Ana Vidigal, 2000 |
Muitos nomes e rostos de alunos continuam na minha memória. Como uma adolescente muito loira, muito bonita, muito estudiosa e que tinha um desgosto inimaginável: chamava-se Porcina.
Um outro aluno, cujo
apelido era Ludmila, fazia questão, com alguma arrogância e orgulho familiar,
de ser chamado assim e não pelo nome próprio, bem mais comum.
Tantos casos curiosos fui gravando
na memória.
De excelentes desempenhos por parte
de alguns alunos. Por vezes, dava comigo a pensar que gostava de atingir aquela
perfeição porque nada ficava por fazer,
nada ficava por perguntar, nada ficava por completar.
O contrário também acontecia:
jovens que bocejavam, que olhavam mais para fora da sala de aula do que para
dentro, que perdiam o manual e o caderno, que esqueciam a pen no dia da
apresentação de um trabalho, que não tinham esferográfica, que inventavam dezenas de truques para
usar o telemóvel na sala de aula, que nunca agradeciam nem pediam desculpa...
Recordo também algumas sessões de língua portuguesa para adultos (trabalho de que também gostei), muitas
dúvidas surgiam: onde colocar a vírgula? Por que é à e não há?
Qual é a diferença entre vêm e veem?
Para além de alguns dados sobre o Novo
Acordo Ortográfico, explicávamos e voltávamos a explicar, porque alguns
mecanismos vão perdendo o vigor em trabalho duro de anos a
fio, indiferente a estas coisas que, só regressando à escola, parecem ser importantes.
Ah! E houve uma formanda já de certa idade que, no final
de uma destas sessões, pediu para ler um poema que tínhamos incluído no guião. Leu-o com tal sentimento que o grupo lhe bateu palmas.
E disse com um sorriso de sentida vitória:
E disse com um sorriso de sentida vitória:
- Sempre gostei de poesia. Obrigada.
Eu acrescentaria: as boas memórias também agradecem.
Eu acrescentaria: as boas memórias também agradecem.
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