quarta-feira, 20 de março de 2013

Diário de Mariana





 20 março 2013
Querido diário,


Há quanto tempo não olhava para ti! Desculpa, porque sei que és fiel e posso contar contigo. Nunca desapareces no momento em que preciso. Penso em ti, mas o que é certo é que te vou deixando sozinho dias a fio. Eu acho que com as pessoas também se passa assim. A gente pensa nelas mas não diz nada. E isto passa-se mais com os adultos. Eles até podiam telefonar porque não têm ninguém sempre a dizer: “olha que não te ponho mais dinheiro no telemóvel”, como acontece com a maior parte de nós.

Entrei de férias mas ainda não sei as minhas notas. Gostava de ser melhor aluna, mas não passo de uma aluna média. Estou sempre a ouvir; “podias ser melhor se estudasses mais”. Eu não tenho a certeza porque eu até estudo, mas eu acho que tenho outro problema. Ou melhor,  vários até. Muitas vezes não me fixo numa coisa. Estudo, mas também gosto de fazer outras coisas. Gosto de ler, de (te) escrever, de ir ao cinema ao domingo, de falar com a minha mãe e as minhas irmãs, de estar com os meus primos e os meus amigos, de ir a casa dos meus avós e das minhas tias… e, claro, de estar com o Gi. Oh, mas a vida também é isto, ora essa! 
Uma vez, a minha mãe cismou que eu estava a jogar computador e tinha minimizado quando ela entrou no meu quarto. Eu então disse: "é mesmo isso, até parece que eu minto". A minha mãe disse-me logo com o dedo em riste (aprendi esta palavra na semana passada): "vê lá como falas, Mariana!" A minha mãe devia era ouvir como muitos alunos falam na escola com as mães! 

O meu horário na escola até é fixe mas precisava de mais tempo ou de me organizar melhor. Ser como as minhas irmãs, mas não consigo. Pronto e depois? Sou diferente, mas também não sou rasca. Eu não mostro este diário às minhas irmãs, senão elas diziam logo: “és tão querida!”, mas a seguir vinha logo: “mas organiza melhor o teu tempo de estudo, Mariana!”. Brrrrrrrrrrr, que nervos!

Eu sou um bocado refilona, mas até oiço o que me dizem e como hoje começa a primavera, vou tentar, mas pelo menos hoje e amanhã não me apetece ainda pegar na mochila. Depois, vais ver, vou mesmo cumprir e não me chame eu Mariana.

Neste momento, apetece-me falar do Gi. Eu gosto dele, mas às vezes irrita-me e tenho de me chatear. Agora deu-lhe para pegar com uma setora que nunca escreve no quadro. Ela passa-se, a turma ri-se e ele não para. Por que é que quase todos os rapazes desta idade parecem crianças parvas? E fui logo gostar dele! Outro dia, disse-lhe que se continuasse assim, nunca mais o queria ver à minha frente. Ele, primeiro, até brincou com a situação, porque disse que na aula estamos ao lado um do outro e para isso teria de pedir para mudar de lugar. Eu continuei séria e no intervalo, ele prometeu-me que ia ter mais juízo e até chorou. Por acaso, também não morro de amores pela setora, mas custa-me vê-la assim desamparada. Pronto, sempre fui habituada a não fazer aos outros aquilo que não gostava que me fizessem a mim. Mas também acho uma coisa, às vezes os dêtês fazem de conta que não se passa nada porque não querem perder mais tempo e assim ficam de bem com todos. Coitados, se calhar também não têm quem os defenda!

Não sei, mas acho que há coisas que podiam ser diferentes. Por exemplo, outro dia vi um vigilante à porta a cuspir para o chão. Meteu-me nojo, mas fiquei chateada comigo própria porque não fui capaz de dizer nada. Ele assim continua com aquela porcaria, porque, se calhar, nunca ninguém lhe disse nada. Nestes casos, penso logo que também tenho muitos defeitos, mas cuspir para o chão acho que nunca cuspi.

Também acho que ando um bocado cansada. Estou sempre a ouvir: Mariana, faz isto; Mariana, faz aquilo; meninos, tomem nota; meninos, não se esqueçam



Hoje e amanhã, não pego mesmo na mochila.  Vou mas é olhar a primavera (gostei desta frase que me saiu!).

Muitos abracinhos, querido diário!

Mariana




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