terça-feira, 16 de março de 2021

Notícia do meu dia: fui ao cabeleireiro!

 

Ainda estava a ouvir a última comunicação do primeiro ministro sobre as datas do desconfinamento, ou melhor, reabertura, e já mandava uma mensagem à minha cabeleireira para marcação.

Passados uns minutos, tinha o dia e hora marcados e ontem lá fui eu. Tive ainda de esperar uma meia hora fora do salão. Já lá dentro, o telefone não parava de tocar. Na lavagem do cabelo, fechei os olhos porque aqueles momentos para mim são apaziguadores ou até redentores. A menos que a água me caia na cabeça demasiado fria ou demasiado quente. 

Soube-me pela vida. Há dois meses que não sentia o mesmo prazer de estar sentada e sentir que o meu cabelo estava a ficar bem lavado e que ainda por cima ficaria um bocadinho mais bonito, porque não tenho muita paciência para o secar bem. Entrego, quase sempre, essa tarefa ao ar que se respira e que, neste caso, também seca.

Pelo que vi e ouvi, eu fui uma das imensas pessoas que foram ontem ao cabeleireiro ou ao barbeiro. O dia deve ter ficado marcado pela melhoria de visual de milhares e milhares de portugueses e portuguesas (para ser mais atual!). Aos contentores do lixo devem ter chegado sacos e mais sacos de cabelo que a vassoura varreu do chão há muito seco e careca. 

Acho que me vi ao espelho, ao lavar as mãos quando cheguei a casa. Logo depois, vi que a minha filha que não vive cá me tinha mandado fotos. Não sei se era porque me sentia  um pouco mais apresentável, olhando as imagens floridas (ela sabe que eu gosto), o mundo e a vida pareceram-me mais bonitos.


segunda-feira, 15 de março de 2021

Por falar em deixar tudo para trás

 

Já ouvi Carlos Moedas a dizer várias vezes que 'deixou tudo' para se candidatar à Câmara Municipal de Lisboa. Não entendo esse abandono. O que fez está feito e ninguém lho tira. O que estava a fazer e já não faz, porque é candidato à autarquia, é mudança de vida assumida de livre vontade. 

Se ele optasse por um trabalho tipo não remunerado, se se despojasse de tudo para aderir a uma causa, por exemplo de ajuda social, etc. compreenderia que deixasse tudo para trás, o que não é o caso, acho eu.

Pelo que se sabe, uma presidência de Câmara, para mais das mais importantes do país, implica dedicação, trabalho árduo sem horários, mas um serviço público deste teor será sempre assim. Porém, quem o desempenha tem bom salário, regalias, janelas abertas...

Não gosto nada de ver os políticos no papel de vítimas. Eles (nem todos, é claro) são muito úteis à sociedade, mas isto de dizerem que deixam a sua vida para trás, quando se candidatam a um cargo público, é apenas um chamariz de votos. E a vitimização muitas vezes colhe.

Por falar em deixar ou abandonar, embora não tenha nada a ver, gosto muito desta canção de Jacques Brel: 'Ne me quitte pas'. Neste momento, penso que o melhor é deixar o resto para trás.

sábado, 13 de março de 2021

Bem-vinda, quase primavera!

 

'Era preciso agradecer às flores
Terem guardado em si,
Límpida e pura,
Aquela promessa antiga
Duma manhã futura'.

Sophia de Mello Breyner

 






sexta-feira, 12 de março de 2021

Um frasco de Bien-Être

 

Quando eu era menina e moça, de longos cabelos muito negros, vi numa revista (julgo que foi na Flama) um concurso de textos. Já não me lembro qual era o tema, mas aderi logo e tenho bem presente o assunto que abordei no pequeno texto que escrevi e enviei. Em jeito de manifesto, discordava do facto de as raparigas não irem estudar porque se considerava que o destino das mulheres era a vida doméstica e esta dispensava estudos. 

