(Imagem retirada da net)
Nasruddin ganhava a vida a vender ovos.
Um belo dia passou alguém pela sua loja e disse: «Adivinhe o que trago na mão».
«Dê-me uma pista, pelo menos», disse Nasruddin.
«Pois
dou-lhe várias e até muitas», disse o outro. «Tem forma de ovo,
tamanho de ovo, aparência de ovo; tem cheiro de ovo, tem gosto de ovo
e, por dentro, é branco e amarelo. É líquido antes de cozido… E é a
galinha que o põe!»
«Ahaaa! Já sei!», exclamou Nasruddin: «É uma espécie de bolo!»
Quantas vezes também nós não entendemos o óbvio!
Falta-nos talvez a simplicidade e a atenção plena ao presente.
Anthony de Mello
O canto do pássaro
Lisboa, Ed. Paulinas, 1998
(Adaptação)
Texto enviado por:
http://contadoresdestorias.wordpress.com
Por falar em ovo…
Quando eu era pequena, a minha
mãe criava galinhas e coelhos. Quando não tinha ovos que chegassem, eu ou a minha
irmã íamos a duas casas de lavoura, na nossa aldeia, comprar os ovos.
Ensinaram-nos a dizer: ovos para botar. Aqui,
o sentido de botar era chocar e deles
saírem novos pintos.
De ambas as casas tenho
recordações.
As casas de lavoura tinham
habitualmente os currais, a que chamávamos aidos, por baixo e no piso de cima
ficava a parte da habitação.
Ora, quando chegávamos a uma das
casas, chamávamos pela dona – era uma senhora muito alta, muito magra que usava
sempre saias compridas e um avental – e ela vinha à janela. Nós dizíamos que
queríamos ovos. Ela desaparecia da janela e daí a nada tinha nas mãos uma
cestinha com os ovos que fazia descer, cuidadosamente, por uma corda fina. Nós, em
baixo, recolhíamos os ovos, colocávamos o dinheiro na cestinha que era de novo
içada.
Da outra casa recordo a
graciosidade da senhora que nos vendia os ovos, em contraste com a palha seca,
o estrume, as hortaliças cheias de terra, os bois a chegar, pesados e
tristonhos…
Dos ovos nasciam pintos que
cresciam e se reproduziam, através de novos ovos. Também davam uma bela canja,
arroz de frango, um bom assado a perfumar muitos domingos…
É curioso que deles no prato não
me lembro, mas dos ovos e da capoeira nunca esqueci.