quinta-feira, 15 de março de 2012

Não querem ficar bem na fotografia?


Há pequenas situações quotidianas que revelam bem, a meu ver,  diferentes  posturas  dos jovens  na sua maneira de encarar o mundo:
- achar que tudo compete aos outros e que tudo podem fazer e dizer;
- contribuir com as suas atitudes para o bem estar pessoal e do grupo.
Vejo e oiço, por exemplo, nas aulas, alunos que se assoam ruidosamente enquanto outros estão a ler em voz alta; batem com a caneta na mesa durante a explicação do professor; estalam a garrafa de plástico vazia  no tempo em que alguém fala; bocejam  sem controle; mexem em objetos desconcentrando os mais próximos; conversam quando seria necessário silêncio…
Durante uma representação teatral, falam em voz alta como se estivessem no intervalo; fazem comentários quando as luzes se apagam; ligam os telemóveis sem ligar às recomendações…
 E são muitas vezes os que mais ruídos emitem, os que mais transgridem que mais se queixam, que mais descontentes se mostram, que mais críticas fazem, que mais confusão instalam, que mais pedras atiram e logo escondem a mão...
Um guia dá informações sobre um espaço, onde dificilmente o grupo voltará, e alguns elementos aproveitam para se sentar e conversar, em voz alta, sobre coisas que nada têm a ver.
Será um problema genético ou o resultado de muitas práticas educativas de desresponsabilização?
Em época de poupança, muitos dos nossos jovens desperdiçam recursos que outros lhes preparam para o seu sucesso. Muitos nem o reconhecem tão surdos que estão por todos os ruídos ouvidos e produzidos.
Felizmente a maioria dos jovens mostra a maravilha que é um ser humano a usufruir, com alegria, beleza e naturalidade, do mundo que nos rodeia. Outros ainda não tiveram ou não aprenderam a aproveitar essa oportunidade.
Mais vale não deixar para amanhã. Pode ser demasiado tarde. 
Não querem ficar bem na fotografia?


quarta-feira, 14 de março de 2012

Uma foto para o facebook

Os Maias
Hoje o dia foi passado em Sintra em visita de estudo. Professores e alunos. Começámos na Quinta da Regaleira – obra  de arquitetura esplendorosa do século XX.
A vegetação abundante, os recantos convidativos, as fontes românticas, as estátuas tranquilas, o poço iniciático… eram cenários de novos conhecimentos e de fotos e mais fotos pelos alunos. Fotografavam-se uns aos outros com pose ou naturalmente. A esta hora, já devem encher muitos olhos que entram no facebook. Sinal dos tempos.
A guia tinha até de esperar pelos fotógrafos que se encantavam com as fotos como Narciso ao olhar a sua imagem no espelho das águas.
À tarde, fomos ao Teatro Olga Cadaval assistir à peça Os Maias. Uma boa oportunidade para todos lerem melhor o romance de Eça de Queirós, para entenderem diferentes linguagens a partir de uma obra-prima da Literatura universal que apresenta, analisa e critica muitos  factos da vida de Portugal do século XIX , imbuído do espírito do Romantismo. Não é por acaso que o subtítulo do romance é "Episódios da vida romântica" (Carlos e Ega chegam a esta conclusão: "Românticos: isto é, indivíduos inferiores que se governam na vida pelo sentimento, e não pela razão..." Os Maias, cap. XVIII).
Ocasião também para aprender a ver uma peça de teatro, respeitando atores, espectadores; tirando partido dos bons recursos disponíveis de forma educada e inteligente; mostrando que estar bem em sociedade é aprender a saber estar em qualquer sítio.
Alguns meninos estão bem longe de o demonstrar. Muitos, felizmente, já revelam que podem ir e estar em todos os lugares, com luz acesa ou apagada, num grupo grande ou pequeno, porque sabem, responsavelmente, que os ambientes são criados por todos mas por cada um em particular.
Ah, e não esquecemos as queijadas!