Ainda não existia o ensino obrigatório para todos, como, felizmente, viria a acontecer embora muito mais tarde.

Na altura, o meu texto foi selecionado e, como prémio, recebi em casa um frasco de Bien-Être. Senti-me orgulhosa. Até poderia ser reconhecida na rua (nem que fosse só na minha)  pelo cheirinho da água de colónia Bien-Être! Nem sei se ainda continua à venda.

E depois, quando me li na revista, fiquei ainda mais feliz por ser a autora do texto que tinha partilhado sobre aquele assunto que era e  continua a ser muito importante para mim.  Li-o e reli-o. Foi quando reparei no uso do verbo ter. Em vez de 'têm', eu tinha escrito e enviado 'tenhem'. Estava, obviamente, corrigido. 

 

quinta-feira, 11 de março de 2021

Melhor era impossível

 

Está uma belíssima publicação no blogue 'Palavras daqui e dali' com um diálogo fantástico entre uma senhora de 101 anos e várias crianças. Intervindo na sua vez, cada menino ou menina ia pondo questões sobre a vida e até sobre a morte e a tudo a senhora respondia com amor, verdade, delicadeza e sem os infantilizar, sem se queixar, sem se rir das perguntas...

De facto, apesar da idade tão avançada, a senhora parecia ouvir bem e ter as ideias tão arrumadas como arejadas, numa bonita celebração da vida. A senhora do vídeo, se calhar com uma dose de imaginação de minha parte, fez-me lembrar a outra avó da minha neta. Apesar da diferença de idades, encontrei algumas semelhanças no tom de voz, no teor dos diálogos, sendo também comum a língua inglesa.

Há uns tempos, a minha neta pôs-me umas questões para um trabalho de escola: se quando eu era pequena tinha frigorífico em casa e se já havia supermercados.

Ora, a minha resposta foi que não às duas perguntas e expliquei-lhe, de forma breve, como conservávamos os alimentos, assim como lhe falei da primeira vez que tinha visto um supermercado.

No mesmo dia e às mesmas questões, a outra avó, americana e um ou dois anos mais velha do que eu, respondeu que sempre tinha tido frigorífico e sempre vira supermercados onde morava.

Perante estas respostas tão diversas, a minha neta, que tem cinco anos, ficou muito admirada e logo perguntou à mãe se eu era mais velha do que a outra avó, já que não tinha tido coisas a que ela sempre teve acesso.

Sendo sempre diferentes as realidades de cada país e da vida de cada um, não me importava nada de, um dia mais tarde, ter um bocadinho do saber e da lucidez daquela senhora de 101 anos. Até nem era preciso chegar aos três dígitos!

 

 

quarta-feira, 10 de março de 2021

O avental

 

Às vezes, mandavam-lhe vídeos ou histórias que a faziam sorrir ou até mesmo rir às gargalhadas. Outras mensagens eram mais ou menos neutras. A última era sobre o avental e as suas utilidades: proteger a roupa, segurar nas panelas, limpar as mãos ou as carinhas dos filhos, etc.

Como estava nas arrumações, abriu a gaveta onde tinha alguns aventais, dois deles já vinham do tempo anterior ao casamento. Eram coloridos e tinham sido feitos por uma costureira muito habilidosa que morava perto. Um deles tinha uma nódoa que nunca conseguira tirar, noutro viam-se  sinais de ter sido utilizado para pegar em qualquer coisa que esquentava. Mesmo assim, usava-os porque gostava do feitio e das cores. Tinha tido ainda um terceiro avental dessa época, mas um dia, que não foi nada belo dia, deitara-o no contentor da roupa. Usava-o quando houve a maior discussão entre eles.  Logo a seguir, tirou-o e não conseguiu vesti-lo mais, por isso se quis desfazer dele o mais depressa possível. Foi um modo que arranjou de tentar apagar o momento da memória. No entanto, nunca tinha perdido o hábito de usar avental em trabalhos domésticos. E, neste dia, ao lembrar-se desse dia, o avental teve mais uma função: limpar umas lágrimas que não pôde conter.

