quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Tão cedo!

 

  Maria Keil  - Silves, 1914/Lisboa, 2012

 

A festinha de aniversário corria alegre. O Dinis fazia sete anos e festejava-os com a família e alguns amiguinhos da escola. Estava bom tempo e o jardim, onde brincavam, era grande e havia uma pequena piscina de plástico no meio da relva.

Daí a nada, os meninos já se molhavam no meio da algazarra e correria. Um deles sugeriu: vamos ficar em cuecas. Logo a seguir, todos começaram a tirar a roupa. Quase todos. Sem calçado, as meias molhadas iam saindo naturalmente dos pés, de tanto correr e saltar.

Sentado, junto do pai, Frederico olhava para os colegas, ria-se mas não foi nunca para o meio deles. Manteve-se à sombra, nunca tirou a camisa nem o calção, ao contrário dos colegas. Nem o calçado. Nem nunca correu.

Levantava-se para ir à mesa buscar alguma comida de vez em quando.

Quando todos se reuniram para cantar os parabéns, os adultos  repararam melhor no Frederico.  E nos prováveis complexos pelo seu corpo mais volumoso que os colegas da mesma idade. 

Parece que era um bom amigo, mas de si próprio parecia já não gostar. Tão cedo!


terça-feira, 25 de agosto de 2020

Também era agosto


 Paul Cézanne

Há uns anos, visitámos a Provença - La Provence Côte d'Azur - de alguns sonhos e de muitas imagens anteriores.

Era verão e passámos pelos campos de lavanda, mas já não estavam floridos, para pena dos meus olhos.

Vimos os campos de girassóis, mas com as flores tombadas de maduras. Mesmo assim, não deixavam de ser os vastos campos de girassóis que eu desejava ver ao vivo.

Em Aix-en-Provence, comprei duas toalhas - uma com raminhos azuis de lavanda, outra com girassóis. Não me digam que as toalhas não guardam histórias. Quando as vejo ou uso, vêm-me logo à memória muitos momentos dessa viagem. 

Nessa cidade, visitámos o atelier do pintor pós-impressionista  Paul Cézanne (Aix-en-Provence 1839/1906). Não podíamos perder essa oportunidade. Havia um vento agreste, sem perturbar a  luminosa manhã de agosto. 

O atelier mantinha, em natural desalinho, as prateleiras onde o pintor dispunha os frutos e objetos que serviam de modelo para as suas naturezas-mortas.

Paul Cézanne

E foi-nos dito que, de manhã cedo, o pintor costumava percorrer longos caminhos a pé, carregando com os materiais de que precisava, para pintar as paisagens envolventes.

Paul Cézanne

Gostava de voltar um dia àquela região. Também para ver os campos azuis de lavanda florida. Talvez num mês de julho. A gosto.

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

É agosto!

Paul Cézanne - Pintor pós-impressionista - Provença, França, 1839-1906

 

Alguns provérbios sobre este mês de verão:

- Agosto amadurece, setembro vindimece. 
 
- Agosto chuvoso é ano formoso.

- Agosto madura e setembro vindima.

- Agosto, toda a fruta tem gosto.

- Água de agosto apressa o mosto.

- Água de agosto dá mel e mosto.

- Água de agosto tira o sol do rosto.

- Água de agosto, açafrão, mel e mosto.
 
 -Chuva de agosto apressa o mosto.

- Chuva em agosto: açafrão, mel e mosto.

- Em agosto secam os montes e em setembro as fontes.


sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Billie Eilish - "My future"

  O futuro é assunto muito discutido atualmente,

a propósito das próximas eleições americanas,

 de tudo que vai acontecendo no mundo, como a pandemia da Covid 19, etc.

Mudam os planos, os estados de alma, as reflexões, os questionamentos...

 

Billie Eilish nasceu em Los Angeles, em 2001.


