Há uns meses, assisti a um concerto com o Coro
"Bavo cantorij" da Catedral de St Bavo, Haarlem, Holanda.
O coro, constituído por mais de duas
dezenas de jovens, todos vestidos com longas túnicas vermelhas, cantaram peças
sacras de Monteverdi, Chilcott, Scarlatti (impossível não me recordar de Mafra
e do Memorial do Convento) e de
muitos outros compositores.
A junção harmoniosa de tantas vozes
juvenis difundia-se na igreja que estava cheia, apesar de o dia ter sido
chuvoso.
Felizmente, há igrejas que vivem em prol
da apaziguadora espiritualidade, também alcançada pela música, tão bem tocada e
cantada nesse concerto. O som do monumental órgão de tubos ecoou na bela
igreja, com os cantores sentados nas altas cadeiras que ladeiam o espaço junto
dos degraus do altar-mor. O som denso da música e a cor rubra das vestes desenhavam belos quadros a compor o concerto. Depois desses, houve muitos mais. E muitos haverá com certeza porque a música é privilegiada naquela igreja.
Sempre me seduziram os concertos de
música clássica em igrejas. Pela espiritualidade. Pelo silêncio largo (embora
haja sempre um ou outro telemóvel distraído que, felizmente, nessa noite não se
ouviu). Pelo prazer encantatório da música
que parece exalar dos rostos disponíveis e atentos.
Felizmente vão-se tornando também
habituais os concertos para crianças, muitas vezes em igrejas. E os músicos, de
diferentes idades, revelam alegria, motivando as crianças e incutindo hábitos
de respeito, de concentração, de gosto pela música...
Perguntei muitas vezes aos meus alunos
se imaginavam a vida sem música e logo me respondiam que não. Claro que a
música a que se referiam seria bem mais frenética do que a escutada
nas igrejas.
Julgo também que nunca esquecerei um sarau que
ajudei a preparar numa escola onde trabalhei.
Dois jovens músicos, alunos da
escola, - um tocava violino e o outro
flauta - encantaram o auditório que era heterogéneo: alunos, professores,
funcionários e encarregados de educação. Tocavam com tal profunda verdade que
todos se sentiram encantados e ficariam muito mais tempo a ouvi-los porque era
notório que estava a ser boa e doce a sensação.
A música ajudava a estabelecer a união entre todos, independentemente das idades, da formação e dos gostos de cada um.
Sem música, o desconcerto do mundo tocaria ainda mais fundo dentro de nós.
A música ajudava a estabelecer a união entre todos, independentemente das idades, da formação e dos gostos de cada um.
Sem comentários:
Enviar um comentário