 

terça-feira, 9 de março de 2021

Um homem à janela

 

Quando eu era pequena, havia várias mulheres que, durante o dia, se punham à janela. Apoiavam os braços no parapeito e repetiam, longamente, os olhares para a direita, para a esquerda, para a direita, para a esquerda... e assim iam sabendo o que se passava na rua, quem passava na rua, como passavam na rua, com quem passavam na rua. Recordo-me que a minha mãe e as minhas tias criticavam muito esse hábito e, como estavam sempre ocupadas nas tarefas da casa, nos lavores ou na costura, diziam estranhar essa prática. Eu achava graça, embora achasse incómodo aquela revisão constante do bocado da rua através dos olhos das mulheres à janela. Mais tarde, viria a novela Gabriela Cravo e Canela, e havia uma personagem - julgo que se chamava Glorinha - que se punha fogosamente à janela em busca de fantasia que não encontrava dentro de casa. Talvez essas mulheres da minha aldeia procurassem, ao seu modo, um pouco de fantasia que, fechada a janela, também se fechava para elas.

Ora, para já, isto não está a condizer com o título: 'Um homem à janela'. Pois não. Ele mora num primeiro andar. Passo lá com alguma frequência e também com frequência o vejo à janela. Responde a quem lhe diz bom dia ou boa tarde, mas alguns vizinhos fazem de conta que não o veem. Talvez por ser novo ou por preconceito, como, se calhar, é o meu, embora não goste de ter preconceitos. Daqui a pouco, tenho de lá passar outra vez. Impossível não olhar para a janela.  Se lá estiver, vou dizer-lhe bom dia.

 

segunda-feira, 8 de março de 2021

Celebrar também é lembrar



Emília Nadal
'Pequena cantiga à mulher
 
Onde uma tem
O cetim
A outra tem a rudeza
Onde uma tem
A cantiga
A outra tem a firmeza
Tomba o cabelo
Nos ombros
O suor pela
Barriga
Onde uma tem
A riqueza
A outra tem
A fadiga
Tapa a nudez
Com as mãos
Helena Almeida
Procura o pão
Na gaveta
Onde uma tem
O vestígio
Tem a outra
A pele seca
Enquanto desliza
O fato
Pega a outra na
Enxada
Enquanto dorme
Na cama
A outra arranja-lhe
A casa'
Maria Teresa Horta

'O mar dos meus olhos 

Há mulheres que trazem o mar nos olhos
Não pela cor
Mas pela vastidão da alma

E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos
Ficam para além do tempo
Como se a maré nunca as levasse
Da praia onde foram felizes

Há mulheres que trazem o mar nos olhos
pela grandeza da imensidão da alma
pelo infinito modo como abarcam as coisas e os homens...
Há mulheres que são maré em noites de tardes...
e calma'


Sophia de Mello Breyner Andresen

 
'Espaços de Permeio
 
Sonho-te à pressa 
entre coisas a despropósito: 
certos filmes a preto e branco, 
fazer a cama de manhã, 
um livro, 
aquela pausa enquanto o leite ferve
e o olhar se perde, atento. 
Só invadires-me o espaço entre o meu espaço 
à pressa me traz frágil: 
nunca sei se aconteces porque sim,
nem quando me aconteces. 
Um sonho inoportuno entre o meu dia 
E tantas coisas.'
 
Ana Luísa Amaral 
 
 

 Nina Simone - nasceu em 1933 na Carolina do Norte, Estados Unidos da América.
Faleceu em 2003, em França.

 

domingo, 7 de março de 2021

Bom seria que todos pudessem sonhar!

sexta-feira, 5 de março de 2021

Quinquagésimo dia

 

 Diário com vontade de deixar de contar os dias,

 mas com vontade de viver todos os dias.