"My Future

I can't seem to focus
And you don't seem to notice
I'm not here
I'm just a mirror
You check your complexion
To find your reflection's all alone
I had to go
Can't you hear me?
I'm not comin' home
Do you understand?
I've changed my plans

'Cause I, I'm in love
With my future
Can't wait to meet her
And I (I), I'm in love
But not with anybody else
Just wanna get to know myself

I know supposedly I'm lonely now (Lonely now)
Know I'm supposed to be unhappy
Without someone (Someone)
But aren't I someone? (Aren't I someone? Yeah)
I'd (I'd) like to be your answer (Be your answer)
'Cause you're so handsome (You're so handsome)
But I know better
Than to drive you home
'Cause you'd invite me in
And I'd be yours again

But I (I), I'm in love (Love, love, love, love)
With my future
And you don't know her
And I, I'm in love (Love, love)
But not with anybody here
I'll see you in a couple years"

terça-feira, 18 de agosto de 2020

"Um pouco mais de azul..."

 

       
Claude Monet - 1840/1926 França

"Quase

Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minhalma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

(...)"

 

Mário de Sá-Carneiro 

Poeta, contista, figura do Modernismo e da geração de Orpheu 

1890 Lisboa/1916 Paris


domingo, 16 de agosto de 2020

"Intertexto"


Helena Almeida
Artista plástica
Lisboa - 1934/Sintra - 2018

 

"INTERTEXTO

Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo".

Bertolt Brecht 

Dramaturgo, poeta e encenador alemão -1898/1956

 

Obrigada, Isabel, pela partilha.

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

"Ensinamento"

Sarah Afonso
(Lisboa, 1899/1983)  

Minha 
mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.

Não é 

A coisa mais fina do mundo é o sentimento. 
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:

"Coitado, até essa hora no serviço pesado".

Arrumou pão e café , deixou tacho no fogo com água

quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.
 

                                   Adélia Prado (nasceu em Minas Gerais, em 1935)

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Há muito que não ouvia essa palavra

Hoje fui à feira de Gondomar com uma amiga. Já não me lembrava de ir à feira. De ir com máscara é que não me podia lembrar. 

E apreciei a capacidade de os feirantes ouvirem não sei quantas questões dos clientes quase ao mesmo tempo e também responderem quase em simultâneo. 

Uma vendedeira contou até uma peripécia da mãe que, tendo ficado viúva, não tirava um lenço preto da cabeça, nem mesmo em consulta no hospital.

Depois de olharmos todas aquelas cores e feitios aos olhos de todos expostos, entrámos numa barraca de tecidos, comandada por duas vendedeiras muito comunicativas e expeditas.

Uma delas, falando de um tecido que nos chamou à atenção, exclamou:

- É muito fidalguinho.

E recuei no tempo em que ouvia essa palavra com frequência. A mesma vendedeira, com boa tática de marketing, disse que se lembrava das clientes.

Na despedida, a amiga com quem eu estava, e que é muito bem disposta, disse:

- Se quiseres, vamos outra vez à feira comprar tecidos na próxima semana. A vendedeira até já me conhece e, para além disso, também sou fidalguinha!


quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Que esta escrita nunca se acabe!

 Belíssimo texto. Para além do bom humor, é uma lição de escrita criativa.

Obrigada, Idalina, por mais esta partilha.

“Recordo-me dos primeiros dias em que comecei a planear o primeiro livro da minha vida, esse romance que ia escrever nas águas-furtadas do sexto andar do número 5 da rue Saint-Benoît e que a partir do primeiro momento, desde que encontrei o argumento num livro de Unamuno, se intitulou La asesina ilustrada. Embora nesse tempo tivesse uma relação muito idiota com a morte, ou precisamente por isso, o romance propunha-se matar quem o lesse, matar o leitor segundos depois de ele o dar por terminado. Foi uma ideia inspirada pela leitura de Como SE Faz Um Romance, um ensaio de Unamuno que descobri numa banca de livros ao longo do Sena e que me tinha chamado a atenção devido ao título, pois pensei que falava do que eu precisamente não sabia fazer. Mas não, falava de tudo menos de como se escrevia um romance. No entanto, num parágrafo onde Unamuno especulava com livros que provocam a morte dos seus leitores, encontrei uma boa ideia para contar uma história.

