terça-feira, 1 de abril de 2014

Olha para o céu que a estrela está lá



“ Se as estrelas falassem”

Tudo aconteceu num dia chuvoso e frio, em novembro. As pessoas andavam irritadas por causa do tempo e as lojas pouco vendiam.
Eu e a minha única irmã, a Joana, de oito anos, decidimos ir fazer compras, apesar das condições meteorológicas. Sempre gostei de passear com ela. Era uma menina alegre, carinhosa e sonhadora. Partilhávamos tudo uma com a outra, mesmo sendo grande a nossa diferença de idades – onze anos. Ambas contávamos os nossos segredos e perspetivas da vida. Ela dizia muitas vezes que as estrelas lhe davam conselhos quando precisava. E eu exclamava: “ Mas elas nem sequer falam!”. Porém, ela afirmava que as escutava todos os dias à noite. E eu fazia que acreditava.
Como estava a chover, fomos de carro. No ano anterior, eu tinha tirado a carta e comprado imediatamente o automóvel com as minhas poupanças. A Joana dizia que ele era muito pequeno, apesar de confortável. Embora o para-brisas estivesse sempre a funcionar, a estrada mal se via com tanta chuva. Infelizmente, o pior aconteceu. O carro despistou-se e caiu numa ravina. A partir desse momento, tudo ficou negro.
Acordei no hospital, numa cama com lençóis rosa floridos. Sentia-me atordoada, mas nada de mais. O médico veio ter comigo e disse-me: “ Teve muita sorte em ter sobrevivido. Infelizmente, já não posso dizer o mesmo da sua irmã. Lamento imenso.”. Como era possível? A pessoa mais importante da minha vida morreu? E por minha culpa? Como é que não consegui controlar o carro?
Hoje, passados dois meses, estou sentada na cama da minha irmã Joana. Os cobertores ainda têm o cheiro dos seus cabelos encaracolados. Tudo naquele quarto me faz lembrar a sua vivacidade. Porém, ela já cá não está. As recordações de todos aqueles anos ainda se mantêm intactas na minha mente. Parece que ainda ouço o seu riso, a sua voz.
Olho para a mesinha de cabeceira e vejo o seu pequeno livro de notas azul. Este estava cheio de imagens de estrelas e, por baixo destas, um texto. Quando o li, percebi do que se tratava: era uma espécie de carta, na qual constavam aspetos da vida diária da minha irmã. E o remetente era uma estrela. Perante este facto, sorri. Lembrei-me do que ela costumava afirmar com absoluta convicção: “Eu falo com as estrelas e elas ajudam-me.”. Larguei o livro e pedi perdão à Joana. Por tudo. Por não ter acreditado nela e, principalmente, pelo acidente. “Desculpa. Eu adoro-te e espero que me estejas a ouvir. Se me perdoares, envia-me um sinal para eu poder tirar este peso que tenho na consciência.” – murmuro eu. Nada. Não acontece nada. Assim, decido ir para a janela apanhar um pouco de ar. Sou mesmo culpada de tudo e não tenho perdão. Olho para o céu. Está estrelado. Uma estrela brilha imenso, como se estivesse a chamar por mim. É um sinal. Pego no bloco de notas azul e começo a escrever, como se não houvesse amanhã. A estrelinha tremeluz e eu continuo a escrever, como se estivesse a falar para a minha irmã. E estou. Agora sim, consigo falar com as estrelas.

Helena Isabel Oliveira Gomes, 10º ano


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