Quando saímos do apartamento, as minhas filhas eram muito pequenas. Eu ia com elas a um pediatra que me disse ir mudar de local do consultório e deu-me a nova a morada. Que coincidência, pensei eu. Ele tinha alugado o nosso ex-apartamento, para espaço de trabalho.
Na consulta seguinte, lá fui eu com as meninas. No que era sala de visitas e sala de jantar, funcionavam escritórios; a cozinha era a sala de espera para o médico e a casa de banho era comum. À entrada, ainda lá estava o papel que eu havia colado no armário do quadro elétrico e reconheci um autocolante engraçado na parede da cozinha (agora sala de espera), deixado pelas minhas crianças. Não podia conter alguma emoção, porque, apesar de estar tudo bastante diferente, via marcas do tempo em que lá tínhamos vivido.
Ora, o consultório era precisamente no lugar que tinha sido o quarto. Quando entrei com as minhas filhas, ainda quase de colo porque a diferença de idades é pequena, logo contei ao pediatra que tinha vivido naquele apartamento. Contudo, o que tem uma carga emotiva para uns pode não a ter para os outros, porque as vivências também diferem. Foi o que aconteceu. Para ele, seria apenas o novo espaço de trabalho. Mudámos de assunto e a consulta decorreu normalmente.
Quando saí, acho que ainda olhei para trás, sentindo, porém, que aquele espaço já se tornara para mim bem mais distante. Como vai acontecendo ao longo da vida. Embora permaneçam emoções à flor da pele.
Quando acontecem essas coincidências existe sempre em nós uma certa nostalgia. Imagino que só quem passa por esse experiência o pode avaliar.
ResponderEliminar.
Feliz fim de semana
Cuide-se
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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E não é que há mesmo coincidências!
ResponderEliminarSim, há sempre alguma nostalgia, mas os momentos vão sucedendo e a vida vai revelando outras coisas.
É verdade, Ricardo. Temos mesmo que nos cuidar.
Feliz fim de semana também, Ricardo.
Ele vivia preocupado (mas eu creio que amargurado) a quem deixar a sua extensa, não lhe chamava biblioteca, mas coleção de livros. E que coleção! Era um eclético, tinha o que de melhor havia em cada género; maioria ficção, desde o romance (muito) ao policial, thriller, passando pelo ensaio, poesia (pouca), filosofia (alguma).
ResponderEliminarA filha não cultivava o hábito nem o gosto da leitura, pelo que lhe restava uma sobrinha (não consanguínea) e que via com um franzir de sobrancelhas, contudo a sua grande esperança e alívio, residia no futuro genro, que a haver, nesta altura nem futuro nem projeto era.
Portanto cara Maria Dolores, pior que ver a sua casa transformada em consultório, e como eu a compreendo, ver aquele espaço onde tanto respirou, agora em outras mãos, é ver os nossos livros sem mãos.
Digamos que o Médico também não teve sentido de humor. Lool Mas forna-se engraçado!:)
ResponderEliminar**
Os pensamentos mudaram, e tu cresceste ...
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Beijo, e um excelente fim de semana..
Antes de mais, bem-vindo, Joaquim.
ResponderEliminarParece-me que 'Ele' está bastante preocupado com o rumo dos seus livros, o que é natural. Compreendo, porque os vamos escolhendo e adquirindo durante a vida, fazendo os livros quase parte de nós.
No entanto, o problema que 'Ele' sente acontece muitas vezes. No blogue 'Horas extraordinárias', de Maria do Rosário Pedreira, do dia 8 de julho, ela fala de problema semelhante.
Talvez 'Ele' tenha amigos, saiba de instituições ou bibliotecas que queiram segurar os livros nas mãos.
Para já, se 'Ele' não precisar do espaço, os livros vão sendo companhia e podem até ajudar a encontrar soluções.
Gostei da expressão 'livros sem mãos', ainda que não alegre.
Que seja bom e tranquilo o seu fim de tarde, Joaquim.
Muito obrigado pela dica Maria Dolores. Já fui espreitar e acabei por anotar mais um livro...
EliminarBom domingo, com demasiado vento para os meus lados.
Olá, Cidália.
ResponderEliminarÀs vezes, nem é mau tenha uma reação que nos leva para a realidade.
Um beijinho e bom fim de tarde.
A questão é que era e não era o mesmo espaço. E mais não era do que era:).
ResponderEliminarEm relação às poucas casas onde habitei, sonho que deixei uma boa aura e que quem ali vive hoje se sente bem e gosta do lugar.
Boa noite, Maria.
Eu também gostaria imenso de deixar uma aura positiva. Há casas que conheço para onde eu não iria, com certeza, pela falta dela.
EliminarBea, um dia bom.
Coincidência é emoção o que é natural!!! Bom domingo
ResponderEliminarDepois de se ter vivido alguns anos na mesma casa, realmente não se fica indiferente quando se volta lá.
ResponderEliminarFeliz domingo, Gracinha.
As memórias que esse apartamento lhe tem trazido, já nos valeram belíssimos e interessantes textos. Soubessemos todos vasculhar nas nossas mentes, com sabedoria e espírito literário, quantos motivos encontraríamos para dissecar no nosso espaço cibernético...:)
ResponderEliminarMais do que inpiração, cara Mª Dolores, admiro-lhe a paciência e a disponibilidade mental para puxar pelos fios do novelo que representa a vida. A sua e a de todos, porém, nem todos temos os predicados para fazê-lo. Nem a tal paciência, vá. Logo eu, preguiçosa como sou...:))
Beijinhos e boa semana
Obrigada, querida Janita. Sempre com palavras boas e bonitas. Paciência, acho que tenha alguma, mas preguicite também. Não daquela de ficar sentada no sofá a ver a banda a passar, mas a de deixar para amanhã o que podia fazer hoje. Contudo, penso assim: já tenho direito a fazer as coisas ao meu ritmo. Nem sempre se pode, mas quando se pode, é tão bom.
ResponderEliminarBeijinhos, Janita, e feliz fim de tarde - hoje bem mais fresquinho.