quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A árvore de Natal de sexta-feira

Imagem da net
Enquanto vestia o pijama, Brian perguntou:
Mamã, os outros meninos dizem que vamos ter uma árvore de Natal cá em casa. O que é uma árvore de Natal?
Aconchegados no pequeno quarto da casa de abrigo cristã para mulheres e crianças, Jenny Henderson abraçou os filhos, Brian e Daniel, de seis e três anos, respetivamente.
— É uma árvore bonita que ajuda as pessoas a sentirem-se felizes com o nascimento de Jesus. As pessoas costumam decorá-la no Natal e colocar, debaixo dela, presentes que compram umas para as outras.
Daniel enrugou o nariz:
— O que é “decorar”? E o que é o “Natal”?
A mãe suspirou. Durante todos os anos que vivera com o pai dos miúdos, ele sempre recusara celebrar fosse o que fosse e por muito que ela lhe pedisse. Não se celebravam aniversários, feriados, e muito menos o Natal. Daí que os rapazes nunca tivessem soprado velas de anos, visto televisão, decorado uma árvore de Natal, pendurado meias, comido um bom jantar de Natal, ou aberto quaisquer presentes.
Quando a casa dos Henderson se tornou demasiado triste por causa das discussões e das atitudes de controlo e de dominação, Jenny foi viver com os filhos para uma casa de abrigo. Agora, podiam celebrar tudo o que quisessem, incluindo o Natal, juntamente com as outras mães e crianças que lá viviam. Jenny abraçou Daniel:
— Vou aconchegar-vos bem debaixo dos cobertores e contar-vos uma história maravilhosa sobre Jesus e o Natal.
E contou-lhes, com todos os detalhes, a história da primeira noite de Natal. Depois, falou-lhes da decoração da árvore, da troca de presentes, e da gratidão que devemos a Deus pelo nascimento do Menino Jesus.
— Também quero amar o menino Jesus! — exclamou Brian. — E decorar uma árvore de Natal!
— Eu também quero! — pediu Daniel. — Diz que sim, mamã!
Jenny riu e disse:
— A Sra. Naples, a diretora da casa, disse que, neste sábado, vamos todos fazer uma festa para decorar a árvore de Natal, e que todas as crianças, incluindo vocês os dois, vão poder ajudar.
Brian e Daniel ficaram tão excitados que tiveram imensa dificuldade em adormecer. E a primeira pergunta que Daniel fez, quando acordou na manhã seguinte, foi:
— Já é sábado? Já podemos decorar a árvore?
Quando chegou a sexta-feira, ouviu-se uma exclamação:
— A árvore já está aqui!
Todas as crianças se precipitaram pelas escadas abaixo e viram três homens a carregar a árvore mais bonita que alguma vez tinham visto. Era tão grande que ia ficando presa na porta. Os homens colocaram-na num pequeno pedestal e todos se juntaram em torno dela. Quase chegava ao teto!
— Podemos decorá-la já? — perguntou Daniel.
A Sra. Naples riu:
— Lembra-te de que ainda é só sexta-feira, Daniel. Vamos decorá-la só amanhã.
Nesse momento, o telefone tocou e a diretora foi atender. Era o pai dos rapazes. Uma vez que nunca tinha sido violento com os filhos, o Sr. Henderson tinha autorização para vir à casa de abrigo buscá-los, para irem fazer visitas em conjunto. Ficou combinado que viria no dia seguinte, justamente à hora em que a árvore ia ser decorada.
É óbvio que os rapazes gostavam do pai. Contudo, o seu desejo de decorar a sua primeira árvore de Natal era tão grande que perguntaram à Sra. Naples se podiam colocar um só ornamento que fosse na sexta-feira. A diretora olhou primeiro para a belíssima árvore e, em seguida, para os dois irmãos e para as outras crianças.
— O que acham, meninos? Acham que este pedido é justo? E se votássemos?
— Vamos votar! — pediram todos.
Pouco depois, todos ajudavam a carregar caixas inteiras de ornamentos, que colocaram em torno da árvore despida. Virando-se para os dois irmãos, a Sra. Naples disse:
— Rapazes, têm uma hora para decorar a árvore como quiserem. Podem tirar o que quiserem das caixas, sem a nossa ajuda. Amanhã, quando estiverem fora, tiramos os ornamentos para que as outras crianças possam ser elas mesmas a colocá-los. Mas hoje é a vossa noite.
A diretora mandou embora as outras crianças e deixou os dois irmãos sozinhos.
Brian e Daniel nunca se tinham sentido tão felizes na vida. Pegaram em cada bola brilhante, em cada grinalda cintilante, em cada conjunto de sincelos tão cuidadosamente, como se fossem feitos de diamantes, e colocaram-nos na árvore com todo o carinho. Algum tempo depois, a Sra. Naples passou pelo átrio para ver como os irmãos se estavam a sair. Em torno dos ramos mais baixos, e tão alto quanto os bracinhos lhes permitiam, Brian e Daniel tinham colocado ornamentos alegres em azul, vermelho, verde, dourado e prateado, aos quais juntaram fiadas de grinaldas e muitos conjuntos de sincelos.
Contudo, em vez de estarem a admirar o seu trabalho, tinham-se ajoelhado e rezavam, de olhos fechados. Brian dizia: “Muito obrigado, querido Jesus, por teres nascido no Natal. E por nos teres deixado decorar a árvore. É o melhor presente de Natal que alguma vez tive.” Daniel acrescentou: “Jesus, quando o nosso pai vier amanhã e vir a nossa bela árvore, faz com que ele goste dela e que não se zangue. Faz com que ele queira gostar de ti.”
Brian pensou por um momento e disse: “Tens razão. Esse é que seria o melhor presente de Natal”.
Bonnie Compton Hanson