Um dia em Sintra

I
Imagens da Quinta da Regaleira
Imagens do interior do Palácio da Regaleira 
(Romântico - recuperação do estilo manuelino)

Subindo ao Céu que é Sintra

terça-feira, 13 de março de 2012

Viagem

 É o vento que me leva.
O vento lusitano.
É este sopro humano
Universal
Que enfuna a inquietação de Portugal.
É esta fúria de loucura mansa
Que tudo alcança
Sem alcançar.
Que vai de céu em céu,
De mar em mar,
Até nunca chegar.
E esta tentação de me encontrar
Mais rico de amargura
Nas pausas da ventura
De me procurar...


Miguel Torga, in 'Diário XII'

domingo, 11 de março de 2012

Mão do Homem/mão de Deus

Imagens tiradas da net: 
Central Park, Hyde Park, Goa, Macau, Paris, S. Petersburgo

sábado, 10 de março de 2012

Confissões

Há muitos anos, eu  trabalhava a uns trinta quilómetros de casa. Entre colegas, combinámos levar o carro à vez. Para além da poupança na gasolina, as viagens eram mais animadas. Falávamos das peripécias do dia, das notícias, da família, dos trabalhos que íamos executando...

No regresso, falávamos muitas vezes de receitas de cozinha: de pratos que sabíamos fazer, de que gostávamos, etc.

Este tema era quase sempre no regresso porque devia ser quando estávamos mais libertos e também com alguma fome.

Mas os temas podiam ser bem diferentes. Às vezes,  falávamos sobre religião, porque alguém defendia as vantagens da confissão dentro dos preceitos da religião católica, isto é, a um padre. E as razões apresentadas eram sobretudo o facto de se evitar perder tempo e gastar dinheiro num psiquiatra. E entre sorrisos, havia insistência: então, não acham que é melhor? E é de graça! E não tem de se marcar consulta!

Quando passo nessa estrada, ladeada de árvores de mimosas bem amarelas no final do inverno, lembro-me dessas nossas conversas. Entre vozes e gargalhadas, também partilhávamos as nossas confissões.

Comentário:
E também, do bacalhau com natas da Marília... Era cá uma fome, que até o José António dizia que ia sair dali feito num oito. Onde estará este colega? Que saudades desse tempo! Se pudesse voltar atrás, metida numa máquina do tempo e viajar até ao ano de 1980 à la recherche du temps perdu, ia de certeza encontrar esses colegas ausentes hoje, mas sempre presentes na minha memória. Fizeste bem em recordar aqui esses espaços e esses tempos felizes. Obrigada por teres partilhado também comigo alguns desses momentos. CS em Confissões

Porque hoje é sábado...

 Renoir
O dia da criação
...
Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado
Hoje há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado
Há um rico que se mata
Porque hoje é sábado
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado
Há um grande espírito-de-porco
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado
Há criançinhas que não comem
Porque hoje é sábado
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado
Há uma tensão inusitada
Porque hoje é sábado
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado
Há uma comemoração fantástica
Porque hoje é sábado
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado
...
Vinicius de Moraes

Exceções e adaptações


     Muitos políticos, pela sua expressão facial, revelam muito do que são: construtores de mentiras habilidosas, egocêntricos, calculistas... Aplica-se-lhes bem o provérbio: Bem prega frei Tomás, olhem para o que diz e não para o que faz.
     Estão tão narcisicamente encantados com o seu poder e com a sua imagem que nem se lembram que muitos dos seus atos pioram o mundo em vez de o melhorarem. Isto acontece  também quando jogam com as palavras e argumentos para encontrarem muitas exceções à regra, como é o caso do não corte nos salários dos funcionários da TAP e da CGD. Porta-vozes destas decisões vêm dizer que não são "exceções" mas "adaptações"...
      Para além de erros que cometem, tratam os comuns dos mortais como parvos e distraídos.
     Para além disto, figuras que representam todos os portugueses, como o PR, mostram, em muitos momentos, a pequenez do espírito de vingança.
      Há quem defenda que os cargos de muitos governantes se devem ao facto de a sociedade civil se demitir com frequência.
      De facto, seria bom que, no contexto atual, houvesse políticos que fossem exceções, mas, muitas vezes, não passam de adaptações de modelos já gastos.

sexta-feira, 9 de março de 2012

A caixinha de música

Julgo que nunca tive nenhuma caixinha de música. Julgo também que a maioria das pessoas nunca teve uma caixinha de música. Também não é fundamental que se tenha uma caixinha de música. Mas há coisas que são importantes, ainda que não essenciais, tais como uma caixinha de música.
Este objeto  - quase mágico, quase mítico - tem vindo à baila com frequência entre um grupo de amigos por causa do livro de Maria Clara Miguel - O tesouro.
Ora, na busca do tesouro, as personagens deparam-se com uma caixinha de música há muito existente num velho casarão. Estaria lá escondido ou não o tesouro?
Um livro pode ser um tesouro e ajudar a recuperar muitos outros. Tal como os sons encantatórios de uma caixinha de música. A rodopiar, leve e suavemente, na nossa memória.

