Hoje resolvi tirar o dia para mim, sem tirar o carro da garagem. Levantei-me cedo e o pequeno almoço foi o do costume, mas talvez mais devagar. Reforcei a caneca do café várias vezes e a minha compota de framboesa no pão escuro soube-me bem.
Fui regar o jardim e o quintal. Já não o fazia há uns dias. À hora em que o sol aquece menos, tenho tido outras coisas para fazer. Não sei se mais importantes, mas que, para mim, tinham de ser feitas. Neste momento, as plantas estarão a saborear a frescura da água que lhes dei a beber pela fresca.
Depois a mangueira deu sinais de o precioso líquido ter esgotado por umas horas. Desliguei o interrutor. Descansa, recupera o fresco alento, pensei eu. Hoje não te canso mais. Mereces o descanso. Sei que amanhã voltarás, água do meu poço tão antigo e tão presente. E cada vez mais necessário.
Agora escrevo as minhas coisas, que serão pequenas, mas que sem elas a minha vida não seria a mesma coisa. E não me posso queixar. Isso seria uma afronta e desrespeito para tanta gente com tanta carência e tanto sofrimento.
E também quero ler. Avançar nas páginas do livro que ando a ler de Afonso Cruz - um escritor-poeta-ilustrador-músico... De corpo grande e largo. E também o sorriso. Parece quase ingénuo, mas não é de certeza. Deve é conhecer verdades que muitos desconhecem.
Também a mim - eu que não sou nada disso (a não ser no corpo) - já me chamaram lírica várias vezes. E também ingénua. Se calhar, até sou, embora ache que não sou, mas, neste momento, não estou preocupada em pensar se o sou ou não sou.
Pronto, estou a tirar o dia para mim. Tirar um dia para si também pode saber bem.
Bom sábado e que seja um sábado que a todos saiba bem.