es@contadoresdehistorias.c

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Ela até muda de canal

Quando ele aparece, ela muda logo de canal. Não suporta a sua forma de olhar, de falar, de querer fazer de conta que diz verdades e apenas diz falsidades. É uma espécie de casa dos segredos com um grande polvo em forma de guarda-chuva.

Ele é ministro, comprou o curso, tem o poder de pôr na rua quem com ele não diz amen, mexe livremente os cordelinhos para vender ao desbarato bens que são de todos os portugueses... Ele é o ministro desempoeirado, que às vezes aparece de camisa aberta com ar de aldrabão e desenrascado. Fala tanto e age tão telegraficamente que a mentira e a verdade ficam completamente baralhadas.

É Miguel Relvas, se o nome que deu é verdadeiro. E nós, pacatos e brandos, lá vamos aceitando que ele e quejandos preparem o seu próprio e dourado futuro, enquanto ficamos à espera de melhores dias. Enquanto isto, pagamos impostos, temos as coisas mais caras, descremos, temos medo, perdemos a esperança...

Ah, e muitos muitos não só mudam de canal mas também mudam de país.

Les quatre bougies du petit berger

 
Cette histoire s’est passée il y a près de deux mille ans, dans un pays lointain.
C’était un jour gris. Le brouillard recouvrait tout et voilait le soleil. Aussi le maître ordonna-t-il aux deux bergers, Jacob et Simon, de mener les moutons dans la montagne, là où il y avait du soleil. Le petit Simon, qui n’avait que neuf ans, ne quittait pas Jacob d’une semelle. Cet épais brouillard lui faisait peur. Mais Jacob était grand et fort. Il le protégerait.
Un agneau blanc comme neige sautillait autour d’eux en bêlant craintivement. Alors Jacob le confia à Simon.
— Tiens, dit-il, c’est notre plus jeune agneau. Veille bien sur lui !
Simon était très content. Il ne le lâchait pas des yeux, son petit agneau, et la nuit, il le réchauffait contre sa poitrine. Au bout de six jours, il ne restait plus d’herbe dans le pré. Il fallait rentrer pour mener les moutons ailleurs.
Simon voulait aider Jacob à rassembler le troupeau, mais Jacob refusa.
— Repose-toi, dit-il, tu as eu suffisamment à faire avec ton agneau.
C’était vrai. Sans arrêt, le petit berger avait dû le chercher et le rattraper. Il s’assit sous un figuier et l’agneau se blottit contre lui. Bientôt, Simon s’assoupit.
Alors, un merveilleux parfum embauma l’air, un parfum de roses, de lys et de fleurs d’amandier. Simon essaya d’ouvrir les yeux, mais ses paupières étaient trop lourdes. Maintenant, il lui semblait entendre un chant de joie. Puis, plus rien, et le parfum se dissipa également.
Simon réussit enfin à ouvrir les yeux. Jacob se tenait devant lui et dit :
— Où est l’agneau ?
Simon bondit. Il appela l’agneau, il le chercha partout. En vain, il ne le trouva nulle part. L’agneau avait disparu.
— Viens, dit Jacob, il faut rentrer.
Le cœur lourd, Simon suivit le troupeau. Où était son agneau ? Lui était-il arrivé malheur ? Et qu’allait dire le maître ?
Le maître se mit très en colère, quand Simon lui avoua comment il avait perdu l’agneau.
— Balivernes, tout cela, gronda-t-il. Au lieu de dormir et de faire de beaux rêves, il fallait garder la bête.
Et bien que la nuit fût noire, il exigea que Simon parte sur-le-champ pour retrouver l’agneau.
Jacob s’inquiéta pour son petit compagnon, mais il ne pouvait rien contre le maître. Il alla chercher dans sa chambre la lanterne qu’un voyageur lui avait donnée un jour, en disant qu’elle guiderait toute personne en détresse. C’était une lanterne à quatre bougies et Jacob recommanda à Simon d’en prendre bien soin.
Muni de cette lumière rassurante, Simon partit à la recherche de son agneau. Simon chercha pendant toute la nuit et pendant toute la journée, sans trouver trace de l’agneau. Le soleil se couchait. Fallait-il continuer ? Où ? Comment ? Simon était sur le point d’abandonner tout espoir, lorsqu’il entendit un bruit derrière le rocher.
— Agneau, mon petit agneau, cria-t-il.
Une grosse voix répondit :
— Qu’est-ce que tu cherches ? Un agneau ?
Et un homme très grand se dressa tout d’un coup devant Simon. Effrayé, le petit berger voulut se sauver.