 

E tanta coisa aconteceu de há cinquenta dias até agora:

 - Os números de óbitos (há quem prefira dizer 'fatalidades') e infetados covid-19 diminuíram em um ou dois dígitos, o que é bastante bom, embora não seja o ideal.

- As magnólias estavam em botão, neste momento já floriram e as folhas vão substituindo as flores.

- Trump estava no poder e já não está, embora queira voltar e tente segurar tentáculos à sua volta.

- As escolas fecharam, mas estará para breve a reabertura. As crianças e os jovens estão ansiosos e os pais também.

- Marcelo terminava o seu mandato e outro está a iniciar.

- Do avião português e a jato, com meia tonelada de droga apreendida no Brasil, ainda não se falava, agora fala-se muito, ainda que se saiba pouco.

- As árvores de fruto estão floridas e há cinquenta dias eram estacas secas ou despidas.

- Rui Rio talvez já tivesse Moedas na cartola, que tirou nos últimos dias.

- A chuva e frio do inverno abundavam e agora a primavera está à porta.

- O campeonato estava ao rubro por causa do leão que não deixou de rugir e de reinar sozinho ao longo deste tempo.

- As lojas fechavam e muitos gritam agora pela sua reabertura porque abrem os bolsos e encontram-nos vazios.

- O turismo ficou pela hora da morte e agora os ingleses anunciam nova vida, sobretudo para o Algarve.

- O papa Francisco não saiu em tempo de pandemia; neste momento, está em visita ao Iraque, país nunca pisado por outros papas.

- As vacinas anti covid-19 eram promessa e ainda causavam receio; agora já vários milhares de pessoas a tomaram, muitos mais a querem e desejam, mas as reservas sabem a pouco.

- ...

E tanta coisa deixou de acontecer no mesmo espaço de tempo.

 

Vou deixar de contar de contar os dias, 

mas gostava de continuar a contar momentos dos meus dias. 

Obrigada.


quinta-feira, 4 de março de 2021

Quadragésimo nono dia

 

Diário com vontade de melhores dias

Sou um ser perfeitamente comum, acho eu, mas há uma coisa em que não devo ser comum: tenho medo de fazer exames médicos. Ou melhor, não me custa fazê-los, custa-me é saber os resultados desses exames. Penso sempre que me vão descobrir doenças. Talvez isto tenha a ver com traços de hereditariedade, ou com uma situação que vivi há muito, muito tempo. Eu tinha uns dezoito anos e coube-me a mim ir ao hospital saber o resultado de um exame do meu pai que, na altura, nem cinquenta anos tinha. Pois, o veredicto foi este: o seu pai tem um tumor maligno no intestino, tem de ser operado e, dada a gravidade, o sucesso não é garantido e que continue a viver também não.

Eu era ainda uma miúda, fiquei sem palavras e, quando cheguei a casa, nem sabia que palavras dizer. No entanto, tudo correu tudo bem e o meu pai ainda viveu mais uns cinquenta anos. Felizmente. O momento é que me ficou gravado.

Desde que me lembro, faço os exames médicos que são necessários, mas depois demoro imenso tempo a ir levantar os resultados, se não puderem vir por mail. Será isto comum? Se calhar, é ou então, sendo eu um ser comum, também aqui há seres mais comuns do que outros.


 Bom fim de tarde para todos - os que têm medo de fazer exames e os que não têm!

quarta-feira, 3 de março de 2021

Quadragésimo oitavo dia


 Diário confiando em melhores dias



Hoje fui muito feliz à volta de quatro livros de Luís Sepúlveda, de que já falei num dos posts anteriores. Colaborei  na fase concelhia, em Gondomar, do Concurso Nacional de Leitura e vi crianças e jovens, do 1º ciclo ao secundário, com o livro aberto, a ler excertos, a argumentar sobre um aspeto da história, o que é maravilhoso, mesmo online. De forma voluntária, todos eles mostravam interesse, empenhamento e amor pelos livros. E a cumplicidade dos professores com os alunos também é fantástica. De facto, quando as redes de bibliotecas escolares e as autarquias trabalham para o bem comum,  esta interação acontece. E saber do desempenho ativo de tantas crianças e jovens, em relação ao saber e à leitura, em muitas regiões do país, leva mesmo a acreditar em melhores dias. Por isso, para mim, foi mesmo um dia feliz.

