Nilda já não dançava desde o tempo de namoro. Nesse tempo, adorava os bailes de garagem. Na memória, lá estava sempre um velhinho e pequeno gira-discos, que às vezes arranhava o disco e fazia parar a dança. E, nas capas dos discos, lá estavam os ídolos: a Rita Pavone, o Nelson Ned, o Adamo, o Gianni Morandi, a Francoise Hardy, o Elvis Presley…
Muitas vezes, o espaço era pequeno e o calor apertava nos abraços dos slows, ou nos twists desajeitados e rodopiados.
Augusto ia de fato e gravata. Naque tempo, já gostava de fato claro, mesmo no inverno, e os sapatos brancos também contavam com a sua predileção. A mãe de Nilda, que sabia muitos provérbios, disse um dia de mau humor: Sapato branco em janeiro, sinal de pouco dinheiro.
Nilda sabia bem do desamor dos pais por Augusto, mas ele era tão sedutor e meigo a dançar que a fazia esquecer de tudo o resto. Os dois corpos encaixavam-se e confortavam-se.
Às vezes, pensava: mas a vida não é só viver abraçada a dançar. De facto, havia coisas nele de que não gostava, como fumar e cuspir para o chão, mas o que prevalecia eram os carinhos nos bailes e um dia ele até lhe disse: vou fazer de ti uma princesa, o que a fez esquecer as conversas que ele não sabia manter e de que ela gostaria muito.
Os pais não gostavam dele, mas ele parecia assegurar-lhe uma vida com beijos e abraços que em casa nunca tinha tido. E que tanta falta lhe haviam feito. O resto viria por acréscimo.
Veio o casamento e, afinal, a prometida princesa nunca o seria e ele, por sua vez, achar-se-ia um príncipe de um reino pobre no qual sentia o direito e poder de mandar.
Tudo isto pensava Nilda enquanto se dirigia ao baile de domingo numa tarde de sol. A meio do caminho, pensou voltar para trás. Vir para casa, ligar a televisão e passar a ferro. Ainda se levantou do assento da camioneta. Não, disse para si própria, vou ao baile, como tinha decidido. Nada me fará recuar. E voltou a sentar-se já sem hesitação.
Será que dona Nilda vai encontrar no baile o seu príncipe encantado?
ResponderEliminarAbraço e saúde
Pois, Elvira, ainda não sei. Todos os dias vou acrescentando ( há alturas da nossa vida em que escrever ainda é melhor e mais necessário?) histórias à história, mas, com a experiência que teve, acho que Nilda já não acreditará em príncipes encantados.
ResponderEliminarUm grande abraço