— Tu n’as rien à craindre de ma part, dit l’homme. Mais si tu cherches un agneau, tu le trouveras dans le champ d’oliviers, là-bas. Je l’y ai vu. Il est tout petit et blanc comme la neige.
— Ah, tu as trouvé mon agneau, s’écria Simon. Merci ! Merci ! Puis-je, moi aussi, t’aider ?
— Personne ne peut m’aider, dit l’homme, je suis dans les ténèbres.
— Non, non, dit Simon, en tendant une des bougies à l’homme. Prends-la, elle t’éclairera ! Pourquoi me faudrait-il quatre bougies alors que tu n’en as aucune ? Trois me suffisent.
— Tu me la donnes ? À moi ? s’étonna cet homme qui était un voleur. Tu es bien le premier être au monde à me donner quelque chose. Merci beaucoup !
Le jour baissait. Simon se hâta vers le champ d’oliviers pour enfin retrouver son agneau. Mais où était-il donc ? S’était-il caché ?
Là-bas, dans la grotte, quelque chose bougeait. Simon s’y précipita. Mais c’était un loup. Simon s’immobilisa et le loup happa son manteau. Tremblant, Simon tenta de se dégager. Aussitôt le loup lâcha prise et geignit. Alors Simon vit sa patte qui saignait, et il n’eut plus peur du tout. Il arracha un morceau de son manteau et pansa soigneusement la patte.
— Là, repose-toi, dit-il, pour que ta plaie guérisse.
Simon voulut repartir, mais encore une fois, le loup attrapa son manteau et le regarda.
— Tu veux que je reste près de toi ?C’est cela ?
Simon caressa le loup.
— Je ne peux pas. Je dois chercher mon agneau. Lui aussi a peut-être besoin d’aide.
Simon réfléchit, puis posa une bougie à côté du loup.
— Tiens, loup, cette lumière te réconfortera. Deux bougies me suffisent. Jacob sera d’accord.
Le loup le regarda avec gratitude, et Simon partit.
Simon erra dans la nuit. À l’aube, il entra dans une petite ville. Un mendiant en loques l’accosta.
— Une aumône, une petite aumône !
Simon s’arrêta.
— Je n’ai rien non plus. Je ne suis qu’un pauvre berger à la recherche de son agneau.
— Un agneau ?
— Oui, il s’est perdu. L’aurais-tu vu ?
— Je ne vois que la misère, répondit le vieillard. Je n’ai pour me loger qu’une froide et sombre grotte.
— Alors prends cette bougie, c’est tout ce que j’ai, dit Simon. Elle te donnera un peu de chaleur et de lumière.
Le mendiant prit la bougie en le remerciant, et lui souhaita bonne chance
Simon passa toute la journée à s’enquérir de son agneau, mais personne ne l’avait vu. Découragé, il repartit dans les champs et s’installa au bord de la route où il s’endormit. C’est alors qu’une nouvelle fois se fit sentir ce merveilleux parfum de roses, de lys et de fleurs d’amandier. D’où émanait-il donc ?
Et voilà que retentirent les chants de joie !
Sa dernière bougie ne l’éclairait que faiblement dans le noir, mais Simon suivit les sons. Bientôt il distingua une étable, s’en approcha et entra. Dans l’étable, il faisait presque aussi sombre que dehors. Simon, resté timidement près de la porte, ne vit rien du tout d’abord. Mais ensuite il aperçut une tache blanche. C’était son agneau ! Son petit agneau !
— Approche donc, dit une voix amicale.
Muet de bonheur, Simon obéit.
Et puis il vit tout près de son agneau un petit enfant couché sur la paille.
Simon s’agenouilla et posa près du bébé sa dernière bougie.
Ce n’était qu’une toute petite flamme, mais elle se mit à rayonner comme un soleil.
Les étoiles dans le ciel brillaient, elles aussi, de plus en plus fort, et les chants de joie retentissaient jusqu’aux bergers dans les champs.
Marcus Pfister et Kathrin Siegenthaler
Les 4 plus beaux Noël de Marcus Pfister
Paris, Ed. NordSud, 2009
(Adaptation)
 
Si vous souhaitez lire d’autres histoires, voici notre blog : http://contesarever.wordpress.com/
Et pour ceux qui fêtent Noël :http://noelparminous.wordpress.com/
_

domingo, 9 de dezembro de 2012

Tal como nós

 A Castanha quando foi "adotada"

A Castanha gosta muito de castanhas. Pelo menos por duas razões. Porque parecem brinquedo  e porque são alimento.

Também gosta de correr em liberdade. Acho que também fica contente de me ver chegar. Se gostar é abanar a cauda, correr, vir ao meu encontro, voltar a correr quase em rodopio...