 

terça-feira, 2 de março de 2021

Quadragésimo sétimo dia

 

Diário à espera de melhores dias


Nota 1. Os novelos que tinha em casa tinham chegado ao fim. Talvez a minha mãe tivesse alguns restinhos nas sacas intermináveis onde guarda tudo que, um dia, pode dar jeito. Logo que pude, comecei a desatar os nós das sacas, procurei, procurei mas só 

via lãs e fazer malha nunca foi o meu forte. Precisava era de novelos de linha, para fazer crochet ao sabor da vontade, do tempo disponível e da imaginação. Perante aquele emaranhado de restinhos de lã, fitas, elásticos e tecidos, perdi a paciência e desisti, para mais uns sacos de papel já estavam quase a rasgar. Pronto, o melhor era ir ao supermercado. Fui ao Continente, porque há uns tempos tinha visto novelos na prateleira das agulhas, alfinetes, carrinhos de linhas... Quando entrei, dirigi-me logo lá. As linhas eram a minha prioridade. Oh, não havia novelos, o que foi confirmado por uma funcionária sempre em andamento. Regressei então a casa com pão, yogurtes, mas sem as desejadas linhas para continuar o trabalho de mãos já começado. Sim, os novelos, uns simples novelos, faziam-me falta. E foi quando me lembrei da senhora que faz bordados, rendas e também vende linhas. E se lhe ligasse? E se lhe pedisse que me vendesse as linhas? O pior era se alguém via e fazia queixa dela. Coitada, ainda era multada por minha causa. Não, o melhor era não ligar e esquecer as linhas, mas que me faziam falta lá isso faziam. Não imaginava era ouvir da minha mãe no dia seguinte:  Olha os novelos de linha que estavam caídos junto às sacas!


Nota 2. Gosto imenso de retrosarias. Com novelos e linhas de todas as cores, botões de todas as formas e feitios, fitas, galões... Na rua das Flores, no Porto, há uma retrosaria e, sempre que lá passava - falo no passado porque há um ano que não passo lá - paro sempre para ver a harmonia da montra e da loja, com muitas coisas, se calhar inúteis e desnecessárias, mas que regalam os olhos. Ah, e há também tecidos de todos os desenhos e espessuras para trabalhos de patchwork. É um lugar que quero revisitar quando houver desconfinamento. E se a manhã ou a tarde estiver fria, há um pouco mais acima um pequeno espaço  com esplanada onde o chocolate quente é de regalar a alma.


Nota 3. 'O piano', de Jane Campion, é um filme de que gosto imenso. A história, as  paisagens, a música tornam aquele trabalho encantatório. Recordo-me da casa da protagonista, situada, julgo, na Nova Zelândia, onde não faltam linhas de múltiplas cores, como num quarto de costura da minha infância. Claro que no filme há outros fios violentos, mas, felizmente, vence a coragem, o entendimento e o amor que vão tecer uma nova vida.


Nota 4. E partilho um excerto da música e do filme.

segunda-feira, 1 de março de 2021

Quadragésimo sexto dia

 

Diário à espera de melhores dias

 

Nota 1. Eu estava no computador e com a televisão ligada, mas sem som. Olhei de repente e vi esta legenda:

'Quando fecho um livro, não sou a pessoa que era quando o abri'. 

