Há muitos anos, conheci uma
senhora que muito fazia para merecer as boas graças dos outros. Sobretudo das
pessoas da terra. Dizia que quando morresse, queria ver muita gente no seu funeral.
Por isso, estava sempre presente no enterro dos familiares, das pessoas amigas,
conhecidas, e chegava à conclusão se a pessoa falecida merecia ou não ter ali
muitos seres para lhe acenarem uma última vez. Se estivesse muita gente, era
uma pessoa querida, se houvesse pouca, seria sinal de que só uma minoria lhe
queria bem.
Passou-se o tempo e também a
vida. E esta consigo sempre traz a morte. Nem que demore muito tempo a viagem.
A dita senhora faleceu e teve, de facto, muita gente a assistir ao funeral. Lá,
no lugar onde estivesse, devia sentir o júbilo de quase ninguém ter ficado em
casa.
Mas uma coisa é certa, em surdina,
muitos diziam que estavam ali porque ela tinha estado no funeral do pai, da
mãe, do primo, do tio, do vizinho… e funeral com funeral se paga.
Isto aconteceu há muitos anos,
como eu disse no início. Há menos anos, morreu uma outra senhora. No funeral,
havia poucas pessoas. Não se ouviam cochichos. Na cerimónia fúnebre, foi lida
uma pequena carta, onde se elogiavam as qualidades que ninguém pôs em causa nem duvidou da verdade dos factos e das palavras. Poder-se-iam até acrescentar
outros méritos. Terminadas as cerimónias, as pessoas regressaram a casa quase
em pensativo silêncio. No dia seguinte, falava-se mais da vida do que da morte.
Não que se pensasse que falar da morte fosse mórbido, mas eram evidentes as
vantagens em relembrar a Vida que aquela mulher tinha semeado na Terra.
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