Talvez os cães demonstrem mais a sua alegria do que nós, humanos.

Quando o nosso velho Dunas, um cão labrador, morreu, uma das minhas filhas perguntou: teria tido uma vida feliz?

Tal como a Castanha, muitas vezes o demonstrou, mas é difícil saber. Tal como nós, humanos.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Desperdício de comida

Vi hoje uma notícia sobre o desperdício de comida em Portugal. A acompanhar a notícia, mostrava-se uma cantina e era bastante o que ia para o lixo: bocados de pão, restos de sopa, massa, arroz...

Almoço muitas vezes na cantina escolar e também me apercebo do que fica nos tabuleiros. Como pão e fruta inteira. Como é cada um que completa o seu tabuleiro, poderá ter a ver com o hábito de pegar em comida e não a consumir. É pena que assim aconteça.

Por outro lado, este hábito pode criar a ilusão de que há fartura em Portugal, mas, de facto, uma grande parte das famílias vive com muito pouco dinheiro e muitas despesas.

Enquanto a uns tudo faz falta, outros ainda desperdiçam. E o pior é que até do Governo vêm exemplos semelhantes.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Diário de Mariana



7 de dezembro 2012


Querido diário,


Os testes estão quase a acabar. Que fixe. Quero ter mais tempo livre. Sempre trabalhos. Sempre exercícios. Sempre textos. Eu gosto de aprender, mas é sempre tanta coisa. O que vale é que não costumo ficar tensa; estudo como posso e que se lixe. Eu não tenho falado da Bia, que é a minha melhor amiga, mas ela passa-se sempre antes dos testes. Então, quando são as provas intermédias, até vomita e já sei que tenho de ir com ela ao bar da escola tomar chá.

Para ela ficar mais bem disposta, eu uma vez até lhe disse: ó Bia, tu queres é tomar chá de borla. Ela começou a rir-se e disse: ainda ao menos que não se paga o chá quando estamos doentes. Ela é tão preocupada que até mete aflição. Eu não sou assim, embora me preocupe. Oh, eu acho que não vale a pena a gente afligir-se tanto porque até bloqueia.

No último teste, houve um bocado de bronca. A setora estava a explicar, a explicar tudo direitinho e o Silva disse assim: ó setora, já passaram para aí vinte minutos e assim não temos tempo para fazer o teste.

A setora ficou chateada e disse assim: então, meninos, não me perguntem nada. 

Eu por acaso acho que a setora teve alguma razão, porque nos queria ajudar, mas também devia ter compreendido que o Silva estava nervoso porque queria ter boa nota. Eu acho que às vezes os setores não nos conhecem bem por dentro e levam a mal sem necessidade. E, às vezes, por uns pagam outros. Outras vezes, deixam passar certas coisas que até a nós nos chateiam. Se calhar, é quando estão fartos e já precisam é de descansar mais um bocado.

Mas, mesmo assim, eu compreendo, porque acho que deve ser muito difícil ser professor. Às vezes, o meu pai dizia que se fosse com ele, dava “um banano” em quem fizesse asneiras e cortava logo o mal pela raiz. Eu sei que ele dizia mas não faria isso e até havia pessoas que lhe pediam conselhos sobre muitas coisas.

Como é 6ª f. à noite, vou poder estar mais tempo no sofá, quentinha, com a minha mantinha amarela, mas não vou responder às mensagens do Gi, porque a minha mãe tirou-me o telemóvel durante duas semanas. Foi mesmo azar. O telemóvel tocou numa aula e a DêTê disse à minha mãe. Pronto, foi logo. É tão chato não ter o telemóvel que até nem quero pensar nisso nem falar mais do assunto. Quero é que o tempo passe depressa para ter outra vez telefone.


Muitos abracinhos

Mariana


Adriana

A primeira vez que vi Adriana no Ateliê de Artes, ela estava muito constipada e rouca. Estava a fazer uma caixa para dar à mãe, a partir de um fundo de garrafa de sumo. Tossia mas não desistia de construir a caixinha. Tirou da mochila  um saquinho de botões usados para pôr na tampa.

Perguntei-lhe se estava a escrever um conto sobre a palavra Amor para o concurso da escola. Que não, mas ia tentar. E sorria. E dizia que também gostava de histórias.

Com as mãos gordinhas, ia ajeitando o plástico com ternura. E com paciência. E com sorrisos. Queria dar também uma caixa à avó e outra ao pai. Já sabia que caixa ia dar a cada um. Perguntava opinião sobre os botões que devia colar para o presente ficar mais bonito.

Hoje, Adriana estava a fazer postais. Numa pequena cartolina, tinha colado corações a partir de bocadinhos de tecido. E pediu-me uma sugestão. A mim, que vou só uma vez por semana ao ateliê para fazer pequenos trabalhos de que também gosto. Eu fazia também postais muito simples com recortes de papel e de tecido. Como a professora de Educação Visual estava ocupada, ela perguntou-me: professora Dolores, acha que fica bem assim? 