Comentários: 
Afinal, não sou só eu que nunca tive uma caixinha de música! No tempo em que eu tinha idade para a ter, os meus pais deviam andar mais preocupados com o trabalho do que com comprar-me brinquedos. Pois é, naquele tempo, os brinquedos estavam no sapato em cima do fogão no dia de Natal, uma vez por ano! Hoje, todos os dias é Natal para a maioria das crianças. Será que amar os filhos é dar-lhes tudo e esquecer que eles existem enquanto pessoas? Mas, um dia ainda vou comprar uma caixa de música para ver se também eu encontro o meu tesouro. CS em A caixinha de música

Quando era criança, lembro-me que a minha mãe tinha uma caixinha de música com uma bailarina, quando se levantava a tampa, começava a ouvir-se a música e surgia a bailarina que rodopiava ao som da música. E entretanto arranjei uma "caixa" de música que é um farol. Gosto de caixas de música :) em A caixinha de música Redonda

A caixinha de música da minha infância não era lá de casa!
Pertencia a uma senhora - a dona Nezinha (Que Deus a tenha!)- amiga  da minha tia Guilhermina (tia-avó, que Deus a tenha também!) que me criou.
Quando íamos a casa da dona Nezinha, ela emprestava-me a caixinha: a princípio aos olhos; mais tarde para as mãos. Era um pinaninho que, quando se abria, exibia uma pequena bailarina que dançava ao som, penso eu, do Lago dos Cisnes.
Por baixo das teclas, havia uma pequena gaveta que funcionava como guarda-joias. Não sei se eram de valor. Só sei que me ofuscava com o brilho das peças...
 E era um pequeno tesouro, que, mesmo não sendo meu, me fazia feliz.
Penso que a caixinha de música da Maria Clara Miguel foi pedida emprestada àquela que foi "minha" na minha infância!
Afinal, nada é por acaso!
Bjinhos para a Mariana e a Dolores
IA

Olhos de água


Chegou mais tarde e entrou na sala de aula sem dizer nada. A professora não gostou e olhou-a com aridez no olhar. Ultimamente, andava estranha e hoje nem se tinha dignado sequer a dizer bom dia e a pedir desculpa pelo atraso. Ainda que fosse irritante quando ouvia de uma única assentada: desculpatraso. Como que a despachar uma obrigação.
Se andava aborrecida com a vida, o problema era dela. Tinha chatices? Quem as não tem?
No final, Rosa veio ter com a professora. Pediu-lhe desculpa pelo atraso, mas que, naquele momento, nada tivesse de explicar.
A professora ouviu-a com atenção e reparou melhor nos claros olhos de água. Tristes, húmidos e avermelhados.

Expor-se mais à sexta-feira à noite


Já ouvi várias vezes o escritor Mário Cláudio dizer que escrever é expor-se. 
Manter um blogue, ainda que discreto, também implica alguma exposição. Vê-se a que horas se escreve, a frequência com que se escreve, os assuntos recorrentes…
Mas chegar à sexta-feira à noite e escrever, com alguma tranquilidade, um pouco mais no blogue pode implicar exposição mas que é bom é. 
É como atravessar uma ponte devagar, captando novos ares. Acenando, quase em silêncio, enquanto se caminha. Ainda que não se saiba quem está do outro lado.