Um dia, cruzei-me com Marguerite Duras na escada – eu subia para a minha chambre e ela descia para a rua – e mostrou-se subitamente interessada em saber com que coisas andava entretido. E eu, pretendendo armar-me em importante, disse-lhe que me propunha escrever um livro que provocasse a morte de todos os que o lessem. Marguerite ficou petrificada, sublimemente estupefacta. Quando conseguiu reagir, disse-me – ou julguei que me dizia, porque voltou a falar-me no seu francês superior – que matar o leitor, além de um despropósito, era praticamente impossível, a menos que, por exemplo, de dentro do livro saísse disparada uma veloz e afiada flecha envenenada que fosse direta ao coração do desprevenido leitor. Fiquei muito aborrecido e até cheguei a temer que me deixasse sem as águas-furtadas, temi que descobrir que eu era um principiante sem demasiado interesse a levara a isso. Mas não, Marguerite detetou simplesmente em mim uma descomunal confusão mental e quis ajudar-me. Acendeu pausadamente um cigarro, olhou-me meio compassivamente e acabou por me dizer que, se queria assassinar quem lesse o livro, o devia fazer com base num efeito textual. Disse isto e continuou a descer a escada deixando-me mais preocupado do que estava. Eu tinha entendido bem ou o seu francês superior tinha-me feito entender mal? Que era aquilo de efeito textual? Talvez se tivesse referido a um efeito literário que eu mesmo me deveria encarregar de construir dentro do texto para causar ao leitor a impressão de que as próprias letras do texto o iam matando. Talvez fosse isso. Mas, em todo o caso, como conseguir um efeito literário que pulverizasse o leitor de uma forma só textual?

Após uma semana de duras interrogações e sombras negras que para meu desespero se abatiam sobre o meu trabalho literário, voltei a cruzar-me com Marguerite na escada. Desta vez, ela subia – como em tantos imóveis de Paris, não havia elevador – para o terceiro andar, onde ficava a sua casa. E eu descia do sexto, da minha modesta chambre, em direção à rua. Manejando novamente o seu francês superior, Marguerite perguntou-me, ou pareceu-me entender que me perguntava, se já tinha conseguido matar os meus leitores. Ao contrário do nosso anterior encontro, desta vez decidi não me armar em importante, quer dizer, não cair no ridículo, e procurar não ser só humilde como aproveitar qualquer lição que ela me pudesse transmitir. Contei-lhe, atabalhoadamente, com o meu francês inferior, ou se se quiser confuso, as dificuldades com que me debatia para conseguir pôr o meu romance em pé. Procurei explicar-lhe que, seguindo o seu conselho, já só queria provocar a morte do leitor praticando o crime no espaço estrito da escrita. «Mas é muito difícil de conseguir, uma vez que me encontro nele», acrescentei.

Então vi que, se eu não a entendia muito, tão-pouco ela me entendia a mim. Fez-se um sério silêncio. Então, procurando acabar com a tensão, tentei resumir-lhe o que se passava comigo, balbuciei sincopadamente isto: «Um conselho, é do que preciso, ajuda para o meu romance.» Desta vez Marguerite entendeu perfeitamente. «Ah, um conselho», disse, e convidou-me a sentar-me ali no hall (como se estivesse muito cansado), apagou lentamente o cigarro e pô-lo no cinzeiro da entrada e dirigiu-se, um tanto misteriosamente, para o seu escritório, donde voltou passado um minuto com uma folha de papel que parecia uma receita médica e continha umas instruções que podiam – disse-me, ou julguei entender que me dizia – ser-me úteis para escrever romances. Peguei na folha e dirigi-me para a rua. Li as instruções que continha pouco depois, já na rue Saint-Benoît, e senti que de repente desabava sobre mim todo o peso do mundo, ainda hoje recordo o pânico enorme – calafrio, para ser mais exato – que senti ao lê-las:

1. Problemas de estrutura. 2. Unidade e harmonia. 3. Enredo e história. 4. O fatot tempo. 5. Efeitos textuais. 6. Verosimilhança. 7. Técnica narrativa. 8. Personagens. 9. Diálogo. 10. Cenários. 11. Estilo. 12. Experiência. 13. Registo linguístico.”

