terça-feira, 24 de julho de 2018

Flores de verão


Na ilha de Armona, olhando Olhão



segunda-feira, 23 de julho de 2018

Em Olhão, olhando o mercado


quarta-feira, 18 de julho de 2018

Uma casa de Londres em A Velha Casa e Outros Dias


A casa de Alice

Tinha-me ficado na lembrança a sugestão do Félix, naquele já distante fim de semana em Londres, inspirada no nome do Pub Alice House e de que ele falava numa carta.
O tempo foi passando e agora, de repente, surgiram-me estes versos, talvez atabalhoados e estapafúrdios:

A casa de Alice

Na casa de Alice
Mesmo sem qualquer tontice
A filha era Alice
Tal como a mãe
E como a avó
Que o mesmo nome tinha
 E a coincidência fazia dó

Um belo dia
Uma gata lhes deram
E sem qualquer fantasia
Era  também Alice
O nome da gatinha
Bem bonita e meiguinha

Para facilitar
Puseram-se a adaptar
A filha passava a ser Li
A mãe ficou Lili
E a avó Dona Licinha
Só a gata ficou Alice
O que não era tolice
Porque o nome era bonito
Para pessoa ou bichito

Mas se de repente alguém
Chamava por Alice
Não se sabia quem era
Ter outro nome  quem dera
Era o que todas diziam
E por acaso não mentiam
Tal era a agitação
Vindo nova decisão
A mais nova seria Licinha
A mãe  apenas Alice
E a avó Dona Alice
Para impedir a dúvida
E muito menos chatice

Mas então a gata
Que epíteto teria ela
Poderia ser Micaela
Mas não quiseram o nome mudar
Gata Lili passou-se a chamar
E sem miar ou rosnar
A gata ouviu e pôs-se a dormir
Cansada de tanta mudança
Para melhor compreensão
Sobretudo da vizinhança
Que mantinha a confusão

E chamadas por sílabas
Diminutivo ou palavra toda
Vivem felizes este outono
Sem qualquer fanfarrice
E ninguém sente abandono
Nem o nome nem seu  dono
Por isso bela é a casa de Alice


Quando os terminei, enviei-os ao Tó e ao Félix. Eu sabia que o meu filho não iria responder logo, porque anda sempre muito atarefado. E traz trabalho para casa. E há o David para cuidar.
Já o Félix enviou logo a resposta, dizendo que tinha achado piada, que era difícil ilustrar, mas que, mesmo assim, iria tentar com a ajuda da Maria Isabel.
Está tão ligado à neta que, julgo, continuará longo tempo em Moçambique. De facto, é um descanso para a Elsa saber que a filha está sempre acompanhada, tendo quem a leve e vá buscar à escola na hora certa e em segurança.
Hoje, ao fim da tarde, os meus pais e eu pusemo-nos à janela para ver a superlua.
Registei a imagem num pequeno haikai:
Lua/ Luz redonda/ Eclipsando o céu


Nota - A casa de Alice existe em West Hampstead, perto do centro de Londres.
 Acho o nome tão curioso que decidi incluí-la em A Velha Casa e Outros Dias.
Na esplanada, mesmo em dias cinzentos e frios, há sempre pessoas 
a conversar, com uma bebida sobre a mesa.

segunda-feira, 16 de julho de 2018

Em Chichicastenengo - Guatemala

Araras
O enorme mercado 
O colorido cemitério
Um tuk tuk

Tenho uma amiga americana que, periodicamente,
vai à Guatemala, com um grupo também de amigos, 
em missão de solidariedade. 
Partilham o seu saber e oferecem o seu trabalho
 para que várias famílias 
passem a viver melhor.



Obrigada, M. J. 

sábado, 14 de julho de 2018

ZAZ - "Je Veux" Legendado PT-BR

Elis Lovrjé - Cantora Croata no Brasil e Vidal França

Jacques Brel - Le Plat Pays.

Trump em Londres - O direito à indignação

Imagens da net

sexta-feira, 13 de julho de 2018

terça-feira, 10 de julho de 2018

Felizmente há luzes ao fundo do túnel!

Foto de LAUREN DECICCA

"Na Praia de Chesil"


É um filme que tem alguns ingredientes de que gosto: belas paisagens, uma história bem contada e com muita humanidade dentro, sentimentos fortes, artes como a música ou pintura, guarda roupa bonito, etc.
A história passa-se em 1962 e estende-se até outras datas assinaladas: 1975 e 2007.

O mar banha a praia de Chesil (na costa sul da Inglaterra), de imensas e pequenas pedras que são calcorreadas, em diferentes circunstâncias, um par de vezes pelo jovem casal (Florence e Edward) que acaba de se casar. 
A noite de núpcias é passada num hotel e o diálogo entre ambos revela medos, preconceitos, boas e más memórias, dramas familiares, desconhecimento da vida a dois, etc. O presente vai sendo complementado com imagens do passado que também justificam atitudes drásticas de desajuste sexual.

Ainda estava longe a libertação que muitos movimentos sociais e artísticos foram introduzindo.
Para a maioria dos jovens de hoje seriam inenarráveis os entraves mostrados à consumação do casamento e geradores de improváveis soluções.

A caracterização é fabulosa, sobretudo no final do filme, estando vincadas as marcas do tempo, apesar de a memória conservar um amor que parece ter durado sem qualquer disfarce artificial.


segunda-feira, 9 de julho de 2018

Também são belas as cores diferentes das rosas!


ANIVERSÁRIO

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim mesmo,
O que fui de coração e parentesco,
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino.
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa.
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
15-10-1929
Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944

domingo, 8 de julho de 2018

Uma noite na Velha Casa e Outros Dias


Noite

Estou a escrever à noite porque, durante o dia, não tive tempo nem vontade. Acontece aos escritores e muito mais facilmente a mim que não o sou, apesar do meu amor pela escrita.
O céu está sereno, embora as nuvens o tinjam de tons pardacentos. Há muito que vivo só e julgo que assim quero continuar.
Antes de o Félix ir para Moçambique, falámos várias vezes sobre o assunto e vêm sempre à baila os casos de amigos nossos que dormem em quartos separados ou em casas diferentes, e vivem felizes.
- Mas é preciso que a casa tenha espaço ou que cada um aguente as despesas, diz sempre ele com o seu sorriso abraçador (surgiu-me esta palavra, gostei  e acho que a vou adotar).
 Durante a tarde, resolvi, fazer compota de abóbora. Colei, nos frascos, uma etiqueta com flores rosadas miudinhas e que embelezam aquele sabor doce e de cor outonal. Pu-los depois numa prateleira que enfeitei com uma cortininha colorida de papel que recortei. Tal como faziam as velhas senhoras da casa e a minha avó paterna.
Olhei em seguida a eira e vi-me em criança a virar o milho em pequeninos carreiros para que todos os grãozinhos amarelos, bem espalhados na pedra, secassem ao sol. Nunca mais esqueci o calor rugoso do milho quente debaixo dos pés descalços.
Agora, é noite e escrevo porque as palavras fazem-me falta se estiver muito tempo sem lhes tocar.
As luzes da sala estão acesas e vejo o céu coberto de nuvens inertes. E também algum nevoeiro. Vou-me deitar. Gosto pouco da noite. É a morte do céu e de quase todas as coisas.