Flores da há muito anunciada primavera

Comentário:
Belas flores para uma bela Primavera! A propósito de camélias lembro a exposição de camélias ocorrida este fim de semana no nosso Porto, o Porto romântico, o Porto dos jardins à inglesa que nos enternecem o olhar. CS em Flores da há muito anunciada primavera

O raminho de violetas


Tenho diante de mim um raminho de violetas.  Olhei-as, peguei nelas, senti-lhes o perfume e,  enquanto as punha na água, revi imagens de há muitos anos atrás. 
Em ruas do Porto, perto do mercado do Bolhão, havia vendedeiras de violetas. As belas flores miudinhas estavam em cestas, em raminhos, e atraíam os transeuntes, sobretudo os namorados. Lembro-me que  também as recebi. Quero crer que foi por amor.

Comentário:
O meu namorado era muito gentil. Esperava-me, às vezes, nos degraus da Faculdade de Letras com um raminho de violetas na mão. Tinha-as comprado a uma violeteira que costumava sentar-se à porta da Igreja dos Congregados. Era muito bonito ver um rapaz de 18 anos com um ramo de violetas na mão para oferecer à sua amada. Se calhar por ter passado por essa experiência feliz, quando vejo um homem com um ramo de flores na mão, não deixo de o olhar, imaginando o ar de felicidade de quem as vai receber. Ainda há homens que merecem ser amados! CS em O raminho de violetas

quinta-feira, 8 de março de 2012

Também os homens conhecem as mulheres (?)

 Paula Rego

Calçada de Carriche

Luísa sobe, sobe a calçada,
sobe e não pode que vai cansada.
Sobe, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe sobe a calçada.
Saiu de casa
de madrugada;
regressa a casa
é já noite fechada.
Na mão grosseira,
de pele queimada,
leva a lancheira
desengonçada.
Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
Luísa é nova,
desenxovalhada,
tem perna gorda,
bem torneada.
Ferve-lhe o sangue
de afogueada;
saltam-lhe os peitos
na caminhada.
Anda, Luísa. Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
Passam magalas,
rapaziada,
palpam-lhe as coxas
não dá por nada.
Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
Chegou a casa
não disse nada.
Pegou na filha,
deu-lhe a mamada;
bebeu a sopa
numa golada;
lavou a loiça,
varreu a escada;
deu jeito à casa
desarranjada;
coseu a roupa
já remendada;
despiu-se à pressa,
desinteressada;
caiu na cama
de uma assentada;
chegou o homem,
viu-a deitada;
serviu-se dela,
não deu por nada.
Anda, Luísa. Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
Na manhã débil,
sem alvorada,
salta da cama,
desembestada;
puxa da filha,
dá-lhe a mamada;
veste-se à pressa,
desengonçada;
anda, ciranda,
desaustinada;
range o soalho
a cada passada,
salta para a rua,
corre açodada,
galga o passeio,
desce o passeio,
desce a calçada,
chega à oficina
à hora marcada,
puxa que puxa, larga que larga,
toca a sineta
na hora aprazada,
corre à cantina,
volta à toada,
puxa que puxa, larga que larga,
Regressa a casa
é já noite fechada.
Luísa arqueja
pela calçada.
Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada,
Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
António Gedeão

quarta-feira, 7 de março de 2012

O dia por um fio




quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Tiago Veiga - Uma Biografia, escrita por Mário Cláudio, vence

...Prémio para melhor Livro de ficção narrativa, pela Sociedade Portuguesa de Autores.

Será biografia? Ou heterónimo? Ou uma vida imaginária?

É uma obra extensa. Com muitas fotografias de personalidades da vida cultural portuguesa.

Onde começa a ficção? E a realidade?

Não é só na Vida que elas se misturam.

Sobre Os Amantes, de David Mourão Ferreira



 Um dos contos dá título ao livro. A leitura desta narrativa suscita muitas interpretações: um cenário de guerra colonial, imagens de toda uma vida, busca da pessoa amada, situações representativas do fantástico e do onírico...

Apesar de todas estas e muitas outras leituras, nos contos, nomeadamente "Os amantes", existe um forte visualismo por inspiração do cinema - sobretudo francês e italiano. Também esta forma de arte pode suscitar muitos modos de entendimento.

Como disse Mário Cláudio, nem tudo tem de ser interpretado; pode sentir-se apenas empatia.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O dia amanheceu com nevoeiro...

 Alfred Sisley


NEVOEIRO
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
define com perfil e ser
este fulgor baço da terra
que é Portugal a entristecer –
brilho sem luz e sem arder,
como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
nem o que é mal nem o que é bem.

