Já é conhecidíssimo o curto diálogo/confronto de ontem, perante as câmaras e microfones, do presidente Marcelo e o embaixador da Palestina em Portugal. O nosso presidente, no seu jeito soberano e descontraído, que o leva a dizer e a desdizer, a afirmar e a explicar, a comentar e a justificar, a acender e a apagar, disse ao embaixador da Palestina: 'Vocês é que começaram a guerra'.
Como o professor tem pensamento bem mais rápido que as selfies, beijinhos e abraços, corrigiu o 'vós' para 'alguns de vocês'. Ainda bem, mas já era demasiado tarde. O 'vós' já tinha sido dito e gravado, ofendendo os palestinianos que não se querem ver confundidos com o Hamas.
Não vou fazer de conta que comento o sucedido, porque não o sei fazer e também comentadores já os há em abundância.
Porém, essa afirmação/acusação fez-me lembrar duas coisas (pareço o Luís Marques Mendes que divide quase sempre em três pontos o seu ponto de vista).
Primeira: quando eu era pequena, jogávamos à macaca no largo, saltávamos à corda, etc. e havia muitas vezes quem fizesse batota e por isso guerreávamos. Ora, às vezes, uma das miúdas, com ares de superioridade, metendo todas no mesmo saco, virava-se para um determinado grupo e dizia como se lhes desse uma lição: 'vocês é que começaram'. Resultado: quem tinha errado ficava-se a rir; quem sentia que a acusação era injusta zangava-se ou ficava com mais um dia estragado.
Segunda: Havia um pai com vários filhos que, de uma maneira ou de outra, erravam, como toda a gente. Porém, havia uns muito violentos que matavam e fomentavam guerras. Ora, o pai, que tinha pouco tempo e pouca paciência, quando aparecia em público, aproveitava para os repreender e culpar. Assim, seria ainda mais amado e uma mais-valia para todos. Porém, os filhos mais violentos e culpados estavam sempre ausentes; presentes estavam os mais pacíficos e eram eles que ouviam o pai a criticar e a generalizar: 'Vocês é que começaram a guerra' e virava as costas, não querendo ver o muro que, entre todos, crescia ainda mais.
Bom fim de semana. E que as notícias tragam PAZ.
Por vezes o sr presidente Marcelo por falar demais, erra.
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Feliz fim de semana.
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Poema: “ Malditas guerras “
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Todos erramos, muitas vezes sem nos darmos conta, tanto por excesso, como por defeito.
EliminarAi, equilíbrio, como és difícil!
Bom domingo, amigo Ricardo.
Seja 'vós' seja 'vocês' (e o registo seria já bem diferente), com 'alguns' faz-se a diferença. Esta tendência de generalizar o que não é generalizável é a contenção necessária (linguística, no caso, e de identidade, na representação dos que cabem no quantificador) que o Senhor Presidente não teve no início e que tanto sublinhou no final. Também caiu num radicalismo que, não tendo o efeito de outros radicalismos, não ficou bem, mas que foi revisto. Lá vem a intencionalidade, ao de cima. Afinal o vós / vocês não é universal no dito; é apenas existencial na intenção.
ResponderEliminarEntre o dito e o não dito, venha a retórica explicar mais de nove mil mortes civis em menos de um mês! Um absurdo! Já o é para a Rússia - Ucrânia em cerca de dois anos, que dizer para Israel - Hamas! E saber que há outras guerras de que se não fala!
Só me apetece lembrar Vieira e o abraço das religiões, ou o Papa Francisco e o "Todos, todos, todos"!
O pessoal não lê nem ouve (pronto... só alguns). Que cegueira!
https://carruagem23.blogspot.com/2023/10/imperios-de-guerra-que-nao-sao-o-quinto.html
Um bom fim de semana e um abracinho.
Obrigada, querido amigo Vítor, pelo comentário.
ResponderEliminarDe facto, dizemos tantas vezes 'vós', 'eles', etc., generalizando. É como dizer 'Os portugueses são assim ou assado', como se todos pensassem e agissem de igual modo.
E a diferença entre o 'vós' e o 'vocês' também tem muito que se lhe diga, mas não vou por aí, porque essa praia é tua. Se eu mergulhasse nessas águas, afundava-me de certeza!
Referes o impensável número de mortes das conhecidas guerras atuais que as notícias mostram, avisando até que as imagens podem chocar. Custa-me ver tanto horror, sobretudo de crianças encarceradas no desespero.
Se as leituras e atenção aos outros não fossem tão restritas, o mundo seria melhor com certeza. Haja esperança que os livros, outras formas de arte, palavras de figuras como o Papa Francisco vão merecendo mais atenção para que esta 'cegueira' tão assassina abrande.
Vítor, desejo-te uma boa tarde de domingo, perto ou mais longe da maresia, e aqui vai outro abracinho.