sexta-feira, 22 de abril de 2016
segunda-feira, 18 de abril de 2016
sábado, 16 de abril de 2016
Se fosse possível, convidava-o para almoçar!
Este é um filme de que me recordo com muita frequência. Vi-o há uns bons vinte anos na ESG, trazido por um crítico de cinema e também professor no Instituto Politécnico do Porto: Dr José Coutinho e Castro.
Através de amigos comuns, ele começou a vir à escola, periodicamente, para falar de cinema. Trazia os filmes - ainda em VHS - que conservava religiosamente. Não gostava de os emprestar nem que deles se fizesse cópia. Tinha medo que houvesse danos, o que prejudicaria a qualidade das imagens.
Os filmes que trazia eram quase sempre desconhecidos do grande público e acreditava que a educação também se faz através do cinema.
Nem sempre os filmes agradavam aos alunos - bem mais habituados a cenas barulhentas com muitos choques à mistura. Não tenho grandes ecos do efeito dessas sessões, mas bem gostaria que tivessem deixado boas memórias em muitos jovens que a elas assistiram. Estou convencida que sim.
Hoje, estando eu a fazer o almoço - perfeitamente trivial - lembrei-me deste filme que tem imagens celestiais provocadas pelo saborear dos alimentos. Mesmo pessoas de grande austeridade, que parecem renunciar aos doces prazeres da terra, não escapam às delícias da mesa quando combinadas e confecionadas na perfeição, como acontece na história.
Estou a fazer carne assada com batatas, o que exige pouco talento. Espero que os meus pais - para quem também estou a cozinhar - possam encontrar prazer na comida que neste momento preparo.Para compensar a simplicidade da minha mesa, irei ver de novo este filme e voltarei atrás, com certeza, para rever algumas imagens que mostram como quase se chega ao céu através de alimentos.
Tenho pena que o Dr José Coutinho e Castro já não esteja entre nós. Talvez o convidasse para almoçar em minha casa. E eu, que habitualmente não gosto de pedir nada em troca, poderia sugerir-lhe que trouxesse o filme com a imagem perfeita e, se possível, legendado em português.
sexta-feira, 15 de abril de 2016
Conquista
Livre não sou, que nem a própria
vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.
Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!
Miguel Torga, in Cântico do Homem
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.
Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!
Miguel Torga, in Cântico do Homem
segunda-feira, 11 de abril de 2016
Poemas do Sr Ministro
Romance de Nós
Estou à beira do mar,
estou à beira de ti.
Ardem no meu olhar
os sonhos que não vi.
Tudo em nós foi naufrágio,
não quisemos saber:
fizemos nosso adágio
do que não pôde ser.
Que resta do amor
a quem é como nós?
Envergonha-me pôr
em verso: «somos sós;
sós como amanhecer
às avessas do mundo;
sós como podem ser
as areias no fundo;
somos sós e sabê-lo
é negar o pronome
que de nós fez novelo
e por nós se consome».
Luis Filipe Castro Mendes, in
"Modos de Música"
|
Das Palavras
As
palavras mais simples
foram as que te dei; o amor não sabe outras, só estas fazem lei. As palavras de uso mais comum e vulgar são as que amor conhece. Com elas nos pensamos; é nelas que tememos desacertos, enganos; se nelas triunfamos, já delas nos perdemos. Com palavras vulgares se diz o mal de amor, seu riso, seu espelho, o que fica da dor. E todos os mistérios que se fazem promessa e se perdem nos versos e dos corpos nasceram são aqui cerimónia evidente e secreta nas mais simples palavras que conhece o poeta. Luis Filipe Castro Mendes, in
"Os
Amantes Obscuros"
|
domingo, 10 de abril de 2016
"E se fosse eu?"
Carta a uma avó refugiada
Com
certeza que esta carta não será lida pela principal destinatária, mas envio-ta,
a ti, uma avó que abraça uma neta durante uma viagem de grande dureza e
precariedade. Não sei se deva dizer viagem ou fuga; migração ou deportação.
Escolhi-te
por seres uma mulher muçulmana, de roupas compridas, casaco de malha já gasto,
lenço na cabeça a esconder-te os cabelos que imagino lisos e negros.
Desculpa
tratar-te por tu, mas também sou avó. Não te conheço bem, mas vi-te a
sair de um barco com outros refugiados de diferentes idades. Pressinto-te
corajosa porque arriscaste sair do teu país onde as armas amedrontam e o terror
caótica se agudiza e desespera. Não receaste que te tomassem por família de
terrorista e ousaste arriscar para que a vida dos que amas não continuasse
eternamente por um fio.
Fixei
a tua imagem ao lado da tua filha, segurando com forte ternura a tua neta para
que nada de mal lhe aconteça, para além de todos os males que vêm
atingindo o teu povo nos últimos tempos. Tantas vezes por ganância e fanatismo
dos poderosos.
A
tua filha transportava um saco onde imagino haver roupa, alguma comida enlatada
e medicamentos. Talvez haja alguma fotografia. Tudo essencial à vida, sem
qualquer excesso ou desperdício.
Gostava
de ter um pouco da tua coragem, procurar-te, levar-te água limpa e roupa
lavada. Poderia juntar um creme para amaciar o rosto bonito e meigo da
tua neta. Ah, e levar-lhe-ia livros de histórias para que a realidade se
tornasse mais amena e menos crua. E a imaginação não morresse como tantas
pessoas que viajam nos mesmos barcos em que passaste, com custo e a alto
preço, o Mediterrâneo. E também lápis de cor e um caderno para
desenhar imagens felizes e não apenas de negrura do triste desalento.
Não
sei o teu nome, nem tu conheces o meu, mas quero enviar-te o meu afeto e uma
firme vontade de que a minha neta e a tua possam vir a viver num mundo de paz e
liberdade.
Um
abraço
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