2 – Na varanda - com a porta aberta de par em par
Domingos andava radiante. Encontrava-se com Flor todos os
dias. Alguns estendiam-se até à passagem para um outro. Não queria, porém, sair
de casa de Flor mais tarde do que a meia-noite, porque poderia haver pessoas a
espreitar à janela para espantar solitária insónia. Estenderiam demasiado o
olhar e as congeminações. A vida era sua até esta maravilha ter ponto final.
Domingos estava apaixonado por Mira Flor. Numa das
últimas tardes, sentaram-se junto à varanda. Abriram a porta de par em par,
voltando-se para a luz errante do rio. Domingos perguntou a Flor se podia pôr
uma música de Rui Veloso. “Claro, Domingos, sabes que gosto muito das músicas
dele e das letras de Carlos Tê”. “Pode ser Porto sentido, Flor?” Sim,
que melhor escolha poderia haver num fim de tarde sentidamente calmo e
tranquilo?
Antes de ouvirem a música, Domingos levantou-se e foi à
cozinha. Chegou com dois copos de vinho branco bem fresco. “Bonitos copos”,
disse Flor. “Vêm do casamento da minha mãe”, respondeu Domingos, com um sorriso
meigo de quem aprendeu a acarinhar pessoas e coisas simples mas importantes da
vida.
Brindaram. Domingos, aproximando-se ainda mais de Flor,
exclamou: “Sou tão feliz, Flor”. Ela respondeu com um sorriso e com um beijo.
Há muitos anos que não faziam tal confissão.
O gato, esse tinha desaparecido durante toda a tarde e, à
noite, ainda não tinha regressado.
(Continua, possivelmente noutro lugar, mas sempre com
Domingos e Flor por perto. Não sei se o gato também).
Sem comentários:
Enviar um comentário