terça-feira, 20 de março de 2018

Também os nossos (ex-)alunos anunciam a primavera!

Este texto foi-me enviado por uma ex-aluna. Gostei muito, disse-lho (desculpa, Bia, pela demora da resposta!) e perguntei-lhe se o poderia partilhar. Disse que sim e fiquei contente.
Obrigada, Bia. É tão bom ser sempre aprendiz!
"Aprendiz
Tanto tempo passou e ainda não me consegui reconstruir. Juntar pedacinho a pedacinho daquilo que me levaste e não devolveste. A revolta passou, a raiva também, a vontade de estar contigo, de te ver, de te abraçar também. A dor já não é a mesma, já não me permite exprimi-la, gritá-la, deitá-la fora. Aprendi a viver com a impossibilidade de te ter, com a improbabilidade de te encontrar. Remeto-me à esperança, aquela intocável e implícita esperança que sei que nunca irá desaparecer. Finalmente deixei de viver para ti, libertei-me, pensei que não conseguia. Consegui. Se te amo? Amor que é amor nunca deixa de existir, apenas fica arquivado de forma diferente. Amar-te-ei para sempre.
Raros são os dias em que acordo e penso em ti, raras são as noites em que adormeço com o teu sorriso no meu pensamento. Porém, recordo-te. Vejo o teu sorriso todos os dias, sinto o teu perfume, sinto o teu toque. Ainda sou capaz de fechar os olhos e remeter-me até há dois anos e sentir tudo, com a mesma intensidade e vivacidade que me fez considerar esses os melhores anos da minha vida. No entanto, já não dependo de ti para ser feliz, para sorrir com a maior verdade, para me rir até me doer a barriga, para ter a consciência que mais tarde ou mais cedo amarei alguém, não como te amei porque ninguém é comparável, mas para amar. Simplesmente isso: amar.
Por vezes, durante todo este processo, achei que o tempo estava a ser traiçoeiro comigo e não estava a fazer o seu trabalho: atenuar aquela dor, tão forte, tão solitária, tão terrível, porém, não o podia ter feito da melhor forma. Fez-me perceber o quanto o amor dói, apesar de não haver nada mais poderoso no mundo que o amor. Tudo é amor, pode não ser demonstrado da melhor forma, pode não ser compreendido como era suposto ser compreendido, mas tudo o que fazemos é por amor apesar de continuar a ser uma pequena aprendiz e espero que para sempre o seja, não quero que o dogmatismo leve o melhor de mim, ou seja, a curiosidade, a cor da vida.
Muitas vezes pergunto a mim própria quanto tempo mais é preciso para poder ser capaz de me interessar por alguém, deixar de ter medo de viver, arriscar, voltar a ser quem era antes de ti. Mas é impossível. A vida e as suas circunstâncias modificam-nos a cada segundo. Sinto que esta impossibilidade me tira a respiração, mas também é por ela que respiro, para tornar a vida possível.
Agora, aqui sentada, vislumbro o horizonte que outrora vislumbrámos, relembro os planos que fizemos, as conversas que tivemos e as que não tivemos. Imagino como seria se, agora, aqui sentada,  tu estivesses ao meu lado, envolvidos no silêncio e no frenesim que era o nosso silêncio. Penso e repenso tudo o que disse e o que não disse, tudo o que sonhei e deixei de sonhar, tudo o que vivi mas não vivi, contigo e comigo. É a vida - dizem eles.
Para sempre serei uma mera aprendiz, que nada sabe mas que pensa, inofensiva e imaturamente, tudo saber, tudo viver. Um dia, quando souber verdadeiramente o que é o amor, prometo procurar-te, para te contar tudo o que descobri, para dissertar acerca do tudo e do nada, estejamos à distância que estivermos, vivamos a vida que vivermos.
Mas ... tenho uma coisa para te dizer: eu nunca irei procurar saber o que o amor é, pois, de e para sempre, desejo ser uma eterna aprendiz.
Bia"

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