Retrato do artista quando coisa
A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito.
Não aguento ser apenas um sujeito que abre
portas, que puxa
válvulas, que olha o
relógio, que compra pão
às 6 da tarde, que vai
lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai. Mas eu
preciso ser Outros.
Eu penso
renovar o homem
usando borboletas.
A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito.
Não aguento ser apenas um sujeito que abre
portas, que puxa
válvulas, que olha o
relógio, que compra pão
às 6 da tarde, que vai
lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai. Mas eu
preciso ser Outros.
Eu penso
renovar o homem
usando borboletas.
Manoel de Barros
No
descomeço era o verbo
Só
depois é que veio o delírio do verbo
O
delírio do verbo estava no começo, lá onde a
criança
diz: Eu escuto a cor dos passarinhos.
A
criança não sabe que o verbo escutar não funciona
para
cor, mas para som.
Então
se a criança muda a função de um verbo, ele
delira.
E
pois.
Em
poesia que é voz de poeta, que é voz de fazer
nascimentos
–
O verbo
tem de pegar delírio.
Manoel de Barros
Manoel de Barros nasceu a 19/12/1916 e morreu a 14/11/2014, com quase 98 anos.
Comunicado pela livraria Poetria
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