sábado, 21 de novembro de 2020

Estrelas

 

Já pus uma estrela vermelha na porta

outra estrela dourada no corrimão.

Pela janela vejo camélias abertas

como se fossem também estrelas.

 

Está sol

mas é quase inverno

quase Natal

Natal quase deserto

deserto quase dos reis magos.

 

Farei as rabanadas do costume

mas não sei  se haverá aletria

porque  não a faço bem.

Este ano seremos menos

e menos mãos a ajudar.

Não haverá crianças de olhos  ansiosos

à espera dos presentes

junto da árvore

encimada por outra estrela.

 

Ando há muitos anos para ir à missa do galo.

Este ano teria disponibilidade

mas o melhor é não ir

por causa das restrições.

Na Igreja

costuma haver um presépio humano

com um menino que é o Menino

e que às vezes chora

- como choram todos os meninos -

nos braços da mãe que é a Mãe.

- Coitadinho! - pensam todos.

Mas este ano menos gente terá pena do menino

porque haverá menos gente na missa do galo

e se calhar nem haverá menino Menino Jesus.

 

Também não poderei contar

uma história à minha neta

 

- Era uma vez um Natal

diferente de muitos outros

um Natal deserto

sem carros a chegar às aldeias

sem famílias grandes

à volta de uma mesa grande...

 

E que dela pudesse ouvir:

- Mas um deserto com muitas estrelas, avó!





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