quarta-feira, 27 de março de 2013

Esta mulher existe e outras assim existirão

Há um ano que cultiva uma horta. Assim, não precisa de comprar as hortaliças para casa. Também sente que lhe faz bem, porque nem pensa na doença que a impediu de continuar a trabalhar fora, o que tanta falta lhe fez.
Trabalhar a terra alivia-lhe a mente e sempre gostou de colher o que ela própria tinha semeado. Como a chuva foi abundante durante o inverno, não deu vazão às ervas daninhas que cresciam, cresciam... Sabe, contudo, que sempre vem um dia com boas abertas ou até com sol. Aprendeu a não desesperar.
As favas já estão crescidas, o cebolo lá se vai desenvolvendo, as alfaces têm mais folhas, as batatas fazem-se notar....
Ah! E também trata das flores que vende. Os narcisos pintam a terra de amarelo, as tulipas mostram com quantas cores se reinventa a primavera...
Já tem clientes certas. Algumas vizinhas e também algumas amigas. A venda dos trabalhos de artesanato, das compotas, das flores e das hortaliças ajudam a pagar as contas da casa e as viagens diárias do filho que anda na Universidade do Minho. O dinheiro não chega para que ele viva fora de casa.
O marido emigrou porque aqui não via jeito de arranjar trabalho e a vida nunca mais se compunha. E mostrou, sorrindo, a colcha à amiga. Não achas que as cores são bonitas?  Parece que dão vida e eu gosto das casas com vida. Aproveitei bocadinhos de pano, alguns já usados e gosto do efeito.
- Gostei muito da tua visita, disse ela na despedida. Toma estas bolachinhas. Duram um par de semanas.  Fui eu que as fiz. Sabem sempre bem quando os amigos vêm a nossa casa.


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