4 – Interrogações
Domingos tinha tido uma noite
agitada. A ausência tão longa do bichano tinha-o perturbado. Ter andado à
procura dele como de agulha em palheiro ainda mais mexera com ele. Estaria a
ficar louco ou senil? Estaria o gato na varanda sem ninguém se aperceber da sua
presença? Ou seria um grande impostor e dissimulado?
De facto, Domingos concluía que quem
vive momentos felizes é atingido de cegueira e de surdez pelo que se passa à
sua volta, porque, no momento, muito do que se passa não é essencial para quem
está a viver a história. Foi, talvez, o que aconteceu. Enquanto, na rua, o
procurava, o gato estaria a espreitar da varanda. Bicho ingrato. Por que não
saltara?
Com estes pensamentos, levantou-se
cedo. Não conseguia dormir. Veio à varanda e viu que a luz da casa de Mira Flor
continuava acesa. Não a teria apagado durante a noite? Ter-se-ia sentido mal? O
melhor seria telefonar-lhe. Não queria ir lá para não invadir a sua privacidade
de forma repentina.
Talvez por se confirmar a ideia de
que nada acontece por acaso, quando Domingos se preparava para ligar a Flor, o
telefone tocou. Era ela.
(Continua, desta vez, com algumas
justificações para a luz acesa, em casa de Flor, mais tempo do que habitualmente).
Intrusas, ou talvez não, as imagens anteriores (do Mindelo) sugerem um subtítulo para esta história: "O entardecer da vida, à(s) varanda(s) do Porto Histórico".
ResponderEliminarBjs
A.V.
Bonita a ligação que fazes. Obrigada!
ResponderEliminarUm beijinho
M.