Já tenho feito algumas visitas ao Porto, dinamizadas pela Câmara Municipal, pela Casa do Infante, etc. Ontem, olhando a Muralha
Fernandina, mandada construir por D. Afonso IV, no século XIV, lembrei-me de um desses percursos. E o que mais me
ficou na lembrança foi a vista para o rio do alto das largas muralhas, das
quais ainda restam altos torreões, ameias, pedras autografadas, casas
encostadas aos grossos e seguros muros, etc.
Lembrei-me de ter visto também um denso
laranjal num vasto pomar junto do torreão das traseiras da igreja de Sta Clara,
bem perto do tabuleiro superior da ponte Luís I. Os citrinos deviam
destinar-se, na época, ao consumo dos religiosos das imediações.
Enquanto subíamos e descíamos a escadaria junto a uma das muralhas, um homem
novo disse que emigrara já menos jovem do que muitos portugueses, que vivia em Haia e que, sempre que vinha ao Porto, fazia visitas guiadas para
conhecer mais sobre a sua cidade; um homem tinha um site sobre o
Porto com fotografias que tirava apenas quando dava passeios sozinho, uma vez
que só assim podia fixar melhor os pormenores; uma mulher de meia idade fotografava tudo e mais alguma coisa, fazendo
perguntas para as quais já tinha sido sempre dada a resposta; uma jovem tirava
apontamentos sem falar nunca com ninguém; um homem de barba grisalha e forte
dizia que o Porto era a sua cara completa e a mulher (que não estava presente)
era a sua cara metade; a senhora mais idosa do grupo tudo ouvia com
atenção e nunca ficava para trás; um
homem alto e de ar solitário sorria se olhavam para ele, mantendo-se sempre na cauda do grupo; um casal fazia poses,
fotografava-se e falava alto enquanto o guia dava explicações; uma mulher de
voz grave ia explicando o que sabia aos amigos, sobrepondo-se ao guia...
De facto, para além dos passeios a pé, dos factos históricos que se conhecem, há pequenas histórias engraçadas que completam as paisagens que, mesmo vistas milhares de vezes, parecem sempre bonitas.