Há bastantes anos que me abeiro com frequência de Mindelo, Vila do Conde. Gosto da praia - ainda que não vá lá tantas vezes como a família desejaria - e do sossego. Não há altifalantes. Em frente às duas esplanadas, há por vezes uma artesã a vender os seus produtos, mas sem ruídos nem chamamentos nem pregões.
O café do Fernando é o que tem mais clientes, apesar de ser o que impõe mais regras, como não juntar mesas, etc. Os empregados vestem camisolas onde se lê 'Team do Fernando' e pouco tempo devem ter para olhar o mar mesmo em frente ou as pessoas que passam em direção à praia.
Há um tema que é recorrente quando as pessoas se encontram: o tempo. Se esteve frio, se o calor foi muito, se o nevoeiro demorou a passar, se a nortada obrigou a vestir casaco...
Habituei-me a ver as mesmas pessoas, de ano para ano, apesar de não as conhecer de perto. De ano para ano, os rostos vão enrugando, algumas barrigas vão crescendo, crianças que o eram deixam de o ser e já trazem pela mão as suas crianças, etc.
E gosto de olhar o areal a perder de vista. E de sentir a brisa quase sempre fresca. E de ver as bandeiras a esvoaçar ao vento, podendo ler-se Praia acessível, embora ache que as acessibilidades deveriam melhorar.
A configuração da praia vai mudando, sobretudo no inverno. Nem sempre para melhor. As dunas, felizmente, têm vegetação mais densa porque os passadiços impedem de serem pisadas.
E há muita luz. E muito mar. E o cafezinho quase no areal. E os caminheiros rumo a Santiago de Compostela. E as crianças felizes a fazerem construções na areia, indo vezes sem conta ao mar encher os seus baldinhos de água.
E a dona do café - que já foi pensão e restaurante - para quem a praia de Mindelo é um mundo, descobrindo sempre novas formas no areal, no mar ou no céu e que, por isso, as fotografa vezes sem conta e com elas enche as paredes do seu quiosque.
Gosto muito de Mindelo, talvez por ser a praia que conheço melhor. Nem sempre acontece, mas concordo com o ditado de que mais se ama o que melhor se conhece.