Quadro 1
Durante largas semanas, ela chegava diariamente pelas
nove da manhã. Saía da camioneta e ficava no passeio junto à rotunda, de braços ao longo do corpo, e voltada para a estrada.
Seguia os carros com o olhar e, se começava a rir, não mais parava. Ria-se
sem controle e sem ruído.
Ao fim da manhã,
sempre sozinha, afastava-se e voltava no dia seguinte.
Porém, um dia não veio. Nem na manhã seguinte. Nem na outra que se lhe seguiu. Nem nessa semana. Nem nunca mais.
As pessoas, que passavam a essa hora e se haviam habituado a
vê-la, falavam dela, se vinha a propósito ou não havia outro assunto.
Depois,
com o tempo, deixaram de falar. Os dias vão trazendo novas peripécias que fazem esquecer outras. Tal como com as pessoas.
Um dia, alguém viu um homem a atirar um
beijo para o lugar onde a mulher passara muito tempo a rir-se sem controle e sem ruído.
Alguém contou, ou inventou, que ele tinha sido seu namorado, que os sorrisos dela, ainda bonitos e calmos, haviam sido só para ele, mas que a ele outros sorrisos passariam a interessar.
Depois de atirar o beijo à presença imaginária da mulher que não parara de rir, o homem, sem controle e sem ruído, foi visto a chorar.
Estranho lugar para desenvolver uma história estranha, Maria. Casam bem um com o outro. Mas conseguiu.
ResponderEliminarBom dia e um óptimo fim de semana.
Habitualmente, Bea, surgem-me situações mais soft.
ResponderEliminarComo vi várias vezes estas duas mulheres, andavam-me na cabeça por estes dias. Juntei um bocadinho de ficção ao final.
Isto de ser humano às vezes é estranho, sem deixar de ser humano, é claro.
Um dia bom e sereno.
:), verdade, não somos sempre estereótipos.
ResponderEliminarBelíssimo conto, conciso mas com uma teia enorme de caminho dentro de si.
ResponderEliminarGostei muito, parabéns
Gostei.
ResponderEliminarHá pessoas que nos habituamos a ver (até aqui na net, perfeitos desconhecidos) e que quando desaparecem, nos questionamos, com verdadeiro interesse, o que pode ter acontecido.
Beijinhos, bom domingo:))