domingo, 4 de março de 2018

"A vida é uma presa, vai-te a ela" - disse o poeta

    Naquela noite, o Salão árabe do Palácio da Bolsa, no Porto, estava cheio. O Porto parece estar quase sempre em festa, o que é muito bom também.
Mais uma vez reparei que nas ruas cresce o número de turistas (apesar de há muito decrescer o número de moradores). E as casas vão sendo recuperadas, reavivando os belos tons dos azulejos: amarelos, azuis, ocres...
E, no programa, podia ler-se um poema do "mais brilhante poeta do Al-Andalus, no século XI, e que nasceu em Beja", tal como se podia ler no desdobrável do evento.

"Solta a alegria! Que fique desatada!
Esquece a ânsia que rói o coração.
Tanta doença foi assim curada!
A vida é uma presa, vai-te a ela!
Pois é bem curta a sua duração.

E mesmo que a tua vida acaso fosse
De mil anos plenos já composta
Mal se poderia dizer que fora longa.

Que seres triste não seja a tua aposta
Pois que o alaúde e fresco vinho
Te aguardam na beira do caminho.

Que os cuidados não sejam de ti donos
Se a taça for espada brilhante em tua mão.
Da sabedoria só colherás a turbação
Cravada no mais fundo do teu ser.
É que dentre todos, o mais sábio
É aquele que não cuida de saber."

Al-Mu'tamid, séc. XI, in Adalberto Alves, O Meu Coração É Árabe (1987)

E os músicos - portugueses, espanhóis e marroquinos, com as suas vozes torneadas e prodigiosas, transmitiam, de facto, uma forte mensagem de paz e de pluralidades que tem de prevalecer e não os conflitos políticos e religiosos que parecem estar cada vez mais presentes e próximos. 
Pensando mais na morte do que na vida, ao contrário do que seria de esperar.

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