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A ele não valia a pena perguntarem-lhe o que queria
ser quando fosse grande. A resposta, quisesse ele ou não quisesse, só podia ser
uma:
— Rei.
Tinha de ser. Pois se ele era príncipe, filho único de
um senhor rei, que outra coisa, profissão ou destino podia caber nos seus
projetos de futuro?
Pensando nisto, o príncipe, que não tinha vontade
nenhuma de ocupar o trono dos seus antepassados, entristecia.
Uma vez, ouvira o jardineiro dos jardins reais
queixar-se:
— O meu filho, que eu gostava tanto que fosse
jardineiro como eu, diz que não tem vocação para a jardinagem.
Se ele dissesse o mesmo (isto é, o equivalente!), o
que é que aconteceria? Encheu--se de coragem e disse. O rei, que era um homem
compreensivo, respondeu-lhe:
— Meu filho, eu, quando tinha a tua idade, queria ser
arquiteto, mas o teu avô deixou-me esta obrigação, o que havia eu de fazer?
Por sinal que era um rei muito dado a construções. Se
queriam vê-lo feliz, mostrassem-lhe projetos de obras públicas, hospitais,
escolas, novas cidades. O rei ficava encantado, dava opiniões, discutia com os
arquitetos e os engenheiros como se fosse um deles.
— Se não tivesses de ser rei, o que é que gostarias de
ser, quando fosses crescido? — perguntou o rei ao príncipe.
— Gostava de ser veterinário — respondeu o príncipe.
— Não vai ser fácil. Um rei veterinário
não é muito comum. Há casos de reis--soldados, de reis-marinheiros, de
reis-músicos, mas de reis-veterinários não tenho ideia. No entanto, vou pensar
no assunto.
Era um bom pai e um bom rei. Em segredo, começou a
projetar um grande jardim zoológico. Desenhou tudo muito bem desenhado, como se
fosse um arquiteto. Quando tinha a obra toda projetada, estendeu os rolos dos
projetos diante dos olhos do filho e disse-lhe:
— Ficam ao teu cuidado, para que tu construas o
jardim, quando fores rei.
— Mas o pai podia mandar construir agora — disse o
príncipe.
— Quero que fique à tua responsabilidade. Quando eu
morrer, deixo-te o reino e estes projetos, para que te ocupes deles.
Assim sucedeu. O príncipe tornou-se rei. Não tinha
alternativa. Uma vez coroado, dedicou-se com entusiasmo aos trabalhos de
governação. Mas com mais entusiasmo se dedicou a levantar o jardim zoológico,
que, uma vez pronto, maravilhou o mundo.
Ao jardim deu o nome do senhor rei seu pai, que tinha
querido ser arquiteto.
António Torrado
www.historiadodia.pt
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