Era uma vez uma
menina que gostava de desenhar, de pintar, de observar a natureza, reparando
nas diferentes cores que embrulham cada lugar, alegrando a memória à sua
passagem.
Todas as
semanas, reservava um bocadinho de tempo para desenhar e pintar com outras
pessoas amigas que também gostavam de produzir pequenos objetos de arte. E era
uma ou duas horas em que o tempo passava vivo e risonho.
O grupo sentava-se
à volta de uma mesa, estendia os tubos da tinta, punha água num pequeno
recipiente, deixava cair pequenas quantidades de tinta noutro (sempre
recipientes reutilizados) e começava a dar cor a pequenas folhas de papel ou a
carinhosas telas.
E pintava-se o
céu, o rio, árvores, casas, flores… E as meninas, que já não eram nada meninas,
sorriam como se fossem de facto meninas, ao verem as manchas que no papel se
formavam.
No final,
punham à janela a pintura produzida para que o sol a secasse e ajudasse a fixar
as cores e as formas.
Às vezes, não
eram pinturas que saíam das mãos das meninas (de vez em quando, havia também um
menino, para além de estridentes meninos, esses na idade de serem meninos que
gostavam muito de frequentar o mesmo ateliê de artes, antes da aula de educação
visual).
Das mãos das
meninas, sobretudo de uma das meninas também saíam, por exemplo, pássaros de pasta de papel que, quando formados
de muitos bocadinhos, eram pintados e só lhes faltava cantar e voar!
A professora, a
nossa professora de artes, como alegremente lhe chamavam quando se encontravam,
ia apoiando e fazendo também. E, por vezes, as meninas, que já não eram meninas, diziam: oh, não
gosto do meu desenho, tem demasiada cor, não tem as formas que eu queria…
Então, a
professora de artes, que se ria sempre quando era chamada assim, pegava no
pincel e com toda a naturalidade, ajudava a criar as formas desejadas.
Um dia, uma das
meninas fez um trabalho, enquanto as tintas iam abrindo diferentes caminhos.
Na semana
seguinte, já com a tinta bem firme, a menina olhava o desenho e dizia sorrindo:
olha, até ficou bonito. E uma outra menina acrescentou: Está lindo. A primeira menina
disse então: ofereço-to, é teu.
E a menina, que
era a menos menina do grupo, recebeu, contente, o presente, olhou-o e pensou: vou escrever uma
história a partir do desenho.
Quando há
bocadinho abriu o computador para a escrever, com o desenho ao lado, apenas lhe
vieram estas palavras. Não é uma história, nem por sombras, mas os momentos
simples e bonitos não contam também bonitas histórias?
Um belo e delicioso texto!
ResponderEliminarPois só assim é que nos tornamos crianças de novo, meninas prontas a olhar as cores e a perpetuar em pequenas pinturas os ensaios que brotam da imaginação sempre fértil e pueril. E com a mão sempre firme da professora de artes ficamos orgulhosas e admiradas com os belos trabalhos que vamos produzindo.
CS
Pena que seja por tão pouco tempo... porque as meninas que já não são meninas têm outras tarefas para cumprir.
Também bonito é o teu comentário. Obrigada.
ResponderEliminarContinuemos, então, a produzir (com) arte naquele bocadinho semanal!
Beijinho
M.