quinta-feira, 21 de julho de 2011

Em almoço à beira-rio


Hoje, 5ª f., estive num almoço com colegas, professores de Línguas (português, inglês, francês e espanhol). Foi ao ar livre, no jardim de uma casa, junto ao rio Douro. Estava sol e juntámo-nos à volta da mesma mesa. Todos ligados pelo trabalho na mesma escola.

Como quase sempre acontece quando nos reunimos, falámos longamente de escola. E nós, as professoras de Português que lá estávamos, convocámos de novo os exames realizados este ano, sobretudo os do 12º ano. Vieram à baila as fracas notas obtidas pela maioria dos alunos e muito do que anda à volta desse assunto:

- reduzido número de horas de aulas semanais: dois blocos de 90m, sendo a disciplina de exame que tem menos horas de lecionação;

- perguntas que exigiam respostas filosóficas;

- critérios demasiado apertados, como é o caso das respostas sobre o funcionamento da língua;

- número limitado de conteúdos contemplados no exame;

- discrepância entre corretores, como comprova a reclassificação de muitas provas. Neste caso, os alunos, ao pedir a prova, confrontaram-se com as duas classificações, estando riscada a mais alta;

- possibilidade de o acaso interferir no sucesso ou insucesso. Em alguns anos, a prova é considerada, por todos, fácil, noutros, difícil.

- dificuldade em medir o que este exame conseguiu avaliar.

De facto, os resultados dos exames podem contribuir para a satisfação pessoal dos professores ou acrescentar mais umas pedras à montanha do desalento.

A segunda fase está aí e poderá até acontecer que muitos alunos digam: que pena não ter deixado para agora! O(s) acaso(s) pode(m) interferir.

Voltando ao almoço, o convívio amigável ajuda na pretendida serenidade e naturalidade dos dias. Falámos, rimos, saboreámos petiscos, interagimos…

E cantámos também nas diferentes línguas. O sol brilhava e o rio ia passava com pequenos sinais de espuma e de vento.

E partilhámos palavras de poetas sobre o rio. Aqui deixo um desses poemas que foi apresentado num marcador.

Ser como um rio que flui

Poema de Manuel Bandeira

"Ser como um rio que flui

Silencioso no meio da noite

Não temer as trevas da noite

Se há estrelas no céu, refleti-las.

E se o céu se enche de nuvens

Como o rio, as nuvens são água;

Refleti-las também sem mágoa

Nas profundidades tranquilas".

Belas palavras, não para esquecer mágoas, mas para querer, legitimamente, encontrar outras “profundidades tranquilas”.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Tal como eu


Tenho um cão há uns 14 anos. Chama-se Dunas. É um velho Labrador. Pesado e dócil. Quando estou dentro de casa, deita-se perto de mim e põe-se a dormir profundamente. Às vezes estremece. Falo-lhe e logo sossega.

Quando vou à rua ou ao quintal, vai comigo ou espera-me, pacientemente, à porta.

Quando o vejo assim, lembro-me de quando eu era pequena. Nas tardes quentes de verão, a minha mãe ia dormir a sesta (ia descansar, como dizia e diz). Se eu precisasse de alguma coisa do quarto dela, ficava sentada à porta até que a minha mãe acordasse. Sempre a brincar, na calma silenciosa do começo da tarde.

Dizem que as pessoas se parecem quando vivem muitos anos na mesma casa. Olho para o Dunas e interrogo-me se o mesmo não se passará com os animais.

Nesses momentos, ele olha-me sem compreender. Ou compreenderá?

DG


Sobre os exames de Português – 12º ano


Neste momento, muitos professores e alunos (assim como encarregados de educação) estarão tristes com os resultados do exame de Português do 12º ano. Outros, felizmente, poderão sorrir. É certo que muitos alunos não se organizam devidamente ao longo do ano para terem sucesso nos exames. Outros, porém, trabalham no sentido de se prepararem mas podem ser surpreendidos com fatores que lhes escapam.

Na minha opinião, teriam sido benéficas reuniões para aferição de critérios, promovidas pelo GAVE. É certo que houve formação para a grande maioria dos corretores, mas os textos selecionados, para serem trabalhados nesses dois dias, vinham já do ano passado. Seria necessário que a amostra incidisse sobre respostas deste ano para que a aplicação dos critérios fosse partilhada de modo mais eficaz e que para as necessidades atuais se encontrassem soluções comuns de forma mais atempada.

