Ontem, 24 de junho e dia de S. João, era feriado no Porto. Como vivo em concelho vizinho, verifica-se um misto de procedimentos. Há quem folgue e quem trabalhe; veem-se portas abertas e outras fechadas… Tudo parece acontecer a meio gás. E não é que acho piada a isso?
Pois bem, logo pensei: tenho análises para fazer e será da maneira que não encontro fila. E, pelas oito da manhã, lá estava eu. Fui a primeira, disse-me a enfermeira que logo me perguntou se eu tinha feito o jejum necessário, porque a noite tinha sido de folgar até tarde, com sardinhas e febras à mistura.
Confirmei. Não, não fui à festa, disse eu. E fiz-lhe a mesma pergunta, porque não havia ninguém à espera e o gabinete era só nosso. Tinha feito a festa em casa, disse ela. E ainda falámos das correntes no rio Douro que quase impediam o fogo de artifício na Ribeira, o que estragaria a Festa. No final, desejámo-nos um bom dia de S. João.
Já junto ao balcão:
Olá, não me estás a conhecer?
Claro que estou, como estás?
Estou cheia de caruncho, ando manca… venho fazer exames.
E a conversa continuou mais um pouco neste tom. E, olhando-lhe o rosto, parecia que ainda há pouco éramos adolescentes, dávamos alegres gargalhadas, tínhamos sonhos e os olhos sorriam com os namoricos.
Volto para casa. Deito de comer à Castanha e são poucos os carros que passam na rua. Sabe-me bem o silêncio. Até as hidrângeas dos canteiros me parecem mais nítidas e bonitas.
Talvez seja boa altura para ir também à Loja do Cidadão tirar os documentos que me faltam. Procuro na net. Há serviços abertos.
E fui.
Afinal, também à Loja do Cidadão estava a meio gás, isto é, uma porta estava aberta, outra fechada.
As pessoas em espera contavam-se pelos dedos. Tiro a senha. Vejo alguém a fixar-me e a sorrir. Alguém que conheço há muitos anos e que, apesar de nos encontrarmos poucas vezes, temos sempre assunto. Daí a nada, estávamos com os telemóveis a mostrar as fotos dos netos - para cada um de nós os mais lindos do mundo.
Quando chegou à minha vez, tratei metade dos assuntos que queria, nada mau, em dia de S. João, um dia a meio gás, com bocadinhos bons de suaves e antigas amizades dentro.
De regresso a casa, ouvi o podcast ‘O coração ainda bate’, de Inês Meneses. O episódio de hoje - A idade maior - fala do ‘privilégio da amizade’.
https://podcasts.apple.com/pt/podcast/o-cora%C3%A7%C3%A3o-ainda-bate/id1543484053
Em dia de instituições a meio gás, soube bem ouvir este programa tão bem escrito, tão bem dito, tão profundamente arquitetado, e que dura apenas 6 m. O dia continuou amigavelmente devagar. Gosto de dias assim.
Afinal, na vida, ainda existem dias bons, saudáveis, bonitos. Que a fé e a esperança nunca abandonem um coração. Felicidades.
ResponderEliminarTambém gosto de dias assim... 😘
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