sábado, 23 de novembro de 2024

As tranças


Tenho poucas fotografias minhas da minha infância. Tenho pena, mas nas que tenho lá está o cabelo preto, liso, risco ao meio e duas tranças grossas que logo se desfaziam se não fossem presas por elástico. O cabelo, ao contrário de mim, era quase indomável.

E agora vejo como deviam ser bonitas as tranças, que sempre achava que não, porque as das outras raparigas ou eram mais finas ou eram mais claras ou tinham caracóis. Como as da minha irmã. 

Porque será que só valorizamos as coisas passado algum ou muito tempo?! Ou quando já não as temos?

Chegada a adolescência, o grande desejo era cortar as tranças. Davam muito trabalho. Eram coisa de criança. Não condiziam com meias de vidro nem com sapatos de tacão fininho.

O pior era permissão para cortar o cabelo. Nem pensar! E não havia meio de convencer a mãe para a mãe convencer o pai.

Como solução, esperada como provisória, o risco do cabelo passou para o lado e o cabelo das duas tranças uniu-se numa só. Era bonita, mas, naquela altura, não sabia.

Porém, a insistência em cortar o cabelo continuou até que palavras desejadas se fizeram ouvir. Mas só em parte.

- Pronto, podes cortar, mas só um pouco para continuares a fazer a trança. 

Como o desejo era grande e a trança também, sucedeu-se a insistência e o resultado foi de novo:

- Pronto, podes cortar o cabelo, mas só um bocado. 

Passados alguns meses e alguns cortes, já não havia comprimento de cabelo que desse para a trança. Tinha valido a pena!

E o sorriso (vejo agora que era bonito) adolescente abria-se ao espelho que mostrava o escovar do cabelo tão negro que me perguntavam se o pintava. Eu ficava incrédula com a pergunta e encontrava consolo em histórias que falavam de ‘cabelo de ébano’ de uma personagem.

Se calhar, agora não achava piada a essas histórias, mas gosto muito de tranças, tenha o cabelo a cor que tiver.

 Pode ser que as faça à minha neta quando cá vier pelo Natal. Quando lhe contei que, na idade dela, tinha cabelo longo, muito preto e duas tranças grossas, ela sorriu, ajustando a bandolete que ajuda a prender o cabelo forte e castanho-claro. Um lindo cabelo que não gosta de cortar.



2 comentários:

  1. Bom dia
    Como era linda a menina das tranças pretas .

    JR

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    1. Como cantava o Vicente da Câmara, não era?
      Bom domingo!

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