Disse-lhe como eu achava melhor. Chamou-me de novo para ver o resultado. Muito bonito, Adriana.

Com a sua carinha risonha, voz meiga, mãozinhas generosas fez-me recuar no tempo. Que pena ser irreversível!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Cores do Mundo


quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Bilbao com amêndoas

Elas eram duas: uma mãe e uma filha. Estavam em Bilbao. Passeavam. Tanto para ver! E para andar na planura da cidade. E também para olhar nas ruas. De preferência, estreitas e antigas. Com lojas pequenas. Como tocas onde se conservam tesouros.

A mãe e a filha reparam numa loja pequenina. A montra mostrava alguns dos sabores que dentro eram vendidos. Em embalagens arranjadas por mãos pacientes e cuidadosas. Sim, o melhor era entrar. Pois, difícil era escolher. Tudo parecia delicioso e genuíno. Mãe e filha inclinam-se para o balcão e escolhem, apontando para os docinhos. A mãe pergunta ao funcionário: este leva amêndoa? Rô!!! responde ele. A mãe fica então a saber que todos os docinhos da casa levam amêndoa da região. Perguntar se qualquer produto tem amêndoa era quase como perguntar numa loja de pronto a vestir se havia roupa!

A mãe, a filha e o funcionário desataram a rir. Também por aquele tão espontâneo.
À saída, o funcionário deu um docinho à mãe e à filha. Gracias! A mãe esqueceu o nome da loja, mas se for outra vez a Bilbao, terá de lá voltar. Só pelos sabores? Não, rô, também pelos afetos!


Le choix du roi des rois

 
Ce jour-là comme chaque jour
sur la route qui entourait le village
Martin, l’âne,
trottinait.
Il ne pensait à rien de bien particulier
quand il aperçut, sur le mur,
une affiche
couverte de signes difficiles à déchiffrer.
Et il s’en approcha pour essayer
de comprendre ce qu’elle disait.
« Drôle d’annonce !
C’est sûrement de l’arabe
ou de l’hébreu ou alors…
...mais oui
elle doit être à l’envers :
"ON RECHERCHE
Bêtes de somme
(Éléphants, Chameaux,
Chevaux, Dromadaires
Lamas, Bœufs)
pour transporter..."
Tiens !... Et les Ânes !...
Non, pas de place pour eux.
Jamais rien pour eux !
Nous avons beau avoir
de longues oreilles,
chacun nous laisse entendre
qu’elles ne valent pas
celles des Éléphants !
Et nous n’avons ni leur trompe
ni leurs défenses ni leur force.
Ah ! si nous pouvions
leur ressembler !...
Bien sûr, nous sommes entêtés,
et nous savons – on nous le reproche souvent –
où nous voulons aller,
mais nous n’avons pas – hélas –
l’ardeur des Bœufs
ni leurs superbes cornes.
Ah ! si nous pouvions accomplir
la moitié de ce qu’ils peuvent faire !...
Donc, pas d’Ânes,
jamais d’Ânespour transporter
les Personnes Importantes.
On leur laissele menu fretin,
les petits, les pas lourds,
les manants.
Eh ! bien, merci,
merci beaucoup. »
Alors, tandis que
Chameaux et Dromadaires,
Éléphants et Chevaux,
Lamas et Bœufs
se regroupaient devant l’affiche,
pour offrir leurs services,
Martin, l’Âne,
s’en fut amèrement
brouter l’herbe des champs.
Les Éléphants rutilants
furent expédiés aux Indes
pour transporter le Maharadjah.
Et, suivi de gardes empressés,
vers l’Égypte,
le Chameau superbe
emmena le Pharaon
et son épouse préférée.
Le Cheval
avec César,
précédé de ses soldats
aux pieds agiles,
marcha sur Rome.
Quant aux Lamas,
aux Dromadaires
et aux Bœufs,
ils s’en allèrent partout
sur la terre, transporter
des Seigneurs, un Shah,
des Reines, un Empereur
et un Sultan
et quelques Marchands...
Resté seul au village
Martin, l’Âne,
continua de brouter l’herbe
des prés, attendant, éventuellement,
qu’on lui demandât
de transporter quelqu’un.
Il n’était pas difficile.
Peu lui importait le rang,
ou la richesse,
de la personne qu’on lui confierait,
car il n’était pas fier.
Non, pas fier du tout.
À peine achevait-il
sa remarque
qu’un homme s’approcha de lui
et l’interpella :
« Je cherche une bête
qui voudrait bien transporter
un Haut Personnage. »
Mais l’Âne lui répondit :
« Toutes les bêtes qui peuvent
transporter les Personnages Importants
sont déjà parties. »
« Et toi ? demanda l’homme. »
« Moi, je suis un Âne,
et les Ânes ne peuvent pas
transporter les Importantes Personnes.
Seulement les autres. »
« Je suis fier de mes oreilles
mais je sais bien qu’elles
sont ridicules à côté de celles de
l’Éléphant.
Je suis satisfait de mes yeux
mais ils ne peuvent
être comparés à ceux du Chameau.
C’est vrai,
je n’ai pas à être mécontent
de moi mais je n’ai rien,
non plus, pour être trop fier.
Je n’ai ni trompe, ni défenses,
ni bosses, ni cornes.
Ah ! si j’étais... »
L’homme éclata de rire
et lui dit :
« Ce Haut Personnage
que je souhaite que tu transportes
est aussi une toute Petite Personne
puisque c’est un enfant
qui n’est pas encore né.
C’est le Messie
et son nom est Jésus.
Sa mère doit parcourir
un long chemin sur le dos d’une bête
sans trop de fierté ni d’allure.
Et c’est pourquoi
je t’ai choisi.
Tu l’accompagneras à Bethléem
et son fils naîtra,
là-bas, parmi les humbles.
Âne, c’est toi que le Roi des Rois
a choisi pour porter Marie et son fils.
Et tu pourras en être fier.
À jamais. »