 

Vila-Matas, Enrique, Paris Nunca Se Acaba, 2003, Editorial Teorema, Lisboa

terça-feira, 11 de agosto de 2020

Cinco flores


A pandemia limita muito as viagens.
Este ano, não estarei com a Clarinha no seu 5º aniversário.
Já lhe fiz um postal com cinco flores. No interior, dei-lhe os parabéns em letra redondinha.
E desenhei mais flores.
Ah, e também pintei corações.


Não foi só ontem

 

Ontem, fui a uma caixa multibanco para pagar várias contas. Quando me preparava para introduzir o cartão, verifiquei que atrás de mim estava uma jovem. Como sabia que ia demorar algum tempo, voltei-me e perguntei-lhe:

- É só para levantar dinheiro?

- É, respondeu.

Eu disse-lhe então:

- Pode passar, porque vou demorar algum tempo.

A jovem passou, fez a operação que pretendia e foi à sua vida. Mas nem sequer um obrigada.

Na estrada, passam-se coisas semelhantes: dá-se passagem, mesmo tendo prioridade, e alguns condutores avançam e nem um olhar. E nem um levantar de mão de agradecimento.

Para não falar de quando se segura na porta para a pessoa que vem atrás passar e não se ouve sequer uma palavra. 

Diz-se que o silêncio é de oiro, mas, nestes casos, uma simples palavra é bem mais valiosa. E não custa nada.

 

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

domingo, 9 de agosto de 2020

Pequeno diário à beira-mar


Partida e chegada. Junto roupa para levar para a semana de férias. Não, não é preciso casaco. Tem estado muito calor.  Preciso é de frescura.
Chego depois de passar junto ao mar, onde vejo muitas ondinhas a que chamamos carneirinhos.
No parque de estacionamento estão poucos carros.
Há vento norte. Vejo também pelos arbustos.
Quando saio do carro, sinto a falta de um casaco.
E em tempo de covid há menos abraços.
Sempre aqueceriam um bocadinho mais.

No dia seguinte. Vou ver a praia da parte da tarde. O parque de estacionamento, ao lado do passadiço, está ainda mais deserto. Chega uma caravana com matrícula espanhola.
É a única, embora no verão costume haver muitas mais.
Na praia, não há ninguém. Apenas mar enfurecido.
Apenas vento.
Apenas sargaço negro que as ondas arrastaram e que deixam desenhos  ondeados na areia molhada.
Volto para casa.
Amanhã levo o telemóvel.


Num momento de decisão. Tinha decidido passar a semana sem ligar a televisão nem abrir o computador.
Mesmo assim, pus o computador na bagagem. Junto de um livro.
Não abri, como tinha decidido, o computador.
Usei o telemóvel!!!!!


Num outro dia. Enquanto caminhava, ia olhando as algas negras da praia e ia-me lembrando da mulher muito velha e corcovada que, antigamente, apanhava feixes de algas e os transportava praia fora.
Andava sempre vestida de preto, era franzina e não falava com ninguém.
Vivia perto da praia, mas só as algas lhe traziam a maresia.

Quase sempre ao final do dia. Já não sabia se era hábito se era paixão. Quando fechava o quiosque, pegava no tripé e na máquina fotográfica. Era o momento mais desejado do dia. Fotografava o mar, o pôr-do-sol e as gaivotas. Amava aquela praia e conhecia-a ao pormenor. Um dia, perguntei-lhe se tinha fotografado muito. Respondeu que sim, mas sem dar qualquer ênfase à resposta. Compreendi. Também as gaivotas não precisam de dizer que gostam de voar.

Mindelo - manhã de ontem

 

sexta-feira, 31 de julho de 2020

Pintores e poetas mostram bem que ninguém é uma ilha


Beatriz Brum
- nasceu em 1993, em Ponta Delgada


Coisa Amar

Contar-te longamente as perigosas
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.
Contar-te longamente longamente.