Por outro lado, julgo que alguns critérios eram discutíveis. Dou o exemplo de um, comunicado por e-mail: se o aluno escrevesse mal (a propósito de uma oração) a palavra “subordinada”, ser-lhe-ia descontada toda a cotação. Acho muito importante que exijamos que os alunos escrevam corretamente, mas parece-me excessivo que um erro ortográfico, desta natureza e neste contexto, implique o desconto total da resposta, que era de meio valor.

Outros fatores poderiam ser nomeados, nomeadamente sobre questões de interpretação do poema, mas confio que o GAVE tenha em conta pareceres transmitidos pelos professores. Neste momento, as notas da primeira fase já foram publicadas. Resta a muitos alunos a repetição da prova, com as implicações que daí advêm.

Para que os resultados melhorem de forma mais sustentada, considero indispensável que seja alterada a carga horária da disciplina de Português. Dois blocos de aulas semanais são insuficientes para a lecionação de todos os conteúdos programáticos, para o trabalho de desenvolvimento da competência escrita e oral, para análise de texto, funcionamento da língua… Interrogo-me por que razão a maioria das disciplinas, no 12º ano, com ou sem exame a nível nacional, têm três blocos de aulas e Português apenas tem dois. A necessidade de tempo para o ensino/aprendizagem de muitos conteúdos tem levado a que estabelecimentos de ensino privado substituam, habilmente, as aulas de Trabalho de Projeto por apoio a disciplinas de exame. Considero urgente a reformulação da carga horária no 12º ano.

Um outro elemento que penso ser fundamental para a melhoria dos resultados é a necessidade de esforço comum para que haja um crescente rigor. Porém, este rigor não pode ser exigido apenas na correção dos exames e terá de ser tido em conta, de forma regular, nos diferentes contextos educativos e adotado por todos os seus atores. O combate ao facilitismo tem de ser travado de forma sistemática e não apenas em momentos-chave para a vida dos alunos.

Não posso também deixar de referir o facto de as provas de exame de Português, muitas vezes, contemplarem, como foi o caso deste ano, um número muito reduzido de conteúdos estudados. E pergunto: por que razão a Mensagem de Fernando Pessoa há muitos anos não é convocada para estas provas se à obra dedicamos uma boa parte de tempo?

Assim, a meu ver, são necessárias mudanças na elaboração das provas, na formulação de critérios, na execução de procedimentos no contexto familiar, escolar, sem esquecer as diretrizes do Ministério da Educação.

Não atiremos baldes de água fria. Já é grande a enxurrada.

DG

NOTA - Enviei este mesmo texto para o Terrear - Blog de Matias Alves

O Vouguinha 4

O Vouguinha 3

quinta-feira, 14 de julho de 2011

O Vouguinha 2

O Vouguinha 1


Hoje, fui, com duas amigas, fazer uma pequena viagem na linha do Vouga: o vouguinha, como algumas pessoas lhe chamam.

Saímos de Espinho por volta das nove e meia da manhã e, passadas umas duas horas, estávamos em Sernada do Vouga.

Ao longo da viagem, fomos vendo campos verdes de milho, algumas casas rente à linha, em avançado estado de degradação, longa extensão de mato e árvores a tapar o serpenteado do percurso…

Quem motivou para esse olhar, na carruagem quase vazia, foi a D. Eduarda, uma funcionária simpática e expedita que, nos apeadeiros, saía do comboio para abrir e fechar as cancelas. Para além disso, sorria, falava com sensato à vontade, comunicando bem com os passageiros. A pedido, marcou três almoços, por telefone, no café da estação. Não sem antes informar que o prato do dia era arroz de legumes e costeleta grelhada.

Em Sernada, havia calor, linhas antigas ainda ativadas, um velho comboio no centro aberto da estação, uma horta bem regadinha e verde, buganvílias frondosas, um rio com corrente fraca e interrompida, secas ervas daninhas, feijões a secar ao lado das vagens vazias, belos e antigos pinheiros mansos, algumas casas com silêncio de riqueza antiga…

E uma expressiva senhora magrinha no café da estação a dizer que espera que a linha não acabe.

Depois do almoço, deixámos o local, entrando num velho comboio onde se lê que presta serviço há 100 anos. E apetece (-me) dizer: se ainda há tantas flores frescas, muitas mais deverão florir.

DG