Quem diz isto? - logo quis saber. A imagem era de um jovem - jogador de futebol do Rio Ave. Isto é verdade? - interroguei-me, porque faço parte do grupo que, apesar de gostar de futebol (ou melhor, gosto que o meu clube ganhe), ainda tem o preconceito - errado como qualquer preconceito - de que os jogadores de futebol não leem, dizem 'póssamos' em vez de possamos, 'houveram' em vez de houve...

Mas como o que parece nem sempre é, o melhor é ver para crer:

 

Nota 2. Mais palavras para quê depois destas palavras? A casa onde Francisco Geraldes fala é a Casa Museu de José Régio (poeta, escritor, professor, colecionador), 1901/1969, em Vila do Conde. Vale a pena visitar e depois dar um passeio no largo passeio, que vai até à Póvoa de Varzim, junto ao mar - quando se puder, é claro. Ah, também há esplanadas muito agradáveis.


Nota 3. Às vezes, critico-me a minha própria por não desligar a televisão. Desta vez, valeu a pena mantê-la ligada. O Geraldes merece mesmo os parabéns! E também quem o convidou para dar o seu testemunho de bom leitor. Assim, os dias até parecem melhores dias!

 

domingo, 28 de fevereiro de 2021

Quadragésimo quinto dia

 

 Diário à espera de melhores dias


Olhemos também a (quase) primavera que vai florindo!


Obrigada, L., pelas bonitas fotos londrinas


BOM DOMINGO!




sábado, 27 de fevereiro de 2021

Quadragésimo quarto dia

 

Diário à espera de melhores dias

 

Nota 1. Nos últimos dias, por dever de (um pequeno) ofício, li quatro livros de Luís Sepúlveda (também não são grandes), cujas capas juntei aqui ao lado, em 'Leituras recentes'. Os dois primeiros enquadram-se na literatura infanto-juvenil e gostei muito do modo como as histórias são contadas e pelas ideias positivas que se vão encadeando, como nesta obra onde há amizade, respeito pelas diferenças, entreajuda,  curiosidade,  amor pela vida, etc.

No livro seguinte,
apreciei a ideia de valorizar o ritmo lento inerente a muitos seres para chegarem aonde querem ou precisam. Interrogo-me, porém, se alguns destes temas, que apelam à calma e paciência, no mundo frenético em que vivemos, cativam crianças e jovens, mas é importante lembrar estas necessidades porque sempre vai germinando alguma coisa. A forma de contar e as ilustrações também são muito motivadoras.


Nota 2. Já tinha lido há bastante tempo O Velho que lia romances de amor. 

Relendo-o, ainda gostei mais. Às vezes, sentia-me no meio de personagens na floresta amazónica que conheciam como a si próprios, ou receando os perigos iminentes da onça que podia, matreiramente, estar à espreita. Ou então a ouvir, encantada, a leitura do velho para quem as histórias de amor eram uma paixão.  

Nota 3. Nome de toureiro

francamente, não me 'agarrou', de certeza por falta de concentração da minha parte. A intriga é complexa. Trata-se de um roubo de moedas muito valiosas, durante o tempo do Nazismo. Passados muitos anos, após a queda do muro de Berlim, dois homens diretamente implicados no roubo tentam, separadamente, recuperar o tesouro. 

Mesmo assim, apesar de não ter aderido por completo à história, li o livro todo. Não é muito extenso e tenho tentado não deixar os livros a meio. E às vezes somos surpreendidos por páginas ou passagens que nos 'chamam' e nos concentram.


Nota 4. Luís Sepúlveda está a ser homenageado nas Correntes d'Escritas 2021, na Póvoa de Varzim, onde esteve presente no ano anterior. O escritor nasceu em outubro de 1949, no Chile, e faleceu em Espanha, em abril de 2020. Homenagem bem merecida.



sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Quadragésimo terceiro dia

 

Diário à espera de melhores dias



 

 

Nota 1. Árvores floridas anunciando a primavera que germina e os frutos de verão que se desejam.

