Partida e chegada. Junto roupa para levar para a semana de férias. Não, não é preciso casaco. Tem estado muito calor. Preciso é de frescura.
Chego depois de passar junto ao mar, onde vejo muitas ondinhas a que chamamos carneirinhos.
No parque de estacionamento estão poucos carros.
Há vento norte. Vejo também pelos arbustos.
Quando saio do carro, sinto a falta de um casaco.
E em tempo de covid há menos abraços.
Sempre aqueceriam um bocadinho mais.
No dia seguinte. Vou ver a praia da parte da tarde. O parque de estacionamento, ao lado do
passadiço, está ainda mais deserto. Chega uma caravana com matrícula espanhola.
É a única, embora no verão costume haver muitas mais.
Na praia, não há ninguém. Apenas mar enfurecido.
Apenas vento.
Apenas sargaço negro que as ondas arrastaram e que deixam desenhos ondeados na areia molhada.
Volto para casa.
Amanhã levo o telemóvel.
Num momento de decisão. Tinha decidido passar a semana sem ligar a televisão nem abrir o computador.
Mesmo assim, pus o computador na bagagem. Junto de um livro.
Não abri, como tinha decidido, o computador.
Usei o telemóvel!!!!!
Num outro dia. Enquanto caminhava, ia olhando as algas negras da praia e ia-me
lembrando da mulher muito velha e corcovada que, antigamente, apanhava feixes de algas
e os transportava praia fora.
Andava sempre vestida de preto, era franzina e não falava com ninguém.
Vivia perto da praia, mas só as algas lhe traziam a maresia.
Quase sempre ao final do dia. Já não sabia se era hábito se era paixão. Quando fechava o quiosque, pegava no tripé e na máquina fotográfica. Era o momento mais desejado do dia. Fotografava o mar, o pôr-do-sol e as gaivotas. Amava aquela praia e conhecia-a ao pormenor. Um dia, perguntei-lhe se tinha fotografado muito. Respondeu que sim, mas sem dar qualquer ênfase à resposta. Compreendi. Também as gaivotas não precisam de dizer que gostam de voar.
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