MIMOS DE JUNHO foi o último livro da coleção MIMOS DE..., da Mimos e Livros. É uma coletânea que vai contemplando todos os meses e em que sempre tenho participado.
Desta vez, o tema era junho e dediquei o texto à minha irmã. Possa ela sorrir.
A minha irmã
Nasceu quando junho se abria.
Costumávamos trocar presentes nos aniversários, frequentemente livros. Oferecia-me quase sempre um de que tinha gostado, receando, porém, que eu não apreciasse - parda e persistente presença do fantasma do desamor.
Lia muito. Alimentava por si boa cultura literária, com alicerces nas estantes romanescas do nosso pai.
Como então era comum, o destino da maioria das raparigas seria tratar do marido, da casa e dos filhos. Contudo, livros, filmes, media que, ao longo da vida, selecionava criteriosamente, revelavam outras dimensões da vida.
O que mais a desassossegava era o medo de perder ou ver sofrer as pessoas que mais amava.
A leitura e a arte eram refúgio para muitas inquietações. E as poucas viagens possíveis. Paris representava, ainda que breves, a felicidade e a perfeição.
Também bordava sobre o linho, com cores e linhas sempre organizadas, como toda a casa.
Recordo-lhe a voz frágil e o cabelo encaracolado - grisalho, quando já muito doente, retendo brilho e beleza.
A minha irmã faz-me falta. Pela proximidade de idades e de visão do mundo.
Como lamento não termos trocado mais felizes e confiantes abraços - a que não fomos habituadas. O tempo não semeava afetos. Nem a coragem de os cultivar.
Junho floresce e quero sorrir, naturalmente, de irmã para irmã. Estou certa de que vai ver e sorrir também.
Como se nos oferecêssemos um livro bom e houvesse futuro.
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