 
Nota 2. Fragilidade resistente às intempéries.
 


Nota 3. Novos desenhos de crescimento.





quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

À espera de melhores dias

 

 Quadragésimo segundo dia

 

Nota 1. Há pouco, ouvi um homem velho, que vivia num lar, a propósito das vacinas que já todos tinham tomado. Dizia-se feliz por isso, mas muito triste quando recebia visitas da família. Então, porquê? Quiseram saber. E ele logo respondeu: - Porque não os posso abraçar.


Nota 2. Está confinada em casa, como milhares e milhares de outras pessoas. Não recebe ninguém. O filho vem só de vez em quando, desde que se separou da mulher, e nada de aproximações para manter a distância física recomendada. Os netos deixaram de vir, porque, dizem, convivem com amigos e podem espalhar bicharada. Pensa como dantes era feliz sem saber, dando e recebendo abracinhos. Agora, o corpo parece gelar-lhe de solidão. De vez em quando, fala disto ao marido, ele olha-a com apressada compaixão, porque há sempre um jogo de futebol que vai começar e que ele quer ver. Um dia, sozinha, cruzou os braços, apoiou as mãos nos ombros e aconchegou-se num abraço.


Nota 3. Num grupo do whatsapp, alguém escreveu ao saber que as notícias sobre covid-19 tinham melhorado: 'Quando puder, vou abraçar à maluca'. Logo surgiu outra mensagem ainda mais divertida: 'Comigo, muita gente vai ficar pisadinha'.

 

Nota 4. Felizes os seres vivos que se podem abraçar, ao sabor do sol, da chuva e do vento.


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

À espera de melhores dias

 

Quadragésimo primeiro dia

 

Nota 1. Há dez dias, e para variar, mudei o nome desta página e agora, passados mais dez dias desta quarentena ou confinamento, mudo-o outra vez. Mesmo variando, a palavra 'variante' não me lembra tanto as estirpes de covid-19, nem as estradas que dantes se podiam percorrer à vontade, mas que agora nem por isso. Como estaremos daqui a dez dias? Haverá mudanças? Haverá novas variantes?


Nota 2. Partilho agora o pequeno texto que escrevi em janeiro, e que foi publicado este mês na coletânea Mimos de fevereiro, com a chancela Mimos e Livros, 2021:


Segundo

Chegaste em fevereiro. Logo no primeiro dia. Logo ao início da tarde. De sol e de luz, apesar de ser fevereiro. Não havia chuva nem vento, nem o céu estava cinzento, como é comum dizer que acontece neste segundo mês do ano.

Nem sempre as verdades feitas se cumprem. Às vezes desdobram-se. Como eu me desdobrei. Como tu te desdobrarias anos mais tarde. Como já me tinha desdobrado dois anos antes noutro ser amado cuja voz eu ouvia, nesse dia, pelos corredores brancos do hospital. Ou era a saia azul que dançava em alegre e despreocupada correria?

Perguntaram-me à chegada: É o primeiro? Não, é o segundo, respondi eu. Sem saber se era menino ou menina, porque o tempo só o anunciava na hora da abertura à nova luz. Dei-te um nome que também a prenuncia(va).

E serias sempre serena e calma, firme e corajosa.

Recordo tudo ao segundo desse mês segundo, desse nascimento segundo, dessa luz segunda que se uniu à primeira, clareando ainda mais os meus caminhos, já iluminados pela bênção anterior.

É ao segundo que o círculo se desenha na memória:

            Chegaste em fevereiro. Logo no primeiro dia. Logo ao início da tarde. De sol e luz, apesar de ser fevereiro. Não havia chuva nem vento...

            ... e abrias nova janela celebrando o claro firmamento.



 Nota 3. Que novas janelas se vão abrindo, porque bem precisamos delas. Felizmente, e para variar, hoje está um bonito dia de sol.