Christopher Gregorowski
Le choix du roi des rois
J.P. Delarge, 1977
(Adaptation
 

Ternura


Hoje, num "intervalinho", abri o mail e vi este poema
que a IA escreveu e partilhou com amigos.
Também enviou a flor.
Não sei qual dos dois é mais belo: se o texto se a rosa!
Um raio de sol
beija
pétala a pétala
a palidez da rosa

que

feliz
se revela
em luz

e

e mima o mundo
em espanto!

IA, 1 de dezembro 2012

Música para os meus ouvidos

Imagem da net
Sentei-me em silêncio no banco de trás enquanto regressávamos a casa de uma cerimónia vespertina da igreja onde tinha ouvido, mais uma vez, a maravilhosa história do nascimento de Jesus. E o meu coração transbordava de alegria enquanto nós os três entoávamos conhecidas canções de Natal vindas do rádio do carro.
Com o nariz esborrachado contra o vidro do carro, não conseguia tirar os olhos das decorações dos grandes armazéns. À medida que passávamos pelas casas com árvores de Natal iluminadas nas janelas, imaginava as prendas amontoadas debaixo delas. A alegria própria da quadra estava por todo o lado.
A minha felicidade durou apenas até chegarmos à estrada empedrada que levava à nossa casa. O meu pai virou para o escuro caminho rural onde a casa se erguia há duzentos anos. Não havia luzes de boas-vindas a saudar-nos; não havia árvore de Natal a brilhar na janela. E a tristeza tomou conta do meu coraçãozinho de nove anos.
Tal como as outras crianças, eu não podia deixar de desejar árvores e prendas. Mas estávamos no ano de 1939, e eu tinha sido ensinada a ser grata pelas roupas que me cobriam e os sapatos que me calçavam, em ser grata por ter casa — mesmo que muito humilde — e por comida simples para a minha pequena barriga. Já tinha ouvido, mais que uma vez, os meus familiares dizerem "as árvores de Natal são um desperdício de dinheiro." E eu supunha que os presentes também deviam ser.
Embora os meus pais tivessem já deixado o carro e entrado em casa, eu mantive-me lá por fora e deixei-me cair sobre os degraus do alpendre — receando perder toda a alegria própria da quadra festiva que tinha sentido na cidade, e desejando que o Natal estivesse também em minha casa. Quando, por fim, o frio da noite trespassou o meu vestido e a casaco de malha, estremeci e embrulhei os braços em torno de mim própria, como num abraço. Nem mesmo as lágrimas quentes que me caíam em catadupa pela face abaixo me conseguiam aquecer.
E foi então que ouvi. Música. E cânticos.
Ouvi e olhei para as estrelas que se amontoavam no céu, brilhando mais intensamente que nunca. Os cânticos rodearam-me, animando-me. Algum tempo depois, dirigi-me para dentro de casa para ouvir rádio, pois aí estaria mais quente. Mas a sala de estar estava envolta em escuridão e silêncio. Que estranho! Regressei lá fora e ouvi de novo os cânticos. De onde é que aquilo vinha? Talvez do rádio do vizinho? Percorri a pé a estrada comprida, com aquela música gloriosa a acompanhar-me durante todo o percurso. Mas o carro do vizinho nem estava ali, e a casa deles estava tranquila. Até mesmo a árvore de Natal deles estava às escuras.
A música gloriosa, contudo, ouvia-se mais alta do que nunca, seguindo-me e ecoando à minha volta. Poderia vir da casa do outro vizinho? Mesmo à distância, eu conseguia ver que também não estava lá ninguém. Ainda assim, percorri os quase trezentos metros que separavam a casa deles da nossa. Mas não havia nada, nem ninguém. No entanto, os cânticos continuavam, cristalinos e puros. Ouvia-os distintamente. E as estrelas, naquela noite, brilhavam com tanto esplendor que eu nem sentia medo de voltar para casa sozinha.
Uma vez chegada a casa, sentei-me de novo nos degraus do alpendre e refleti sobre este milagre. Pois era um milagre. Porque eu sentia, no meu coração, que estava a ouvir uma serenata dos anjos.
Já não sentia frio ou tristeza. Agora sentia-me quente e feliz, por dentro e por fora. Enquanto olhava lá para cima, para aquela infinitude, rodeada pelos louvores dos anfitriões celestes, eu soube que tinha recebido afinal uma linda prenda de Natal – uma prenda vinda diretamente de Deus.
A prenda do amor. A estrela brilhante.
E um Natal eterno.
Margaret Middleton, 2005
(Tradução e adaptação)