(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a Hora!

Fernando Pessoa, Mensagem

Cores da (desejada) chuva!

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A chuva não vem e daqui a nada é primavera!

 Júlio
GLÓRIA
Depois do Inverno, morte figurada,
A primavera, uma assunção de flores.
A vida
Renascida 
E celebrada
Num festival de pétalas e cores
                                                      Miguel Torga  


Olhos postos na terra, tu virás
no ritmo da própria primavera,
e como as flores e os animais
abrirás as mãos de quem te espera. 
                                                                         Eugénio de Andrade

FLORES
Era preciso agradecer às flores
Terem guardado em si,
Límpida e pura,
Aquela promessa antiga
Duma manhã futura.
                                                                       Sophia de Mello Breyner

Bem me quer...


domingo, 26 de fevereiro de 2012

No filme "O artista" ...

...com Jean Dujardin, o cão também merecia um Óscar.

Comentário:
Foi o que pensei quando vi o filme :) em No filme "O artista" ..
às 22:50

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Para a C. e para a D.


As duas adolescentes chegaram à hora prevista. Era manhã de sábado e tinham combinado com a professora ensaiar a leitura de um excerto de O tesouro, de Maria Clara Miguel, para lerem na apresentação do livro.Vinham nervosas, preocupadas em ler bem. E se se enganavam? A professora tranquilizou-as: liam muito bem. Tinham uma bonita presença. Iam gostar da experiência de lerem na Biblioteca Municipal.
De tarde, também à hora marcada, chegaram, segurando o texto dentro de umas capas da mesma cor. Uma das leitoras trazia uma trança, a outra, o cabelo bem liso.  Ambas, a  clara graça  de quem  olha o presente com vontade de futuro. Sentaram-se de novo a preparar melhor a  leitura do texto, antes da sessão começar.
A professora olhava-as com orgulho e carinho. Via nelas bons sinais de quem trabalha e se esforça para conseguir algo e de quem vai aprendendo a partilhar a beleza dos momentos que surgem e não se desperdiçam.
Antes da sessão, levantaram-se e saíram, dizendo que não demoravam nada. Chegaram com duas rosas: uma para a escritora, a outra para a professora. 
O que ia acontecendo era um tesouro, convocado pelo livro.

Comentário:
Duas lindas leitoras, que souberam estar à altura da situação: com boa leitura, com boa imagem e com um "savoir faire" social e afetivo que deixou toda a gente 'touchée', ao ofertarem flores a quem as merecia neste dia. em Para a C. e para a D.

