.
Por isso, felicidades ao bebé real, mas tratemos também das nossas porque a realidade não anda lá muito feliz. Este "lá" é "cá", é claro.
domingo, 3 de maio de 2015
"Palavras para a Minha Mãe"
Monet |
mãe, tenho pena. esperei sempre que entendesses
as palavras que nunca disse e os gestos que nunca fiz.
sei hoje que apenas esperei, mãe, e esperar não é suficiente.
pelas palavras que nunca disse, pelos gestos que me
pediste
tanto e eu nunca fui capaz de fazer, quero pedir-te
desculpa, mãe, e sei que pedir desculpa não é suficiente.
às vezes, quero dizer-te tantas coisas que não consigo,
a fotografia em que estou ao teu colo é a fotografia
mais bonita que tenho, gosto de quando estás feliz.
lê isto: mãe, amo-te.
eu sei e tu sabes que poderei sempre fingir que não
escrevi estas palavras, sim, mãe, hei-de fingir que
não escrevi estas palavras, e tu hás-de fingir que não
as leste, somos assim, mãe, mas eu sei e tu sabes.
José Luís Peixoto, in "A Casa, a Escuridão"
tanto e eu nunca fui capaz de fazer, quero pedir-te
desculpa, mãe, e sei que pedir desculpa não é suficiente.
às vezes, quero dizer-te tantas coisas que não consigo,
a fotografia em que estou ao teu colo é a fotografia
mais bonita que tenho, gosto de quando estás feliz.
lê isto: mãe, amo-te.
eu sei e tu sabes que poderei sempre fingir que não
escrevi estas palavras, sim, mãe, hei-de fingir que
não escrevi estas palavras, e tu hás-de fingir que não
as leste, somos assim, mãe, mas eu sei e tu sabes.
José Luís Peixoto, in "A Casa, a Escuridão"
sábado, 2 de maio de 2015
A bailarina que perdeu um sapatinho
Degas |
Na rua e estava a chover
Quando a bailarina reparou
Voltou para trás a correr
Com uma grande angústia
Só lhe apetecia chorar
Porque sem o sapatinho
Não poderia dançar
E para o concurso de dança
Muito público tinha chegado
Mas o que faria no palco
Com um pé descalço e outro calçado?
Largou o grupo e desceu
Por onde há pouco tinha subido
Sentindo o maior desgosto
que até então tinha sofrido
E sempre sempre a correr
Com pernita musculada
Olhava para toda a parte
Mas não encontrava nada
Até que ao fundo viu rosa
Mas não era nenhuma flor
Era o seu sapatinho
De que tão bem conhecia a cor
Ficou feliz e abraçou-o
Como se abraça um ente amado
Agora podia dançar
No palco tão desejado
E nem se ia lembrar
De que podia escorregar
Porque o sapato... estava molhado!
Hoje, logo de manhã, houve um espetáculo
de dança
no Teatro do Campo Alegre, no Porto - Parabéns, Maria!
Ao subir a rua, vi uma bailarina a
apanhar um sapatinho,
cor-de-rosa, do chão molhado.
Daí estas quadras. Bem simples.
Gostei das danças. Bem complexas.
sexta-feira, 1 de maio de 2015
Aqui
Aqui, deposta enfim a minha imagem,
Tudo o que é jogo e tudo o que é passagem,
No interior das coisas canto nua.
Aqui livre sou eu — eco da lua
E dos jardins, os gestos recebidos
E o tumulto dos gestos pressentidos,
Aqui sou eu em tudo quanto amei.
Não por aquilo que só atravessei,
Não pelo meu rumor que só perdi,
Não pelos incertos actos que vivi,
Mas por tudo de quanto ressoei
E em cujo amor de amor me eternizei.
Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'Dia do Mar'
Tudo o que é jogo e tudo o que é passagem,
No interior das coisas canto nua.
Aqui livre sou eu — eco da lua
E dos jardins, os gestos recebidos
E o tumulto dos gestos pressentidos,
Aqui sou eu em tudo quanto amei.
Não por aquilo que só atravessei,
Não pelo meu rumor que só perdi,
Não pelos incertos actos que vivi,
Mas por tudo de quanto ressoei
E em cujo amor de amor me eternizei.
Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'Dia do Mar'
quarta-feira, 29 de abril de 2015
terça-feira, 28 de abril de 2015
segunda-feira, 27 de abril de 2015
sábado, 25 de abril de 2015
Obrigada, 25 de Abril!
Partilho, aqui, um breve testemunho de duas jovens que, felizmente, nasceram em Liberdade.
Este pequeno texto e outros que recebi
são simples mas belas celebrações do 25 de Abril. Obrigada.
Este pequeno texto e outros que recebi
são simples mas belas celebrações do 25 de Abril. Obrigada.
Ontem não
fomos ao Facebook… Fomos procurar uma realidade passada, relativamente
recente até. Percebemos como era viver antes do 25 de Abril ou,
deveremos dizer, sobreviver. Fomos confrontadas com expressões como
PIDE, opressão, tortura, falta de liberdade de expressão, lápis azul,
colónias portuguesas, desigualdade de géneros e pobreza. Percebemos, mas
não sentimos… Porque, graças à luta de outros, hoje podemos dizer que
somos livres! Alegramo-nos em dizer que podemos reunir-nos com os nossos
amigos, sem medo e sem restrições de horário pelos nossos pais… É tão
bom partilhar com o mundo a nossa opinião, independentemente se vai ou
não ao encontro de entidades “superiores”. É tão bom ser mulher não
sendo dependente de um homem nem servindo sobretudo para a realização das
tarefas domésticas. Agora pensamos e agradecemos todos os dias a
variedade de comida, de tecnologia, de oportunidades de educação ao
nosso dispor. No final da página, na Internet, lia-se : ” Somos livres,
somos felizes, somos sonho, somos expressão, somos NÓS. Obrigada, 25 de
Abril!! “
Rita Carvalho e Liliana Lopes, 11º 3 (ESG)
Nota: Outros textos poderão ser lidos em Letras não são tretas,
mencionado em "A minha lista de blogues".
Nota: Outros textos poderão ser lidos em Letras não são tretas,
mencionado em "A minha lista de blogues".
sexta-feira, 24 de abril de 2015
Liberdade
Clarice Lispector - O pássaro da Liberdade |
Rezava o padre-nosso que sabia,
A pedir-te, humildemente,
O pio de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.
— Liberdade, que estais na terra...
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.
Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
— Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.
Miguel Torga, in 'Diário XII'
quinta-feira, 23 de abril de 2015
segunda-feira, 20 de abril de 2015
Uma exposição, um livro, um anúncio e duas fatias de quiche. Simplesmente.
Ir a um Centro Comercial ao fim da tarde de segunda-feira pode não ser mau; ter tempo, enquanto o carro é lavado e não haver compras obrigatórias a fazer é muito melhor.
Foi o que aconteceu hoje. Para além da exposição de pintura - presente em Arte no Parque - entrei na Bertrand e comprei um livro de Luís Sepúlveda. Só estava eu como cliente e falámos sobre alguns livros - porque, muitas vezes, quem vende livros também lê e gosta do que lê.
Vi também, num pequeno expositor, em cima do balcão, o anúncio de um "Porto de Encontro" com João Tordo, no dia 26 de abril (Casa das Artes).
Ah, e comprei duas fatias de quiche numa loja de produtos (ditos) naturais.
Se pudesse, saboreava mais vezes um final de tarde assim. Simples(mente).
Arte no Parque - Com Memórias
Fernando Neves é um artista de Rio Tinto que expõe, atualmente, no Parque Nascente de Gondomar, quadros a lápis e aguarela aos quais deu o título "Memórias de Rio Tinto".
Vi a exposição e gostei muito. Das fotografias que tirei, selecionei esta (peço desculpa pela luz do flash), porque me lembra os campos e as casas da minha infância (passada não muito longe de Rio Tinto).
Quando vi a exposição, hoje, pelas sete da tarde, havia sossego no Centro Comercial. As pinturas ajudavam a saborear a tardinha (gosto desta palavra de final da luz do dia) sem correrias e com as cores que os pintores sabem reunir, preservando tantas memórias.
Nas longas horas de bulício, aquele espaço (em frente ao Jumbo) poderá ser um pequeno oásis em que cada um, só ou acompanhado, revisitará muitas situações observadas ou vividas.
Não tivesse a arte a arte de construir memórias.
Não tivesse a arte a arte de construir memórias.
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