Amor ardente. Amor ardente. E mar.
Contar-te longamente as misteriosas
maravilhas do verbo navegar.
E mar. Amar: as coisas perigosas.

Contar-te longamente que já foi
num tempo doce coisa amar. E mar.
Contar-te longamente como doi

desembarcar nas ilhas misteriosas.
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas.

Manuel Alegre



Urbano Resendes
- nasceu em 1959, na ilha de S. Miguel


Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.

E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral
Fazes soar a tua dor pelas alturas.
E se antes de tudo odeio e fujo
O que é impuro, profano e sujo,
É só porque as tuas ondas são puras.

Sophia de Mello Breyner


quarta-feira, 29 de julho de 2020

Nove ilhas, outras tantas pronúncias


Hoje, uma amiga enviou-me este vídeo sobre os falares das ilhas dos Açores.
Gostei muito e quis também partilhá-lo.
Vale a pena ouvir as diferentes pronúncias das nove ilhas, comunicadas de forma tão expressiva e bem humorada.
Com este vídeo, fiquei ainda com mais vontade de voltar aos Açores.
Só que, no momento atual, não se sabe é quando. 
Felizmente, os livros, a música, os meios de comunicação ajudam a viajar.

Obrigada, Isabel.

P.S. No vídeo, apenas reconheço Luís Filipe Borges, açoriano.
Se foi ele que impulsionou este vídeo,  merece um aplauso.
E o Professor também.


terça-feira, 28 de julho de 2020

Irrita-me profundamente


Domingo à noite, quis ver o programa da SIC - julgo que repetido - de Ricardo Araújo Pereira, de reconhecido talento para a escrita e para a representação.
No momento em que liguei a televisão, o humorista segurava um martelo, prestes a destruir uma pequena estátua que tinha a seu lado.
Aludia, é claro, ao derrube de estátuas em diferentes países.
Independentemente dos motivos ideológicos, não gosto mesmo nada de cenas de humor em que se estragam coisas, fazendo disso espetáculo.
A meu ver, existem outros modos de exercer o legítimo direito à crítica.
Também Herman José - um génio do humor - já recorreu à mesma estratégia, demolindo, por exemplo, partes de cenários.
Também  não gosto de ver estragar alimentos, como às vezes acontece, com o intuito de provocar o riso.
No excerto do programa que vi este domingo, um pequeno fragmento da estátua pareceu atingir o humorista.
Mesmo assim, ele não perdeu a graça, mas também não fez perder a irritação.



segunda-feira, 27 de julho de 2020

Há palavras e palavras!



Sempre que posso, desde a fase mais aguda da Covid 19, gosto de arrumar coisas em casa: reorganizo livros, separo papéis e reúno outros, reciclo ou dou coisas que, com o tempo, se foram tornando inúteis e ocupam demasiado espaço, etc.

Ora, como acontece muitas vezes nestes casos, vêm-me ter à mão papéis que não me trazem boas recordações, outros que me causam nostalgia, outros que me comovem e que não quero perder...

Numa caixa, uma espécie de pequena arca onde vou guardando bons tesourinhos, encontrei uma folha de um jornal Expresso, dobrada em quatro, com um texto de José Tolentino Mendonça. Não devia ter tempo de o ler na altura e ficou à espera.

O título é "Farmácia da alma".
Reli o texto e deixem-me partilhar algumas frases de que gostei muito:

"Na contemporaneidade, descobrimo-nos sempre mais imersos numa cultura onde a palavra é sobreabundante, onde a todo o minuto se produzem milhões de palavras, com o risco de que o seu vamor empalideça";

"A palavra distingue-nos entre todas as outras criaturas, porque somos seres de palavra, nascemos com essa capacidade, vivemos através da palavra, conhecemos e damo-nos a conhecer através dela";

"Conta-se que os antigos faraós do Egito criavam bibliotecas nas cidades mais remotas do reino e sobre a entrada faziam escrever: 'Farmácia da alma'";

"A palavra é uma parte significativa da complexa arte de curar";

" A palavra oportuna pode ser, de facto, curativa."

Toda a crónica é muito interessante, mas... mais palavras para quê?