 

 

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Notas dos dias que vivemos

 

Quadragésimo dia

 

Hoje passei toda a manhã com a minha mãe e, mais uma vez, apreciei o quadro. Ela tem vários gatos que vão nascendo, aparecendo e ficando. Os que tem agora são quase todos irmãos e a mãe também lá mora. O pai é que não deve ser o mesmo, porque, de vez em quando, a gata esquiva-se sem dizer água vai. Só não sei se vai e vem em noites de lua cheia. Ora, a minha mãe também tem um canário que foi dado por dois bisnetos no Natal. O canário é muito bonito, muito cantador, de cor rosada e vive numa gaiola que está no parapeito da janela da cozinha que dá para o pátio. Os gatos andam sempre por ali porque é também no pátio que têm o abrigo. Quando está sol - como esteve hoje - saltam para o parapeito exterior da janela, levantam ufanamente a cabeça e não arredam pé, ou melhor, as patitas, num cenário de paraíso à janela. O canário baloiça, o gato esfrega a pata no vidro, o sol vai entrando, o cantar do pássaro vai-se ouvindo...

Enquanto fazia o almoço e a minha mãe dormitava, eu ia apreciando aquela aproximação quase de primeiro namoro.  Até poderia dar-lhe um título: idílio ao sol!

Ou, como o tempo está incerto, talvez outro que o olhar e os dentes afiados do felino me sugeriram: o sol é que nos une, mas ainda bem que há o vidro da janela que nos separa!

 

 

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Notas dos dias que vivemos

 

Trigésimo nono dia

 

Nota 1. Há flores que nascem em sítios quase improváveis, mas que não deixam de ser flores. E bonitas. E quase únicas. Estas nasceram há poucos dias num parque, perto do centro de Londres.



Nota 2. 'Bela Flor'

 de Maria Gadú

'A flor que vem me lembra
A flor que é quase igual
A flor que muito pensa
A flor que fecha ao sol

Parece a mesma flor
Só muda o coração
Quando se unem são
A flor que inspirou a canção

Bela flor, pouco disse
Gémea flor, que cresceu no Rio
Bela flor, pouco disse
Gémea flor, que cresceu no Rio

Que dance a linda flor, girando por aí
Sonhando com amor, sem dor, amor de flor
Querendo a flor que é, no sonho a flor que vem
Ser duplamente flor, encanta, colore e faz bem

Bela flor, pouco disse
Gémea flor, que cresceu no Rio
Bela flor, pouco disse
Gémea flor, que cresceu no Rio

Oh, flor, se tu canta essa canção
Todo o meu medo se vai pro vão
Pra longe, longe que eu não quero ir
Mas deixe seu rastro pólen, flor
Pra eu poder te seguir

Bela flor, pouco disse
Gémea flor, que cresceu no Rio
Bela flor, pouco disse
Gémea flor, que cresceu no Rio'


domingo, 21 de fevereiro de 2021

Notas dos dias que vivemos

 

Trigésimo oitavo dia


Nota 1. Os números de infetados e de óbitos por covid-19 estão a descer. Está a valer a pena o confinamento. Felizmente.

Nota 2. O dia de ontem foi de cheias iminentes. O rio Douro afastava, pela força das águas, qualquer barco de recreio ou outras aproximações. Via-se que este rio não estava para passeios ou para brincadeiras. Nem sequer nas margens.

Nota 3. À noite, houve a primeira parte do festival da canção - aquele programa que agora pouca gente vê e que antigamente quase toda a gente via. Na altura, as opções também eram poucas. E era uma emoção a noite do festival nacional e ainda muito mais quando a canção vencedora ia à Eurovisão. E a tristeza que era ver Portugal ficar tantas vezes nos últimos lugares. O Salvador Sobral, há dois anos, e de uma vez por todas, fez esquecer muita coisa. Mas houve muitas outras músicas que ficaram.