Se desejar ler histórias sobre o Natal pode visitar o seguinte blogue:

es@contadoresdehistorias.co

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Um brinde no aeroporto

Marta Mestre

Fim de tarde. Quase noite. Aeroporto de Madrid. Um homem e uma mulher, vindos do balcão do café, sentam-se a uma mesa, lado a lado. Cada um traz uma pequena mala. Um copo na outra mão. Sentam-se. Falam. Falam muito. Falam baixo. Ele põe-lhe a mão no ombro sossegado. Também ele em sossego. Encostam-se. Parecem alheados do que se passa à sua volta. Ela usa uma trança clara e ele olha-a com o seu olhar moreno.

Às 19h e 25, tal como consta do bilhete do avião, avisam que vai iniciar-se o embarque para o Porto. Continuam a falar e sentados. Lado a lado e muito próximos. Abraçam-se mais uma vez.
Ela levanta-se, veste o casaco. Aproxima-se da porta anunciada e sai em direção ao autocarro que a levará até ao avião. Ele fica até um adeus triste.
Sai do aeroporto. Chega a casa e põe dois copos sobre a mesa.

O guitarrista de Bilbao

 Bilbao
Vai deambulando pela cidade. Quase todos os dias muda de lugar. Gosta muito das pequenas praças. Ou das velhas ruas. Ou dos lugares que vivem há muitos anos na sua memória. Por onde passou vezes sem conta com a sua guitarra.
Toca. Toca sempre. Infindáveis músicas dos Beatles. As mesmas que tocou vezes sem conta quando pertencia ao grupo que nascera pela paixão aos músicos de Liverpool.
Nos espetáculos, quando jovem, ouviu muitos aplausos, viu muitos braços erguidos, sentiu a vibração de muitos corpos a dançar ao sabor da música.

Muitas imagens vinham-lhe à memória enquanto tocava, agora sexagenário, nas ruas de Bilbao. Corpo alto, rosto fino, mãos longas, olhando e tocando, concentrado na guitarra. Quase não via as pessoas que passavam e abrandavam a marcha para o ouvirem. Levantava o olhar só para agradecer uma moeda que deixavam na capa da viola, aberta no chão.

No final da manhã e da tarde, recolhia o dinheiro. No dia seguinte, a sua música fazia-se ouvir num outro lugar. Sempre na mesma cidade. Não fosse ele "o guitarrista de Bilbao".

