segunda-feira, 3 de junho de 2024

A guia

 

Era tarde de sábado, não chovia, o que era bom para fazermos a visita guiada já marcada à City, em Londres.

Chegámos ao ponto de encontro - de vários grupos para diferentes visitas - bem perto da majestosa Torre de Londres. Como ainda faltavam alguns minutos e um espaço verde se estendia ao nosso lado, o mais pequenino começou logo a correr na relva e a mais crescida a fazer a roda, toda consolada.

Chegaram as catorze horas - a mesma hora no Porto, como dizem nos aviões - e aproximámo-nos de uma guia. Sim, seria ela a guia da visita à City.  Éramos doze visitantes, incluindo as nossas duas crianças. 

Começámos por uma zona muito antiga, onde em séculos anteriores vivia muita gente que acabou por morrer ou afastar-se devido ao grande incêndio de Londres, ou à chegada do comboio, ou à primeira guerra mundial.

Ora, a este texto dei o título ‘A guia’ e ainda não falei dela. Pois bem, teria uns sessenta anos, era muito expressiva, parecia bem informada e tinha sentido de humor. Ah, e fazia muitos gestos com as mãos pequenas e magras, sobressaindo as unhas muito compridas. Usava gabardina preta e, ao ombro, um saco vermelho de tecido, já bastante usado e que nunca saía do sítio.

Como eu gostaria de ter percebido muito mais do que ela dizia. Às vezes, quando as pessoas se riam, eu apenas sorria por simpatia. O que vale é que a minha filha que vive em Londres ia-me fazendo o ponto da situação.

Circulando entre os edifícios modernistas, espelhados e altíssimos, fomos sabendo também que há alguns que deviam ser implodidos, mas que não o são por falta de espaço. 

No final, a guia, que havia sido professora, elogiou o comportamento dos nossos meninos. Ficámos contentes. 

Sabe elogiar e olhar para todos enquanto comunica, pensei eu.

Terminámos a visita numa praça bonita, onde, no subsolo, havia ruínas romanas. A guia despediu-se de todos com o sorriso que sempre manteve ao longo das duas horas sempre a comunicar e imaginei-a a chegar a casa e a estender os braços e as pernas no sofá-alivio.

Felizmente na praça também havia bancos e logo procurei um. Que bom poder descansar um bocadinho, pensava eu, enquanto a minha neta aproveitava a praça com pouca gente para correr e fazer a roda. Que bom poder fazer mais movimento, pensaria ela. 



4 comentários:

  1. É assim mesmo. Enquanto a idade nos pesa nas pernas, as crianças nunca se cansam.
    Gostei do texto
    Abraço e saúde

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    1. Sabemos do que falamos, não é verdade?
      Outro abraço, querida Elvira, e muita saúde.

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  2. Belo texto. Obrigado pelo compartilhamento.

    Boa semana!

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    Até mais, Emerson Garcia

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