Sempre gostei de coretos. Talvez por ouvir, desde muito cedo, o meu avô falar das bandas que ele apreciava e que tocavam em coretos nas festas populares. Ele usava uma expressão que acho deliciosa: tocar uma pecinha. Também o meu pai a utilizava.
Pois bem, no Queen's Park, em Londres, há um coreto e domingo passado havia uma banda a tocar. Os espectadores sentavam-se na relva, crianças corriam, algumas pessoas dançavam... Uma tarde bonita e plácida de domingo.
O maestro, ao anunciar as músicas e voltado para o público, punha as mãos à volta da boca, em modo altifalante e dizia graças. Muitas pessoas riam-se e os músicos do coreto também. Ora, o meu inglês já não é bom e como ele falava para todas as direções, só nos chegavam algumas palavras, ficando eu com curiosidade sobre a piada que ele tinha dito. O que me valia era ter a minha filha ao pé de mim para me ajudar a compreender.
Uma das coisas que o maestro disse foi que ele tinha muito ritmo, o que logo causou riso. E muito mais graças ele disse, apesar da seriedade na execução musical.
Eu interroguei-me, então, se em Portugal tantas piadas seriam ditas neste tipo de espetáculo e de forma tão descontraída.
Foi então que a minha filha disse: em Portugal, as pessoas levam-se muito a sério.
Eu dei-lhe razão.