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O Natal em que fiquei rica

Imagem da net

Havia uma árvore naquele Natal. Não tão grande e frondosa como outras, mas estava pejada de enfeites e tesouros e resplandecia de luzes. Havia presentes, também. Alegremente embrulhados em papel vermelho ou verde, com etiquetas coloridas e fitas. Mas não tantos presentes como de costume. Eu já tinha reparado que a minha pilha de presentes era muito pequena.
Nós não éramos pobres. Mas os tempos eram difíceis, os empregos escassos, o dinheiro à justa. A minha mãe e eu partilhávamos uma casa com a minha avó e com os meus tios. Naquele ano da Depressão, toda a gente espaçava refeições, levava sanduíches para o trabalho e ia a pé para poupar nos bilhetes de autocarro. Anos antes da Segunda Guerra Mundial, já vivíamos no dia a dia, como muitas outras famílias, o que então se iria ouvir como slogan: “Usa-o, aproveita-o ao máximo; faz com que funcione, ou passa sem ele.”
Havia poucas escolhas. Compreendia pois porque era tão pequeno o meu monte de presentes. Compreendia, mas sentia, ainda assim, uma ponta de pesar à mistura com um complexo de culpa. Sabia que não poderia haver surpresas empolgantes naquelas poucas caixas vistosamente embrulhadas. E sabia que uma delas tinha um livro. A minha mãe arranjava sempre um livro para mim. Mas nada de vestidos novos, camisolas ou um roupão acolchoado e quentinho. Nenhum dos miminhos tão desejados na altura do Natal…
Havia uma caixa com o meu nome da parte da minha avó. Guardei-a para o fim. Talvez fosse uma camisola nova, talvez um vestido — um vestido azul. A minha avó e eu gostávamos ambas de lindos vestidos e de todas as tonalidades de azul. Soltando os devidos “Ohs” e “Ahs” ao ver a aromática barra de sabonete feito de mel, as luvas vermelhas, o já esperado livro (um novo da Nancy Drew!), rapidamente cheguei àquele último embrulho. Dei por mim a sentir uma centelha do entusiasmo do Natal… Era uma caixa bastante grande. Com vergonha de mim mesma por ser tão gananciosa, por esperar receber um vestido ou uma camisola (mas esperando na mesma!), abri a caixa.
Meias! Só meias! Soquetes, meias altas, até mesmo um par daquelas meias horrorosas de algodão branco que estavam sempre a escorregar e se enrodilhavam em volta dos joelhos.
Esperando que ninguém tivesse dado conta do desapontamento, peguei num dos quatro pares e agradeci à minha avó, com um grande sorriso. Ela também sorria. Não com o seu sorriso educado e distraído de “Sim, querida,” mas com o seu sorriso feliz e radiante, de “Isto são coisas importantes para uma mulher!” Será que me esquecera de alguma coisa? Olhei de novo para a caixa no chão — nada, a não ser as meias. Só que agora eu conseguia ver que havia outro par por debaixo do que eu tinha pegado. Duas camadas de meias. E mais uma! Três camadas de meias!
A sorrir de verdade, comecei a retirá-las da caixa. Meias cor-de-rosa, meias brancas, meias verdes, meias de todos os tons inimagináveis de azul. Toda a gente estava a olhar, rindo comigo, enquanto eu atirava as meias ao ar e as contava. Doze pares de meias!
Levantei-me e dei um abraço tão apertado à minha avó que até nos doeu às duas. “Feliz Natal, menina Joan!” disse ela. “Agora, todos os dias, terás muitas escolhas a fazer. Estás rica, minha querida! E era verdade. Naquele Natal e durante todo o ano, todas as manhãs, eu escolhia do meu elegante armário da roupa interior qual o par de meias a usar. E sentia-me rica. E ainda sinto!
Mais tarde, a minha mãe disse-me que a minha avó tinha andado a esconder aquelas meias durante quase um ano — poupando todas as moedinhas, comprando um par de cada vez. Um dia, tendo visto um lindo par de meias azuis com as beiras elásticas bordadas à mão, ela pedira mesmo ao compreensivo vendedor para deixar um sinal a reservá-las durante três semanas.
Dentro daquela caixa estava embrulhado um ano de amor.
Foi um Natal que eu nunca esquecerei.
A prenda da minha avó mostrou-me como as pequenas coisas podem ser importantes.
E como o amor nos faz a todos imensamente ricos.
Joan Cinelli

Jack Canfield & Mark Victor Hansen
Chicken Soup for the Soul – Christmas Cheer
Chicken Soup for the Soul Publishing, LLC, 2008
(Tradução e adaptação)

Caros leitores,
O Projeto intitulado Clube de Contadores de Histórias, nascido em 2006 na Escola Secundária Daniel Faria – Baltar, tem vindo, ao longo dos anos, a difundir-se de uma forma significativa, não só em Portugal, mas também no Brasil e nos países africanos de língua portuguesa. No sentido de assegurar a continuidade de referido clube, foi constituída uma equipa pedagógica, formada por professores de vários grupos disciplinares e provenientes de diversos estabelecimentos de ensino, que tomarão a seu cargo a seleção, preparação e envio de uma história semanal por correio eletrónico, tal como habitualmente tem vindo a ser feito.
Esperando que o projecto continue a merecer a melhor atenção por parte do público leitor, despede-se com os melhores cumprimentos,
A Equipa Coordenadora do Clube das Histórias

terça-feira, 27 de novembro de 2012

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Elas eram quatro

Elas eram quatro. A rua Santa Catarina estava cinzenta e outonal. O homem das castanhas mantinha o fogo e o fumo quente dos frutos do outono, que ia amontoando na esperança de os vender.
Que cheirinho. Dá gosto. Há tanto tempo. Dantes, vinha mais vezes ao Porto, agora só de vez em quando.

Era quase Natal, mas as luzes da época apenas brilhavam nas montras das lojas. Na Praça da Liberdade, acendiam-se só as luzes habituais. Nas outras ruas, apenas as névoas, as pessoas que passavam, as lojas que esperavam clientes. 
E comentou-se: quando éramos crianças, vínhamos ao Porto pelo Natal, para vermos a iluminação das ruas. E comprar as prendas prometidas há muito. Só seriam dadas se merecidas.

Elas eram quatro e há muito que não falavam tanto tempo. O trabalho, a família... o tempo torna-se pouco. Na mesa do café, havia quatro chávenas e pão torrado. Em fatias, quentinho. Lá fora chovia. Olha, está a chover. E o guarda-chuva ficou no carro. Os assuntos surgiam encadeados, já com as chávenas vazias.

E começou a ouvir-se o som do piano. Ao vivo. A música juntava-se à bruma, às castanhas, ao ar um pouco sombrio de uma cidade sem as luzes do Natal. As pessoas continuavam a falar, as quatro amigas também. E mais tempo ficariam se não houvesse compromissos.

Quando é a próxima? O melhor é marcar já a data senão o tempo vai passando.
Percorreram a rua até ao parque de estacionamento. Já não chovia. Porém, se chovesse, a rua continuaria a ser bela. Aquecida pelas palavras e sorrisos da amizade.

Elas eram quatro e, na próxima, querem ser cinco. Ou seis.