quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Há tantas raposas na terra!

 
 Em muitas noites, nos arredores de Londres, é frequente ouvir as raposas que regougam, roncam, uivam, gritam.

 Paula Rego, numa entrevista, com o seu  encantamento infantil, confessou: "Em Londres, não saio à noite porque tenho medo das raposas" (talvez por, na calada da noite, saírem das tocas, nos parques, e procurarem alimento nas ruas onde encontram sacos de lixo acessíveis).
Na minha infância, em que o tempo era mais de castigo do que prémio, ouvia-se: "Se não estudares, tens uma raposa" (reprovação).
E, por falar em raposas, lembrei-me da fábula de Esopo "A raposa e o queijo".
Recordei-a:
Estava um corvo num ramo de uma árvore e, no bico, segurava um queijo. Passando uma raposa, logo desejou a iguaria que não estava ao seu alcance por se encontrar demasiado alta. Para tal, elogiou a voz do corvo, pedindo que cantasse. O corvo, ingenuamente seduzido, abriu a boca para começar o seu canto, deixando logo cair o queijo. A esperta raposa, tendo conseguido o que pretendia, fugiu veloz levando consigo o desejado pitéu.
Também sobre uma raposa é um conto de Teolinda Gersão, incluído no livro  A mulher que prendeu a chuva,  "O casaco de raposa vermelha".
Não esqueço esta narrativa que me fascinou, tendo, muito resumidamente, dela retido:
Uma bancária deseja intensamente comprar um casaco de pele de raposa vermelha que viu numa montra de uma loja. Faz todos os cálculos do dinheiro de que pode dispor e o desejo de adquirir o casaco torna-se obsessivo.
Chega, finalmente, o dia tão desejado em que vai buscar o casaco e, vestindo-o, começa a correr em direção à floresta, tal qual uma raposa verdadeira.
Paralelamente a estes pensamentos, surgem os pequenos livrinhos que o meu pai nos comprava na Feira do Livro do Porto e cujas personagens eram, recorrentemente, as raposas, as cegonhas e os lobos. Parece que me estou a ver sentada na soleira da porta segurando um desses livrinhos na mão.
Um dia, ouvi uma vizinha falar de outra vizinha chamando-lhe manhosa e vingativa e logo me lembrei de uma história em que a raposa convidou a cegonha para almoçar, servindo a comida em pratos rasos, uma vez que a cegonha lhe tinha oferecido um almoço em jarras altas onde só um longo bico caberia.
Mesmo de raposa. 

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