quarta-feira, 30 de junho de 2021

Com elas, também se aprende a voar.

 

Postais e texto enviados pelo Clube das Histórias

 

'As bibliotecas são como aeroportos. São lugares de viagem. Entramos numa biblioteca como quem está a ponto de partir. E nada é pequeno quando tem uma biblioteca. O mundo inteiro pode ser convocado à força dos seus livros.

Todas as coisas do mundo podem ser chamadas a comparecer à força das palavras, para existirem diante de nós como matéria da imaginação.

As bibliotecas são do tamanho do infinito e sabem toda a maravilha.”

 

Valter Hugo Mãe





terça-feira, 29 de junho de 2021

A peça no exaustor

 

Com a casa fechada, o exaustor tinha estado parado durante longos meses. Ela premiu o botão para ver se funcionava e logo ouviu um forte ruído. Parecia que havia uma peça solta. O melhor era chamar alguém que entendesse da matéria, não sem antes experimentar outra vez. O mesmo ruído forte de peça solta. Tinha quase pavor a eletrodomésticos sem uso e com barulhos esquisitos. Ligou para o número que tinha.

Veio o técnico. Olhou, observou, desmontou uma parte mas o ruído continuava. Tem que ter paciência. O exaustor está bom. É falta de uso.

No dia seguinte, ela ligou de novo o exaustor. Outra vez a mesma peça aparentemente solta e o forte ruído. Tem de haver uma razão. O melhor é chamar outro técnico que saiba mais do assunto.

E veio. Desmontou, desaparafusou, levantou, espreitou... Não é peça solta do exaustor, não. É isto. E mostrou o esqueleto ressequido de um pássaro.

Mais valia que fosse uma peça solta, disse ela horrorizada.

Ele sorriu, com a indiferença da habituação.

 

segunda-feira, 28 de junho de 2021

Fotos

 

Conheço várias pessoas que não gostam de ver fotografias antigas. Ou por saudade de outros tempos, ou por aversão a dias vividos, ou por questões que só cada um conhece...

Quando vejo álbuns antigos, habitualmente acho que as pessoas que conheço eram mais bonitas. E mais magras. E mais ágeis. E mais risonhas. E mais felizes. E mais saudáveis.

Porém, quando vejo as fotos daqueles que amo com ar triste, não consigo demorar nelas o olhar e é grande a vontade de rasgar aquele papel grosso e, quase sempre brilhante, que gravou o momento, sem dó nem piedade, retirando-lhe o brilho da alegria.

Como se fosse possível rasgar pedaços menos felizes do passado e esquecê-los, pondo-os no contentor.

Pensando que é possível fazer a reciclagem do tempo e de muito que ele traz.  Ou já trouxe.

 

domingo, 27 de junho de 2021

Gostava de os entender. E a elas também.

 

Quando os oiço logo de manhã cedo, ou em fins de tarde perfumados, cansados e mornos, fico a ouvi-los. São tantos os pássaros. Vejo uns, oiço outros, alguns escondem-se entre a folhagem irrequieta das árvores.

Se comunicam, o que dirão eles? Exprimirão alegria. Ou tristeza. Ou nem uma coisa nem outra. Ou discutem. Ou zangam-se. Ou rejubilam. Ou namoram. Ou cantam somente porque gostam e têm voz para cantar. Ou por qualquer razão que escapa à vista e ao ouvido dos humanos.

Saltam, voam, brincam... Sempre a emitir sons. A chilrear. A gorjear. A piar. A pipilar. A trilar. A trinar.

Gostava de os entender.

Mas como será possível, se até entender as pessoas é tão difícil?!

 

 

sábado, 26 de junho de 2021

Com mar ao fundo

 

Chegou  à pequena cidade com mar ao fundo. Levaram-na lá  limpezas de antes das férias de verão. Na cidade, havia obras e as casas eram invadidas pelo pó. Tal como pelo sal nos dias invernosos com vento norte. Começaria pela varanda. Pôs água e detergente no balde. Abriu a persiana. E ainda mais um pouco para poder entrar e sair à vontade e deixar passar mais luz. As cortinas estavam num montinho para lavar e, se calhar, guardar. Até as janelas preferia libertas.

Antes de começar a limpeza, olhou para o mar, cintilante, lá ao fundo. Voltou a olhar e saiu. Como estava sozinha, não tinha que dar explicações. Desceu a rua, devagar, até ao fundo, onde se estende o mar. Quase tinha a certeza que a chamara. Só não viu se lhe acenava. Não gostava de exagerar.

 

 

sexta-feira, 25 de junho de 2021

terça-feira, 22 de junho de 2021

'Atrás da porta'

 

Não, não mantive o livro atrás da porta, nem fechado em cima de qualquer mesa. Abri-o e li-o no último fim de semana. Lê-se depressa. São 14 contos e 123 páginas, com muitos espaços de respiração.  A autora é Teolinda Gersão, portuguesa e premiada pela sua obra, nomeadamente de contista.


Quase na abertura do livro, como se fosse um azulejo sem adornos que se põe na porta de casa para o visitante saber ao que vem, pode ler-se:


Gostei logo deste início.

Alinho agora uns fios (sem querer chegar ao fim do novelo) de alguns dos meus contos preferidos:

- Um dador de esperma imagina, em diferentes momentos, que pode ser pai de muitos e muitos filhos pelo mundo (O dador).

- Um funcionário evade-se, olhando pela janela, de uma conferência chata de formação contínua. Os seus olhos poisam num lago, no qual nunca tinha reparado, onde aves poisam também (As gaivotas).

- Um homem revela-se ao psiquiatra no sentido de saber se é realmente louco (Atrás da porta).

- Um filho sai, zangado, de casa, mantendo-se ausente durante largos anos. Os pais, com a ajuda de outras pessoas da aldeia, vão visitá-lo a Lisboa, sem o avisar. Nesse dia, é festa de aniversário. As crianças abrem a porta e confundem os avós com outras pessoas de quem todos estão à espera (Visitando um filho).

- Um jovem vive em família, constituída por mulheres : mãe, irmãs, tias, avós, criadas (não gosto da palavra, mas é a palavra usada). Começa a sentir o pulsar sexual e há noites, escondidas das demais habitantes da casa, que se acendem (A terceira mão).

- Um homem vai a um almoço urgente a pedido de um filho. Para o carro e entra num café para saber que estrada seguir. Começa a conversar, a beber, vai ficando e o tempo também vai passando. E o que estava na memória também (Labirinto).


Bom dia e boas, destas ou de outras, leituras!

 

segunda-feira, 21 de junho de 2021

Ei-las, as ameixas, depois da chuva!

 






 

Na imagem anterior, as ameixas estavam bem mais tristonhas, por isso até tinham perdido um bocadinho da sua identidade. Ora, cá estão elas, no seu habitat, bem mais viçosas e alegres, refrescadas pela chuva dos últimos dias. 

 

domingo, 20 de junho de 2021

Intrusos?