às 22:58

Algumas palavras sobre um livro que (também) pode ser um tesouro


O Tesouro de Maria Clara Miguel
Em primeiro lugar, muito obrigada à Isaura Afonseca, Maria Clara Miguel, pelo convite que me fez para apresentar este seu segundo livro: O Tesouro, dedicado à sua irmã Fernanda. Pessoalmente, também estou grata à Editora Lugar da Palavra por ter publicado um livro que, para além do prazer que tive com a sua leitura, sei que muitos alunos o poderão partilhar, nomeadamente em Contratos de Leitura. Também quero referir a ilustração. Acho a capa muito bonita e muito motivadora para a leitura do livro. Reunidas estas qualidades, este livro é um tesouro que ajudará, por certo, a descobrir outros.
Um dia, falando com uma amiga comum sobre a vontade e capacidade de escrita, ela utilizou um termo que muitas vezes recordo: A Isaura arranja tempo para escrever e escreve com este fascínio porque tem a chave. Nessa altura, ainda não existia O Tesouro e ela referia-se sobretudo às Histórias para lermos juntos.
O tempo foi passando, e para além de poemas e de contos, a Isaura ia dizendo que estava a escrever um livro ao qual viria a dar o título O Tesouro. Tive o privilégio de acompanhar a escrita que ia dando vida a um grupo de personagens que seguiam muitas pistas que iam, secretamente, encontrando.
A palavra “tesouro” é sempre motivadora pelo mistério que sugere, pelo avivar do nosso imaginário, pela recordação de leituras que ficaram na nossa memória, de filmes, de brincadeiras de infância…
 O Tesouro de Maria Clara Miguel está envolvido num ambiente propício à sua procura. Existe uma velha casa que acompanhou várias gerações de uma família, um jardim, um sótão, baús que o tempo foi cobrindo de pó, cartas antigas, uma estante bem guardada e que é geradora de pistas e indícios, morcegos a voar numa real biblioteca…
 A este propósito, queria salientar o cuidado e minúcia da autora em procurar e encontrar pistas verosímeis mas inesperadas que conduzissem ao tesouro.
Durante este tempo de escrita, a Isaura, sempre com o seu entusiasmo e brilhozinho nos olhos, falava da avó Margarida, da velha Amélia, da Joana, do Pedro, do Afonso como seres que passaram a existir através das suas palavras e cuja vida ia construindo e partilhando. Queria que os vocábulos e os diálogos saíssem com verdade e naturalidade…
E por falar em palavras, é um livro muito bem escrito, embora de leitura muito acessível. A história e o modo como é contada prendem o leitor pelo ritmo e vivacidade. As personagens são igualmente motivadoras: poderíamos dizer que são pessoas que conhecemos ou que poderíamos conhecer: os mais novos gostam de se divertir, têm bom humor, vão fazendo descobertas amorosas, falam da escola, esforçam-se por conseguir chegar ao fim das suas buscas, embora às vezes, apeteça desistir, respeitam a família e são respeitados, guardam segredos, cumprem promessas, entusiasmam-se com as pequenas coisas da vida... Os mais velhos organizam a vida com carinho e alegria.
Ao longo da obra, no sentido de encontrar o tesouro, Maria Clara Miguel não dá todas as respostas porque sabe que quem está a ler é inteligente. E os leitores poderão ser de idades muito variadas. Tal como as personagens. O mais novo, Afonso, tem onze anos, a mais velha da casa, Amélia, tem 93. Todos são uma mais-valia na busca do tesouro. Eu diria que todos são uma mais-valia na busca do tesouro que é a própria Vida.
Le Clézio, o escritor francês que ganhou o prémio Nobel em 2008, escreveu um livro intitulado O caçador de tesouros. Essa personagem fez uma longa viagem para encontrar a riqueza escondida. Quando chegou ao local, depois de consultar livros e mapas, de atravessar rios e mares, chegou à conclusão que a principal riqueza estava dentro de si.
Com este livro, Maria Clara Miguel, com o seu talento e amor que põe em tudo o que faz, revelou também que há muitos tesouros, materiais ou não, perto de nós e que podem ser encontrados. Se se acreditar, como podemos ler nas primeiras páginas da narrativa.
Retomando as tais palavras da nossa amiga comum, a Isaura Afonseca, ou Maria Clara Miguel mostrou, mais uma vez, que tem a chave. Parabéns, muito obrigada e continuação de boas escritas.
Para todos, boas leituras. Muito obrigada



 Os comentários não deviam vir aqui, mas....

Dolores,
mais uma vez não consigo comentar na tua Mariana.
Por isso segue aqui o meu comentário.
Espero que gostes e não o censures! Eh eh eh...
Um beijinho grande e muito obrigada!
Za




Depois da releitura deste teu texto de apresentação que prendeu quem o ouviu, ontem, no auditório da Biblioteca Municipal de Gondomar, só posso concluir, mais uma vez, que os verdadeiros tesouros caminham connosco! Em casa. No trabalho. Nos cada vez menos momentos de encontro e de lazer...

Um muito obrigada pelo teu texto, pelo teu carinho, por teres seguido a escrita deste "O Tesouro", do qual és também uma espécie de autora, e, principalmente, um muito obrigada por acreditares...

um beijinho muito grande desta que gosta muito de ti

Isaura, também Maria Clara Miguel




Pois não sei, Clarinha, o que se passa com a publicação e leitura dos comentários. Ai como eu gostava de saber resolver estes problemas informáticos. Como não sei, ficam sempre para quando houver tempo e ele sempre a fugir. Mas também quando passa depressa é bom sinal! É porque há tesouros que vamos procurando e, felizmente, às vezes encontrando.
Za, obrigada pelas tuas palavras. Escolheste bem o título: O Tesouro. Também o és.
Um beijinho
Dolores e também Mariana

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Ansiando pelo verde da terra

Graça Morais

Para quando a chuva?

Caillebotte