Não, não mantive o livro atrás da porta, nem fechado em cima de qualquer mesa. Abri-o e li-o no último fim de semana. Lê-se depressa. São 14 contos e 123 páginas, com muitos espaços de respiração. A autora é Teolinda Gersão, portuguesa e premiada pela sua obra, nomeadamente de contista.
Quase na abertura do livro, como se fosse um azulejo sem adornos que se põe na porta de casa para o visitante saber ao que vem, pode ler-se:
Gostei logo deste início.
Alinho agora uns fios (sem querer chegar ao fim do novelo) de alguns dos meus contos preferidos:
- Um dador de esperma imagina, em diferentes momentos, que pode ser pai de muitos e muitos filhos pelo mundo (O dador).
- Um funcionário evade-se, olhando pela janela, de uma conferência chata de formação contínua. Os seus olhos poisam num lago, no qual nunca tinha reparado, onde aves poisam também (As gaivotas).
- Um homem revela-se ao psiquiatra no sentido de saber se é realmente louco (Atrás da porta).
- Um filho sai, zangado, de casa, mantendo-se ausente durante largos anos. Os pais, com a ajuda de outras pessoas da aldeia, vão visitá-lo a Lisboa, sem o avisar. Nesse dia, é festa de aniversário. As crianças abrem a porta e confundem os avós com outras pessoas de quem todos estão à espera (Visitando um filho).
- Um jovem vive em família, constituída por mulheres : mãe, irmãs, tias, avós, criadas (não gosto da palavra, mas é a palavra usada). Começa a sentir o pulsar sexual e há noites, escondidas das demais habitantes da casa, que se acendem (A terceira mão).
- Um homem vai a um almoço urgente a pedido de um filho. Para o carro e entra num café para saber que estrada seguir. Começa a conversar, a beber, vai ficando e o tempo também vai passando. E o que estava na memória também (Labirinto).
Bom dia e boas, destas ou de outras, leituras!