Obrigada, Idalina, pela partilha de mais uma leitura. Com este excerto, fiquei com vontade de ler o seu autor - Leonardo Padura. Gosto quando os escritores falam dos lugares onde vivem, por onde passam ou já passaram. É como se lá fôssemos ou lá voltássemos. Ler também pode ser uma boa viagem. Como parece ter sido esta viagem a Paris.
“Paris é um mundo, e as recordações de cada pessoa que lá viveu são diferentes das recordações de qualquer outra… E isso é bem verdade, embora tenha sido Hemingway a dizê-lo, ele que foi o escritor mais ególatra e narcisista do século. A minha recordação de Paris é como uma nostalgia azul da qual, em vinte anos, não fui capaz de me libertar. Porque, quando cheguei a Paris, naquele mês de abril de 1969, já tinha despontado uma primavera tão bela que doía e dava vontade de fazer alguma coisa para ser mais feliz, se é que a felicidade existe, para ser mais inteligente e abarcar tudo, conhecer tudo, ou para ser mais livre, se é que isso também existia, existiria ou existiu alguma vez. E lembro-me de que senti a magia de um sol carinhoso, de veludo, banhando os Campos Elísios, os grandes palácios napoleónicos, a frivolidade dos cafés, e compreendi melhor o que acontecera um ano antes. Ainda sinto como uma carícia na pele a luz da tarde contra a rosácea frontal de Notre Dame, o rumor histórico e escuro do Sena por alturas da Cité, e oiço aquele tocador de realejo diante do Louvre, fazendo dançar o seu macaquinho africano ao som de uma valsa vienense. Também me lembro daquele concerto dos Rolling Stones, quando pretendiam ser mais rebeldes do que os Beatles, e onde os pude ver a duzentos metros de distância, sob o céu frio da primavera de Paris, entre os gritos de adoração daquelas loirinhas francesas, livres, filhas abortadas e mães recém-paridas de uma revolução que poderia ter sido e não foi, embora depois daquele maio o mundo nunca mais tenha sido o mesmo, porque afinal se tinha feito a revolução: a revolução dos costumes e da moral, a revolução permanente do século vinte que Liev Davidovitch Bronstein, aliás, Leon Trotsky, jamais imaginara.”
Leonardo Padura, Quarteto de Havana, p. 44
Leonardo Padura nasceu em Cuba em 1955 |
O seu chão de castanhas é lindo, Maria.
ResponderEliminarO escritor, pelo excerto, parece de qualidade. E como o Paris dele é absurdamente diverso do meu. Bom, a rosácea de Notre Dâme e o Sena são os mesmos, ainda que os colorisse de outra forma. Hemingway bem o sabia.
Obrigada, Bea, também gostei deste chão. Olhei para ele e tentei logo 'agarrá-lo', quando fui a esta casa que olha sempre para o rio.
ResponderEliminarPenso que Leonardo Padura terá muito interesse. Também confio por inteiro nesta minha amiga, que é uma fervorosa e criteriosa leitora.
Eu pintaria Paris de cores mais comuns, mas sem esquecer a catedral e o Sena, as pontes e os bouquinistes, os cafés envidraçados e tantos e bons etecetras.
Uma tarde de domingo com cores bonitas.
Levo a sugestão! Bj
ResponderEliminarTambém a vou aproveitar. É pena o tempo tornar-se curto.
ResponderEliminarUm beijinho, Gracinha